domingo, janeiro 23, 2005

A Sopa 04/27

Os dias de exílio têm sido propícios para pensar a vida.

Não é sempre que temos esta oportunidade, de – sem interromper as atividades do dia a dia – parar e pensar sobre questões que normalmente não pensamos, relacionadas aos caminhos que temos percorrido, com quem os temos percorrido e, talvez mais importante, onde esses mesmo caminhos nos levarão. Os primeiros meses aqui foram dias de silêncio e circunspecção, de resolução de pendências não relacionadas a minha estada aqui, e – por que não dizer – de encerramento de uma fase. Agora o enfoque mudou. Mas não só enfoque.

Os silêncios não são mais os mesmos, diminuiram em frequência, com o advento da televisão que comprei logo que a Jacque chegou aqui para me visitar. Se perdi em silêncio, por outro lado me sinto progressivamente mais confortável em casa, ainda mais nestes dias de frio intenso, vento forte e neve batendo forte na cara, ou no espaço do rosto que fica descoberto, mesmo com todas as proteções possíveis.

Mas eu falava sobre pensar (ou repensar) a vida.

Ao ler os meus escritos antigos – boa parte de qualidade e interesse literário nulos – estou podendo revisar e relembrar (seu único mérito, registro da minha história pessoal) o que eu esperava para a minha vida há mais de 12 anos atrás. Ansiedades, dúvidas, antes ainda de terminar a faculdade.

Fico tranqüilo em saber que – em termos gerais – ainda penso de forma parecida, ou seja, a linha geral é a que eu imaginava a mais adequada. Obviamente que eu não imaginava as voltas que a vida daria – ninguém pode saber, eu sei – e onde eu pararia. Valeu à pena?

Sempre vale.

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Esse foi um final de semana de muita leitura. Atenta, obcecada até. Para não deixar passar nada, nenhuma vírgula, crase, pronome. E ainda entender o que lia… Mas foi bom, gosto disso, ainda mais quando o que estou lendo é interessante.

Ainda sobre o assunto, devo confessar que sou um entusiasta das vírgulas. Como vírgulas são importantes! São elas que dão cadência ao texto, assim como sentido ao que está escrito. Há um tempo atrás, falei sobre minha fascinção com os parênteses. Hoje, declaro meu amor pelas vírgulas.

Lembro, ainda na faculdade de medicina, assistir aulas e anotar poucas coisas, esquematicamente. E tinham as colegas que gravavam as aulas. No início, até fazia cópias destas transcrições para estudar. Mas não conseguia: acabava corrigindo o português escrito e acabava desistindo de estudar. É o que digo, são as vírgulas que nos indicam o momento de respirar durante a leitura, dão toque sutis ao que está escrito. E não só as vírgulas, pontos são também importantes.

Escrever bem é uma arte, todos sabemos. Mas, além de inspiração, requer muito esforço, muita transpiração. E conteúdo.

É o que tento fazer sempre.

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