Estava cansado.
Não de trabalhar, imagino, apesar de ter sido dia de consultório.
Saí de casa pouco depois do meio-dia, algum movimento de carros, mas pouquíssimas pessoas nas ruas. Parecemos num eterno domingo, vivendo todos os dias o mesmo dia. As mesmas notícias, o mesmo bater de panelas às 20h30. Por que batem as panelas? É sempre contra o governo?
Groundhog Day.
O clássico filme de 1993 com o Bill Murray e a Andy MacDowell, no Brasil chamado Feitiço do Tempo. Ele é um repórter do tempo que fica preso revivendo o mesmo dia repetidas vezes, no Dia da Marmota. Já assisti incontáveis vezes.
Mas dizia que parece que estamos vivendo o mesmo domingo todos os dias. Ao chegar no hospital, poucos carros no estacionamento dos médicos. O caminho até o consultório é solitário, sem encontrar nenhum rosto conhecido, a Associação dos Médicos, ponto do cafezinho diário e do encontro com colegas e amigos, está fechada por razões óbvias. O restaurante, com a mesa reservada dos médicos e pescadores, está fechado.
A primeira paciente da tarde é uma colega de faculdade, que testou negativo para o COVID-19, mas que não está bem, ambos, ela e eu, de máscara. Não parece ser, mas encaminho para uma tomografia para termos certeza que não é nada demais. Foi normal, para alívio de todos nós. Nenhuma suspeita durante a tarde, mas entre um paciente e outro recebo a mensagem de um ex-aluno cuja mãe está sendo avaliada para possível internação em outro hospital aqui em Porto Alegre. E ele não está na cidade.
Demoro um pouco, mas consigo contato com o colega que está na linha de frente e que avaliou a paciente: não precisou internar, para nos deixar mais calmos.
Os dias passam assim, quando não estou no consultório estou em casa. E, em casa, muitas mensagens, muitas ligações de pacientes. Além de orientar, tento tranquilizar, até onde é possível fazer isso.
Faz parte da missão.
Até.
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