domingo, julho 05, 2020

A Sopa

(Crônicas de uma Pandemia – Centésimo Décimo Segundo Dia)


Não sou terraplanista.

Aliás, acreditar que a terra é plana é a coisa mais estúpida que consigo conceber alguém acreditar. No momento, honesta e sinceramente, não consigo vislumbrar crença mais ridícula.

Se você me disser que acredita que o mundo na verdade é governado por um elefante rosa voador, eu vou respeitar sua crença. Seja ela essa ou qualquer outra. Se você disser que é católico, budista, muçulmano, umbandista, mórmon, da igreja universal do reino de Deus, da Floco de Neve ou qualquer outra religião, te respeitarei, na boa. Não me envolvo com fé. Assim como você tem o direito de ser o que quiser na vida. É teu direito, estamos na boa. Cada um é senhor do seu destino.

Mas acreditar que a terra é plana, não. Não espere minha compreensão ou respeito. Não tenho paciência para isso.

É mais ou menos o caso dos anti-vacinas.

Não merecem um comentário sequer.

Ia dizer que era parecido com o caso do arroz de leite.

Mas uma noite, há pouco mais de dois anos, mudou minha forma de ver o mundo (o arroz de leite, na verdade).

Era fevereiro, e estávamos em Portugal. Alentejo, a cidade de Évora em especial. Havíamos chegado na cidade no meio de uma tarde fria de sol, e fomos visitá-la. Caminhamos por ruas estreitas, com lojas de artesanato e souvenir, até o pôr-do-sol, que assistimos da praça em que fica o Templo Romano, ou Templo de Diana (onde gravei mais um vídeo em que falo como se estivesse com falta de ar, lembrando que eu ainda tinha que aprender a respirar e falar ao mesmo tempo...).

Já noite, fomos jantar na Enoteca Cartuxa, na Fundação Eugênio Almeida, em pleno Centro Histórico de Évora (no outro dia visitaríamos a Vinícola Cartuxa). Além de tomarmos o ótimo vinho Cartuxa, pedimos petiscos, digamos assim. Todos ótimos.

Após desafiarmos a Marina a experimentar cogumelos (tinha implicância e nunca experimentara) e ela adorar, fui desafiado a provar a sobremesa: arroz de leite (ou arroz doce, como também chamam). Para quem não sabe, sempre disse que essa sobremesa era um erro, não se mistura arroz e leite. Não existe isso. Pois bem: experimentei.

E gostei, confesso.

Aquele, naquele momento, estava muito bom.

Confesso que, a partir daí, reduzi minhas críticas com relação a essa sobremesa. Não me tornei um apreciador, mas transigi em meu conceito. Mudei de ideia baseado em um evidência empírica. Na minha experiência.

Mudar de ideia, rever conceitos.

Só os idiotas, os intolerantes e os mortos nunca mudam de ideia.

Temos que estar abertos a novos conhecimentos, experiências, ideias.

Temos que ser tolerantes.

Menos com terraplanistas e anti-vacinas.

Esses temos de largar de mão.

Até.


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