domingo, julho 12, 2020

A Sopa

(Crônicas de uma Pandemia – Centésimo Décimo Nono Dia)


Há uma guerra. 

E, sabemos, em uma guerra, a primeira vítima é sempre a verdade.

Essa afirmação, ou uma variação dela, atribuída a Ésquilo, nascido perto de Atenas e que foi considerado por Aristóteles o criador da tragédia grega, e foi mais antigo dos três trágicos gregos cujas peças ainda existem (que são Sófocles e Eurípedes), permanece verdadeira até os dias de hoje. E nos mais variados tipos de guerras e conflitos.

Como o caso do tratamento precoce da COVID-19.

Evidentemente, e principalmente por ser uma doença nova, não há (ainda?) um consenso sobre a melhor conduta a ser adotada. Até aí, tudo bem. É normal, ainda mais quando ainda estamos aprendendo sobre a condição, que não tem um ano de existência entre nós. Há os que defendem uma determinada abordagem, enquanto outros defendem a conduta – digamos assim – oposta. 

Quem está certo?

Ninguém sabe, na verdade, e esse nem é o problema.

O problema é que a discussão, que deveria estar restrita ao meio médico, caiu nas redes sociais. E aí a ética vai para por água abaixo. Politizaram e polarizaram o debate médico a níveis nunca vistos. E, como falei no início, a verdade se perde em meio ao bate boca. Uma colega, não vou citar o nome porque não pedi autorização para divulgar, escreveu – com propriedade - o seguinte:

Acredito que o problema sejam os excessos.

Oito ou oitenta.

Vejo colegas chamando de “semianalfabetos” quem prescreve tratamento precoce, como se esses não soubessem fazer uma leitura crítica da literatura médica. Triste esse tipo de atitude. Se colocam num pedestal como se fossem superiores em prol de “evidências robustas” e os colegas prescritores seriam analfabetos ridículos, fazendo algo errado e que gera malefícios aos pacientes.

Da mesma forma alguns vendem a imagem de tratamentos mágicos, como se houvesse uma cura mágica, com garantias certas. (...)

Penso que o inimigo é um só: o vírus. Não deveria haver toda essa polarização como se estivéssemos uns médicos contra os outros.”

Perfeito. 

O inimigo público número um é o vírus, e não devemos perder o foco disso. Não devemos perder tempo com discussões estéreis em redes sociais enquanto os pacientes precisam ser atendidos, precisam do nosso melhor e mais dedicado cuidado.

O que eu penso do assunto?

Como médico, concordo que devemos direcionar nossa energia a quem precisa, que são os nossos pacientes. 

Sobre tratamento precoce ou não?

Passa lá no consultório, que conversamos.

As redes sociais não são lugar para isso.

Até.

Um comentário:

Odontologia - Rafael Bender disse...

Onde assino? Parabéns meu amigo! Perfeito.