quinta-feira, outubro 27, 2005

Conversas

Sou meio antipático, eu sei.

Não, não é verdade. Eu me acho bem legal, mas isso não vem ao caso. O que quero dizer é que nem sempre eu fico conversando assim, à toa, com as pessoas. Veja o caso do meu cabelo: eu corto o cabelo, em Porto Alegre, no mesmo lugar e com a mesma pessoa há mais de dez anos. Até aí tudo bem. Acontece que um dia a Jacque foi cortar o cabelo com ele e, na volta me perguntou alguma coisa sobre o fato de ele ter tido um infarto.

Levantei a sobrancelha esquerda levemente, assumindo uma expressão meio curiosa e meio intrigado: “Que infarto?”, perguntei. E ela me contou não só sobre o infarto mas também sobre toda a vida dele, e percebeu que eu, em dez anos cortando o cabelo uma vez por mês, conhecia ele menos que ela.

Mulheres, você pode estar pensando, e tem razão. Mulheres são assim, sei lá, comunicativas. Ou sou eu que sou muito na minha. Mas acho que estou mudando.

Notei isso por causa das corridas de táxi entre o aerporto e aqui em casa, em Toronto. Não que eu faça isso assim toda hora, ir até o aeroporto e pegar um táxi de volta só para bater um papo com um taxista. Foram três vezes em que estava chegando de viagem e mais uma hoje.

Passei o dia hoje no Hotel Sheraton aeroporto numa conferência. Muito interessante, aliás, mas também não interessa. O fato é que cheguei às 7h15 da manhã e fui embora às 20h. Como estava cansado, e a organização do evento ia reembolsar o valor, voltei de táxi. Claro que conversando.

Primeiro, tive que ensinar o caminho, afinal o motorista estava só há duas semanas no emprego. Perguntou de onde eu era e, ao ouvir que eu era do Brasil, disse que gostava muito do Brasil, tinha baixado muitas músicas brasileiras no seu computador.Falou de um filme antigo que se passava no Rio de Janeiro, ‘Blame it, Rio’, ou algo assim, que inclusive eu tinha visto, acho que com o Micheal Caine, em que dois amigos viajam com suas filhas jovens para o Rio e durante a viagem uma das filhas se apaixona pelo pai da outra. Comentei que o Rio já não era aquele do filme, e ele disse que sabia.

Contou que era da Romênia, e que com a queda do regime comunista há 14 anos tinha fugido para a Suécia onde não o aceitaram como refugiado. Tentou o Canadá, que acreditou em sua história, depois de uma “polida” na mesma. Sua maior conquista na vida? Os dois filhos que terminaram a universidade aqui.

Perguntou de mim, por que eu iria voltar.

Disse que ia voltar porque, apesar de ser bom morar aqui, o meu lugar é no Brasil, onde está a minha esposa. Perguntou se ela confiava em mim aqui por dois anos. Quando eu disse que sim, e era mútuo o sentimento, concordou comigo.

Confiança é base de tudo. Sem confiança não há casamento.

Sabem tudo esses taxistas…

Até.