domingo, janeiro 24, 2021

A Sopa

(Crônicas de uma Pandemia – Trezentos e Dezesseis Dias)

 

Um texto antigo (para o período de férias) dos tempos do meu “exílio” canadense...

 

Falando em envelhecer ou, melhor, na passagem do tempo, esses dias estava pensando a respeito de conversas que nós, exilados por qualquer razão e que um dia vamos voltar, volta e meia temos. Numa delas, no final do ano passado, conversávamos sobre como era se integrar ao país, as diferenças que notávamos entre o nosso lugar de origem e onde estamos agora. Até que alguém falou que não há nada como o lugar de onde viemos.

 

Claro que não há, fiquei pensando.


É até injusto com o novo país ou nova cidade comparar com o lugar onde nos criamos. Por mais defeitos que tenha, no lugar de onde viemos é que estão as nossas referências, as nossas histórias. Como gostar mais de um lugar onde estou há um ano e meio quando comparado com outro em que vivi por trinta anos e, mais importante, foi onde cresci?

 

Evidentemente que é possível ir embora e mudar-se de “corpo e alma” para um outro lugar. Algumas vezes voluntariamente e outras por circunstâncias. Mas ainda assim é difícil comparar. A mesma coisa acontece com os amigos.

 

Percebi uma coisa, também por esses dias: é cada vez mais improvável, e em pouco tempo será impossível, conhecer novas pessoas, fazer novos amigos, que o serão pela maior parte da minha vida. Se levarmos em conta a expectativa de vida média do brasileiro, que é de setenta anos, esse é o último ano em que posso conhecer pessoas que poderão se tornar minhas amigas e assim ser por metade mais um dos anos que durou a minha vida. Isso se eu chegar aos setenta anos.

 

Tudo isso para dizer valorizo muito os amigos que já o são pela maior parte da minha vida. Porque - se já temos mais de vinte anos de amizade - é sinal de que vamos continuar assim por, no mínimo, mais vinte. O que quer dizer muito sobre nós.

 

E que não somos mais crianças.

 

Até. 

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