Eu não sou jovem (3).
Agosto de 2017, Fortaleza, Brasil.
Durante um jantar no restaurante do cardápio manuscrito à lápis, entre colegas de empresa, entre eles um colega especialista médico, professor e pesquisador inglês recém vindo de uma aula no Chile, em meio à conversa, eu declarara que havia me tornado velho duas semanas antes. Evidente que consegui a atenção da mesa, que esperaram pela explicação que veio a seguir.
Explicação essa que eu não dei dois dias depois, quando em minha fala inicial como moderador do simpósio satélite que fizemos antes de ir para o aeroporto para voltar para casa, e que deu início a uma outra saga, ou aventura, como preferirem, que talvez tenha sido o evento desencadeador da minha fama de sempre ter problemas em voos que eu pegava, apenas afirmei, de alto do púlpito, em frente a dois convidados internacionais (que não o professor que estivera no jantar no restaurante do cardápio manuscrito à lápis) que eu havia me tornado velho duas semanas antes, mas que não havia tempo para explicações, porque tínhamos de falar de ciência.
É provável que o assunto tenha surgido, durante aquele jantar, porque outros falavam de situações de saúde em viagens a trabalho, algo comum (as viagens) para nós, funcionários de multinacional do ramo farmacêutico. Falávamos de alergias, eu acho, ou de dificuldades com o sono, pelas diferenças de fuso horário ou horários de voos muito cedo, não lembro. O fato é que a minha afirmação de que eu havia me tornado velho duas semanas antes captou a atenção dos que estavam próximos a mim na mesa. Principalmente porque o professor, vamos chamá-lo de Paul porque esse era o seu nome, já estava próximo dos setenta anos, e em plena forma física e mental.
Expliquei.
Pouco mais de um mês antes do congresso, fiz – a pedido de um cardiologista – alguns exames de checkup. Entre eles, uma ecografia de carótidas, para avaliar a presença ou não de placas de gorduras nas mesmas. Carótidas são as artérias que levam o sangue para o cérebro, e o seu entupimento/obstrução não é uma situação agradável. Mesmo placas de gordura que não as obstruem totalmente podem “quebrar” e liberar fragmentos que, ao impactarem nos vasos cerebrais, levam ao que se chama de acidente vascular cerebral (AVC), a famosa isquemia ou derrame cerebral.
Fiz o exame e, não, não havia placas de gorduras em minhas carótidas. Contudo, a camada média de parede do vaso (da carótida) parecia estar ligeiramente espessada. Por essa razão, o cardiologista me prescreveu uma estatina para eu tomar.
Estatinas são medicações usadas com o objetivo de reduzir o chamado colesterol “ruim”, o LDL colesterol. Mesmo com os níveis de colesterol bons desde sempre, ele achou que eu deveria tomar. Assim o fiz, e faço até hoje. Comecei a tomar no final de julho de 2017.
E foi aí que eu envelheci. Dia 22 de julho de 2017.
Uma história, claro, dramatizada para torná-la mais, digamos assim, divertida. Todos na mesa concordaram com isso, assim como para quem expliquei depois do simpósio satélite em que deixei a história no ar porque tínhamos pouco tempo.
Assim que terminou o simpósio satélite, fomos, o time, direto para o aeroporto, pois tínhamos voos de volta para nossas cidades. E aí começou a próxima parte da minha história de dificuldades em Fortaleza, apesar de a cidade evidentemente não ter nada a ver com isso.
Em breve, na sequência...
Até.
Nenhum comentário:
Postar um comentário