quinta-feira, julho 23, 2020

Crônicas de uma Pandemia – Cento e Trinta Dias

Eu não sou jovem.

Lembro de uma noite, há alguns poucos anos, em que jantávamos em um restaurante em Fortaleza cujo cardápio era escrito à mão, diversas páginas manuscritas contendo uma quase infinita lista de pratos. Não ficava na beira da praia, mas algumas quadras para trás da avenida que contorna a orla. 

Estávamos em um congresso médico e, mais do que em outros congressos, essa vez apenas circulei entre o hotel e o centro de eventos, e duas noites jantando em restaurantes que não escolhi (o que não quer dizer que fossem ruins, obviamente). Em outras palavras, não visitei Fortaleza dessa vez. Também não o fizera na outra vez que havia estado lá...

Em 2006, também em um Congresso Médico.

Recém retornado do Canadá, fui por conta, sozinho, assistir ao congresso e fazer – como se diz hoje em dia – networking. Foi, podemos dizer, produtivo. Tive algumas reuniões que me abriram algumas portas, o que foi interessante. Mas o congresso foi marcado – para mim – por dois episódios bem distintos.

Quase não saí de Porto Alegre, porque exatamente nos dias anteriores ao congresso houve o que chamaram de Apagão Aéreo de 2006, por operação padrão da Infraero para que os controladores de voo não ficassem sobrecarregados. Saí de Porto Alegre, num dos últimos voos que tiveram um pequeno atraso, e voltei quando tudo começava a melhorar. Foi um momento de sorte. 

Não se pode dizer o mesmo da minha saúde física, contudo.

Durante o congresso, comecei com uma dor leve na coluna cervical. Por essa razão, paguei por uma massagem num estande no centro de convenções mesmo, para ver se melhorava, afinal deveria ser tensão, vai saber. Melhorou. Parcialmente. O congresso, começava na quarta-feira e terminava no sábado à tarde, eu acho. Meu voo de volta seria apenas na segunda-feira de manhã bem cedo. Logo, eu tinha todo o domingo para curtir uma praia.

Porém...

Sábado à noite, dei uma caminhada e jantei na Praia de Iracema. Voltei para o hotel cedo, para descansar e estar bem para ir à Praia do Futuro no dia seguinte. Pronto para dormir, vendo televisão, e a dor na cervical começa a aumentar, até ficar insuportável. Não conseguia ficar em nenhuma posição sem dor, e sem a sensação de que algo ou alguém me empurrava de cima para baixo pelo ombros. Deitado, qualquer movimento era seguido de uma dor lancinante.

Decidi tomar uma atitude.

Fui até a recepção do hotel e perguntei por um hospital ou, ao menos, um farmácia próxima. Havia uma farmácia, a poucas quadras o do hotel. Qual um zumbi, atordoado pela dor, rumei até a farmácia. Chegando lá, pedi um anti-inflamatório e um desses sprays para dor. O único anti-inflamatório que tinham chamava-se Infralax (que, para mim, pelo nome, deveria ser uma combinação de anti-inflamatório com laxante). Comprei e voltei ao hotel. A noite foi horrível.

Mesmo assim, no dia seguinte fui a praia.

E foi ruim, porque eu continuava com dor.

Voltei de Fortaleza, em 2006, com muita dor, e foi a minha primeira experiência lá.

Mas eu falava de uma noite em que jantávamos nesse restaurante que tinha o cardápio manuscrito (acho que à lápis), e que eu não era mais jovem.

Em breve, na continuação...

Até. 

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