(Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Quatro Dias)
A vida segue seu curso.
Apesar de estar de certa forma em suspenso, a vida segue quase que normalmente, o que é bom. Por outro lado, é bem ruim, e eu explico para você, leitor dessa Sopa semanal e com quem eu certamente não encontro pessoalmente há meses, em meio a essa pandemia que vivemos há mais de meio ano.
Digo que a vida segue quase normal porque continuo trabalhando tanto presencialmente como remotamente. O consultório, a Universidade (desde o final de agosto quando retornei formalmente ao mundo acadêmico), e o hospital requerem minha presença, para orientar os alunos nos atendimentos e para eu mesmo atender pacientes. Além disso, as reuniões rotineiras de discussão de publicações científicas e de casos clínicos estão sendo realizadas de forma remota, sempre no final do dia. De certa forma, os dias também foram alongados.
É claro que o ritmo de trabalho não está igual a antes, porque os horários de consultório foram reduzidos para não causar aglomerações lá, e por não estarmos atendendo em dois colegas nos mesmos turnos. O que – se financeiramente não é nada bom, aliás, é quase uma tragédia – em termos de qualidade de vida é ótimo. Esse tempo a menos de disponibilidade de atender consultório tem servido para estudar bem mais que o usual, e de forma natural, tranquila. E seguir com a atividade física de maneira regular, o que só a chuva dos finais de semana tem atrapalhado.
Poderia seguir nesse ritmo por muito mais tempo, devo confessar, mas sei que em breve o volume de trabalho deve aumentar novamente, e muito. O que vai ser muito bom.
O que – admito – já cansou nessa pandemia é a questão do distanciamento.
E não falo aqui dos cuidados que temos que ter em nosso dia-a-dia, como usar máscaras (não me importo) ou lavagem dedicada de mãos (já fazia). Falo da impossibilidade da convivência social, com família e amigos. Falo da impossibilidade teórica atual (não definitiva) dos encontros, dos churrascos, dos momentos de descontração leves, despreocupados. Dos planos, muito mais que das viagens (que, sim, fazem falta).
Essa limitação me incomoda, desde o início da pandemia, e a intensidade desse sentimento não mudou, e sei que já escrevi sobre isso.
Ou seja, a intensidade não aumentou, mas também não aliviou.
O que tem aumentado mesmo é a insatisfação com as redes sociais, que – mesmo eu sabendo que não são um retrato da vida real, que são apenas a manifestação da bolha em que vivemos – estão cada dia mais chatas. Continuo as utilizando para o que me propus desde o início: encontrar pessoas, relembrar histórias, compartilhar fotos que me agradam.
De resto, tento desconsiderar.
Até.
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