quinta-feira, março 27, 2008

Quase vítima

Ou quase assalto, como preferirem.

Parece ser inevitável, num país como o Brasil, sermos vítimas da violência urbana. Todos já passaram por isso ou ao menos conhecem alguém que já passou. Eu nunca tinha passado por isso.

Um incidente, há quase quatro anos, e tive o carro furtado. Estacionei em frente à casa do Paulo e da Karina e, na hora de ir embora, o carro não estava mais lá. Polícia, seguro, nunca encontraram o carro. Mas não me considerei vítima, porque o sumiço do carro e o posterior pagamento do seguro vieram bem a calhar.

Porque falta um mês para eu ir para o Canadá e estava querendo vender o carro roubado. Com o pagamento do seguro, não precisei vendê-lo e ainda o valor foi maior do que eu ganharia vendendo. Foi uma situação onde todos ganharam. O ladrão ficou com o carro e eu o tranformei em dinheiro. Tudo certo.

Após isso, Canadá por dois anos e volta ao Brasil.

Voltar a morar no Brasil reavivaram certos "cuidados" que não eram necessários em Toronto, em termos de bens pessoais. Acontece que não podemos baixar a guarda nunca, para não termos problemas.

Só que eu baixei.

Estava atendendo em uma clínica no centro de Porto Alegre, onde trabalho há mais de ano, e - pela primeira vez - não guardei a minha pasta de trabalho (onde estão minha carteira, palmtop, óculos escuros e iPod) no armário em que sempre guardo, deixando-a sobre um balcão ao lado da minha mesa de trabalho. Em determinado momento da tarde de quarta-feira (ontem), saí da sala para chamar um paciente e deixei a porta aberta (em frente a um elevador) com a pasta aberta dando sopa.

Não demorei mais de dois minutos.

Quando voltei para a sala, havia um cidadão sainda da mesma e colocando a minha carteira para dentro da calça. Foi surreal, a fração de segundo em que vi o cara, pensei que havia esquecido do paciente na sala, não, não tinha paciente na sala, "ei, é a minha carteira que ele guardou dentro da calça"...

Bloqueei a saída da sala.

Olhei para ele e disse "Larga de volta!". Ele perguntou o quê. Insisti:

- A minha carteira, põe de volta na mesa!

Tirou a carteira do bolso e colocou sobre a minha pasta. Passei por ele e conferi se estavam todas as minhas coisas. Num segundo, vi que estava. Enquanto isso, ele se dirigia ao elevador.

Saí da minha sala e interceptei o ladrão. Ele disse que ia passar. Na sala de espera, falei para as funcionárias chamarem a segurança porque ele estava tentando me assaltar. Ele foi em direção à escada e bloqueei a passagem novamente.

Ficamos num impasse: ele queria passar e eu não deixando, ganhando tempo para o segurança chegar. Ele aumentou a voz, pedindo passagem (todos os pacientes na sala de espera só olhando). Neguei novamente. Fez menção de pegar um extintor de incêndio. Ameacei partir para cima dele. Recuou.

Aumentou a voz e disse que eu não ia impedi-lo de sair.

Olhei para ele, menor que eu e com hálito de álcool.

- Tem certeza que vai encarar?

Recuou, e chegou o segurança, que o levou para fora da clínica e disse para nunca mais aparecer.

A última coisa que pensei sobre isso foi que - para minha sorte - era um ladrãozinho de oportunidade, a espécie mais baixa na escala de valores dos bandidos, inofensivo, praticamente um parasita.

E que não posso baixar a guarda. Nunca.

Até.

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