Caminhava ao ar livre, fazendo o trajeto entre o restaurante e o Centro Clínico da PUCRS, onde tenho consultório, junto com um dos membros da nossa mesa reservada, a mesa redonda nesse restaurante em que nosso grupo de médicos, dos quais geralmente sou o mais novo, almoça quase diariamente, e conversávamos.
O assunto começara ainda durante o almoço, quando ele, do alto dos seus oitenta e cinco anos, em meio à conversa, nos disse com toda a autoridade que sua idade e notório saber permitem, que chegara um momento da vida em que era (éramos) comandados sem piedade por ela. Ela e seus caprichos.
A próstata.
Levantara e fora ao banheiro.
Seguimos o almoço e, na saída, fomos ele e eu conversando em direção ao hospital, e o assunto retornou. Dizia ele que envelhecer era complicado, mesmo que concordássemos que até hoje ninguém voltara para nos mostrar que a outra opção (não envelhecer) era melhor. Queixou-se de que sempre havia algum tipo de dor (no que me identifiquei) a incomodar, e que as limitações surgiam.
É claro que limitações, principalmente físicas, surgem à medida que o tempo passa, e somos obrigados (não temos outra opção) a aceitá-las. E não é fácil se adaptar às mudanças, à nova condição. Mas, de novo, não temos outra opção. Quanto mais rápido as aceitarmos melhor. Também é perfeitamente compreensível que – por nossa mente ainda estar ativa – tenhamos algum grau de frustração pelo corpo não mais acompanhar a mente.
Podemos até nos identificar como jovens, e eu – mesmo tendo como objetivo ser um ‘velho ranzinza’ – ainda me sinto assim, quase um guri, como quando me chamavam de Marcelinho. O problema é que os joelhos, a coluna e até o ombro estão ali para me (nos) lembrar de que não é bem assim...
Um dia depois do outro, uma dor após a outra.
Tentando manter o bom humor.
Até.