(Crônicas de uma Pandemia – Cento e Vinte e Seis Dias)
Lockdown.
Parece que Porto Alegre, após quatro meses de pandemia, está na iminência de ser colocada em lockdown. Após quatro meses de pandemia, acreditam?
Pois é...
O chamado lockdown, o fechamento total da cidade, com apenas poucas pessoas habilitadas a circular, justifica-se apenas em duas situações, na minha opinião. Primeiro, quando não sabemos o que está acontecendo, qual é o vírus, qual sua transmissibilidade, qual sua virulência. Foi o que aconteceu na Itália e Espanha lá por março. A segunda situação em que essa medida extrema deve ser adotada é quando ocorre a admissão de incompetência e a falência dos administradores públicos. É o que está acontecendo no Sul do Mundo agora. Estamos admitindo que não fomos capazes de utilizar esses quatro meses de restrições e achatamento da curva para nos preparar adequadamente para quando o pior momento chegasse.
E chegou, ao menos assim esperamos (ou seja, que o pior momento seja agora e nas próximas semanas, e depois comece a melhorar).
Achatar a curva, como é óbvio entender, prolonga o tempo de duração da pandemia. E fizemos bem, achatando a curva. Só que empurramos o pior momento para o inverno, quando normalmente a sistema de saúde já fica no limite. Fazer o quê? Fechamos cedo demais, mas não tinha como saber...
Não vou entrar aqui na discussão com relação à existência ou não de evidências científicas que suportem o lockdown, e nem se é eficaz ou não. Mas uma coisa ninguém pode negar: essa é a estratégia mais conveniente para os seus defensores. Se funcionar, eles estavam certos. Se for um fracasso, a culpa é da população, que não fez direito. É como o socialismo e o comunismo: os repetidos fracassos ao longo da história são justificados com um “não era realmente socialismo/comunismo, por isso não deu certo...”.
E nunca admitirão que estavam errados.
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Coisas desses dias estranhos.
As pessoas têm agido estranhamente.
Tenho andado de bicicleta sempre que possível (quando as condições meteorológicas permitem, claro). Esse final de semana, por exemplo, foram setenta quilômetros, trinta e cinco no sábado e trinta e cinco no domingo. Mais ou menos uma hora e pouco. Tranquilo.
Ontem, dez horas da manhã, estava em trecho na zona sul, numa rua paralela a uma grande avenida, quando vi um carro parado e um casal em pé, fora do carro. Ela atrás do carro e ele ao lado, em frente a uma pequena árvore, daquelas que foram plantadas recentemente, numa posição suspeita. Dava a impressão de que estava... ao passar pelo carro, confirmei a impressão: e pleno sábado de manhã, de sol, em uma rua razoavelmente movimentada, o cidadão (?) de terno e gravata urinava, assim, na boa. Minha indignação foi imediatamente aliviada porque – ao mesmo tempo em que eu constatei a situação absurda – passava um carro da polícia militar, que também viu e parou. Como eu ia rápido, não vi a conclusão do episódio, mas o fato de a polícia ter parado me proporcionou uma sensação – mesmo de fugaz – de justiça divina.
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A situação com relação ao coronavírus todos sabemos que é séria, que devemos manter distanciamento social (falo isso desde março, é o óbvio), usar máscara, lavar as mãos e usar álcool gel com frequência e evitar aglomerações principalmente em locais fechados.
Tudo certo, tudo correto.
Atividade física ao ar livre, contudo, quando feita individualmente, com cuidado, seguindo as normas, não traz risco nenhum. Faz até bem, aliás. Por isso que tenho andado de bicicleta sempre que posso.
O que não suporto mais são pessoas que passam de carro filmando com seus celulares aqueles que estão na rua, sozinhos ou em duplas, em segurança, fazendo sua atividade física, e depois colocam em redes sociais acusando-as de responsáveis pelos números da pandemia.
Qual é o próximo passo que vão sugerir, esses agentes da inquisição?
Que nos joguem na fogueira?
Até.
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