A Viagem (17)
Circulando por Cannes, em meio a um festival de televisão, é óbvio que encontraríamos lindas modelos desfilando em frente ao Palácio dos Festivais. E é óbvio que não teriam nada a ver comigo. Porém...
Volta e meia, nas mais diversas situações – principalmente nas que potencialmente podem se transformar em um chamado “mico” – a Jacque “me desafia” a ir ao encontro desse possíveis “micos potenciais”, como uma vez em Viena em que pediu para eu sentar num desses trenzinhos infantis na rua e tirar um foto. Claro que fiz. Estávamos nós, então, em Cannes, e passou por nós um grupo de cinco ou seis belas modelos. Ato contínuo, ela disse para eu ir até elas e pedir para tirar uma foto com o grupo. Fui, e tiramos a foto, nada demais, na verdade.
Antes de seguir em frente, caminhamos pelas ruas de Cannes por mais algum tempo, e ainda parando para um sorvete numa Häagen Daz. Era chegada a hora de deixar para trás a Côte d’Azur e seguir para a Provence. Primeira parada: Aix-em-Provence, distante 148km de Cannes a apenas 30km ao norte de Marseille.
Fundada no ano 123 antes de Cristo, se tornou território francês em 1487 (junto com toda a Provence). Tem uma população de cerca de 140.000 habitantes e uma média de trezentos dias de sol por ano. Entre seus ilustres filhos está o pintor Paul Cézanne, pintor pós-impressionista que viveu e pintou Aix e seus arredores. De Paul Cézanne é dito que fez a ponte, a transição, entre o impressionismo do século XIX e o cubismo do início do século XX. Picasso e Matisse teriam afirmado que Cézanne era “o pai de todos nós”.
A viagem de Cannes até Aix foi tranqüila, sem problemas. Por outro lado, da chegada à Aix e da procura por hotel não se pode dizer o mesmo...
Sem mapa mais preciso da cidade, demoramos um pouco a encontrar o centro da cidade. Seguindo indicações, encontramos a Rotonde, uma rótula com uma fonte que fica na junção do Boulevard de la Republique, com as Avenues Victor Hugo e des Belges e o Cours Mirabeau, o “centro” da cidade. Contudo, isso não significou nada, porque não havia indicações de hotel, nem lugar para parar o carro. Com o carro em movimento, encontramos uma indicação (placa) de hotel e fomos perguntar.
O detalhe é que, para chegar onde queríamos, em sendo as ruas de mão única e formando um círculo (ring) ao redor do centro, tínhamos que dar a volta em todo o centro para voltar ao hotel. Fizemos isso uma vez, duas, três, e chegamos ao primeiro hotel, tipo quatro estrelas, provavelmente bem mais caro do que gostaríamos de pagar. Lotado.
Mais voltas em torno do ring, e a Karina começando a nos chamar de circular Aix-en-Provence. Segundo hotel, um pouco mais afastado: lotado. Depois do terceiro hotel lotado, pedi uma sugestão ao recepcionista de acabara de me negar vagas, e ele sugeriu um da rede Kyriad, bem mais afastado do centro. Era pegar ou largar. Pegamos, mas não assim tão fácil. Foi muito difícil de encontrar o dito hotel (mais voltas no ring, risadas com o circular Aix e, a cada vez que passávamos por um determinado ponto do trajeto, em que havia uma loja que vendia produtos da Apple, eu gritava ‘baaah, loja da Apple’). Quando encontramos, uma grata surpresa: era um Kyriad Prestige, de tipo executivo, com diária em conta e acomodação superior. Decidimos até ficar duas noites ali, mas – para nossa decepção – estaria lotado no noite seguinte.
Após nos instalarmos, voltamos para o centro, a Rotonda, para procurar um lugar para jantar. Foi então que nos deparamos com uma dificuldade que nos acompanharia até o final e que – estranhamente – não havia nos incomodado antes: estacionamento. Em nenhum momento da viagem até ali, tínhamos tido problemas para estacionar. Nada, zero. Justamente naquela noite, quando fomos ao centro de Aix para jantar, o drama se revelou.
A cidade estava cheia, todas as vagas disponíveis nas ruas pareciam tomadas. Optamos por um estacionamento público, subterrâneo. Para nossa surpresa, o carro não entrava. A altura da van era maior que a altura permitida. Iríamos entalar se tentássemos entrar. Por isso, ficamos cerca de quarenta minutos circulando até conseguir estacionar. Com fome, decidimos jantar num dos restaurantes da Cours Mirabeau. Antes, contudo, passamos em frente e eu entrei Hotel des Augustines, antigo convento do século XII transformado em hotel. Lá perguntei sobre vagas (lotado, claro) e do por quê da lotação da cidade. O recepcionista me explicou que era devido à Copa do Mundo de Rugby, que se realizava, e que pela proximidade de Marseille, uma das sedes, a cidade estava cheia.
Como assim, se a França tinha sido campeã na noite em que estávamos em Annecy, nossa primeira da viagem? Havíamos nos enganado? Quando comentei isso com o grupo, houve incredulidade geral. Eu devia estar enganado, não entendera o que ele me dissera. Pior, eu devia estar louco. De qualquer forma, descobriríamos a verdade em breve.
Alheios à essa dúvida, jantamos – ainda celebrando o aniversário da Jacque – e tomamos espumante. Após a janta, fotos e volta para dormir.
Claro que nos perdemos antes de chegar ao hotel
Até.
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