(Meus últimos momentos em Toronto...)
Até.
Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
Quando vim a passeio, quando ainda morava lá, e logo que voltei, antes de comprar o meu carro, circulei como legítimo pedestre pela cidade, e pude sentir como complicada é a vida dos transeuntes e daqueles que fazem uso do transporte público. Até porque transporte público em Porto Alegre é uma tortura. Já foi pior, concordo, mas ainda é um desafio.
Não quero comparar com cidades que têm um sistema público que realmente funciona, e que cubra toda a cidade. O de Toronto é bom, mas existem outras cidades no mundo com sistemas bem mais complexos e que funcionam perfeitamente ainda melhor.
Fujo do assunto, contudo.
Falava eu de ser pedestre. Os pedestres daqui também têm parcela de culpa no caos do trânsito, eles também não respeitando as sinalizações, atravessando a rua fora da faixa de segurança, muitas vezes se colocando e colocando outros em risco. Pois bem, fui pedestre (e usuário do transporte coletivo) em Toronto por dois anos, e aprendi a respeitar as regras de boa educação de um pedestre, assim como também exigir os meus direitos (Toronto foi o lugar que eu vi pedestres xingarem motoristas que não respeitavam a lei do trânsito). Melhorou meu jeito de ser motorista e de ser pedestre. Até aí, tudo bem.
Só que insisto em exigir os meus direitos. Principalmente nas faixas de segurança.
Faixa de segurança, como o nome já diz, é onde a prioridade da via é do pedestre. Ponto. Tenho feito questão de fazer valer o meu direito, para estresse de quem atravessa a rua comigo. Quando chove é mais fácil.
Respeita-se muito mais um pedestre quando ele porta um grande guarda-chuva...
Por educação.
As pessoas que recebem um e-mail que é enviado a diversas outras, que muitas vezes nem tem relação umas com as outras, não precisam e nem deveriam receber uma lista dos outros destinatários. Não é de bom tom. Fere a etiqueta. Não é certo, a não ser que seja um grupo de conhecidos que estão numa lista de discussões. E olhe lá.
Eu me sinto constrangido em cometer o erro que cometi ontem. Estava desatento, como tenho estado desatento por esses dias inquietos em que diversos assuntos clamam por minha atenção. Mas isso não importa, nem é desculpa. Educação é uma coisa que devemos ter sempre, deve ser natural. Mas não só educação. Senso do ridículo é artigo em falta ultimamente. Quando somados, então, falta de educação e de senso do ridículo se tornam uma bomba, quase impossível de agüentar.
Sim, estou de mau humor.
Hoje cedo, quando ia sair de casa, ao pegar o carro, notei que ele havia sido batido. Dentro da garagem! Deixei o carro intacto na sua vaga habitual ontem à tardinha e, hoje, ao chegar nele, ele está com a lanterna traseira esquerda quebrada e o pára-choque amassado e arranhado. O pior é que o autor não se identificou. Bateu, saiu e não falou nada. Filho da puta. Orçamento: R$ 500,00. Tudo bem, já tenho uma pista do autor e em breve descubro.
Então, ao contrário do que poderiam pensar, não estou de mau humor porque o Inter perdeu para o co-irmão ontem. Aliás, ficar de mau humor por causa de futebol é meio estúpido, além de inútil e de desperdício de energia. O futebol só serve para se ficar feliz quando se ganha. O resto é bobagem. Pena que nem todos sabem disso, ou pensam assim.
Existem conhecidos meus, tanto gremistas como colorados, que insistem em mandar e-mails com piadinhas sobre o time adversário, como se a minha caixa de mensagens fosse penico. Até aí tudo bem (não exatamente tudo bem, como disse, mas tolerável), o problema é outro: quando mandam um e-mail falando mal do time alheio, enviam com cópias (não ocultas) para todos os seus contatos. E uma parte dos “gênios” que os recebem respondem “Para Todos”, criando uma avalanche de e-mails estúpidos.
Tão ruim quanto isso são aqueles que enviam e-mails com correntes que “se não mandares para dez pessoas em cinco minutos” vais ser atropelado por uma manada de elefantes, ou cairá sobre ti um avião da PanAm.
As pessoas estão com muito tempo sobrando, não?
Até.
Belo dia de sol, sentamos numa das mesas junto à janela, tomamos um Valduga Cabernet Sauvignon Premium safra 2004 e almoçamos massas.
A Jacque comeu um talharim à Salernitana, a Zeca um Tagliatelle à Moscerino, o Pedro comeu um Risoto Trifolati e eu fui de Spagetti à Giuseppina.Uma história (quase) real (em um texto antigo).
Sábado, noite.
Pronto para sair para jantar com amigos, tranco a porta de casa e chamo o elevador. Após alguns instantes de espera, a porta do mesmo se abre e a luz do corredor ilumina o elevador escuro. Dentro dele, em meio à penumbra, uma loira alta, de possível origem européia (não escandinava, italiana provavelmente) diz que “não tem luz, mas funciona, pode vir”. Eu vou, claro.
Certo, admito que não é a sueca seminua da lenda (que segundo conta a mesma, moraria comigo, mas não passa disso mesmo, lenda), mas é uma loira e estamos num elevador que, quando fechar a porta, vai ficar sem luz. Tranqüilamente, isso pode virar uma crônica ou uma piada, penso. Ou uma história de terror…
Penso na piada. Entram mais dois “passageiros”, um cara e uma morena, cabelos longos e nariz aquilino (detalhe sem relevância para a piada). Os cinco no escuro, e alguém peida. Alto, fedorento. Não fui eu. Silêncio constrangido. O cara diz “como pode alguém peidar na frente da minha mulher?”. Penso, mas não digo, “Puxa, tem fila, então… como são organizados…”. Desisto da piada. Muito fraca.
História de terror, pois. Deve funcionar melhor. A porta do elevador fecha, o breu toma conta de tudo. Estamos só nós dois, e alguém peida. Não fui eu. Não, não, não está bom. De novo. O elevador fecha, há um silêncio constrangido, e de repente a loira grita. Um grito de pavor, de desespero. Sinto espirrar em mim líquido quente. Sangue. A porta do elevador abre, e não é o hall de entrada do prédio. Há uma floresta de árvores altas. Ao fundo, um dinossauro. Ouço atrás de mim o “swisssssswisssssswissswissssswisss” e sei o que isso significa: slitaks. Estamos no Elo Perdido.
De volta ao mundo real, entro no elevador, a porta fecha e ficamos na mais completa escuridão. Dois andares estão marcados: o 18º e o 1º, para onde vou. Paramos no 18º, e pergunto se não é o seu andar. Diz que não, que já estava assim quando ela entrou no elevador. OK, então. A porta fecha mais uma vez, nós dois no escuro, e a luz do botão do 18º acende novamente. A loira diz na mesmo hora: “Você viu isso? Acendeu sozinha!”. Eu tinha visto, sim. Ela: “Deve ter um fantasma aqui com a gente…”. Chegamos no térreo.
Quem precisa inventar histórias quando elas estão aí, em qualquer lugar, esperando para serem contadas?
Até.