Imagino que quem está lendo essa série de escritos esteja esperando que eu fale de como está sendo/foi com a gente. Afinal, se é para escrever genericamente, é melhor comprar um livro de alguém que realmente tenha experiência no assunto. Eu é que não tenho. Apesar de médico, na hora em que acontece com a gente, somos tão ou mais leigos que as pessoas em geral, mas com um agravante: nós sabemos tudo de ruim que pode acontecer, probabilidades estatísticas incluídas. Em outras palavras, só temos desvantagens.
Penso nisso há muito tempo, e não relacionado necessariamente a gestações e nenês que estão para nascer. Qualquer situação envolvendo saúde e alguém que conhecemos é sempre um estresse. Primeiro porque nunca pensamos que vai ser uma coisa simples, apesar do que dissemos a vocês. Podemos até acreditar sinceramente que não vai ser nada demais, mas já antecipamos – em pensamento – todas as possíveis catástrofes que podem acontecer e que – sabemos – quase nunca acontecem. Sofremos por antecipação com a possibilidade do pior acontecer. Sem falar na crença vigente entre médicos que familiares de médicos sempre apresentam um quadro MUITO mais complicado do que seria normalmente em um não-familiar de médico. Não que sejamos pessimistas, pelo contrário.
É que é uma maldição sabermos tudo de ruim que pode acontecer.
Bom, mas esse não é o assunto. Devo falar de como as coisas aconteceram (e estão acontecendo) conosco.
Não, não foi na primeira tentativa, mas não levou tanto tempo assim.
Não houve, dessa forma, grande ansiedade por parte de nenhum de nós a respeito da nossa “capacidade” de multiplicação. Foi bem tranqüilo. É nesse momento, contudo, o de ainda não ter certeza da capacidade reprodutiva que podem surgir algumas tensões vindas de “fora”.
Explico.
Pode não funcionar assim com a mulher, mas para o homem, mesmo que inconscientemente, existe uma certa associação entre fertilidade e virilidade. É uma grande bobagem, todos sabemos, mas é quase impossível fugir de comentários jocosos a respeito do assunto, com os adjetivos mais criativos (e para quem se sente atingido pelo tema, de mau gosto).
Como falei, no nosso caso não houve esse estresse todo, até porque não saímos anunciando para o mundo que estávamos “tentando” engravidar. Quando perguntavam, desde antes de iniciarmos o processo, dizíamos “em breve, em breve”, sem precisar muita coisa, até porque não diz respeito a ninguém mais se estamos em vias de ou não. Mesmo assim, fui “vítima” de alguns comentários.
O engraçado é que – a primeira vez que alguém tocou no assunto – a Jacque já estava grávida e não tínhamos contado para ninguém. Foi no aniversário de um amigo, onde praticamente TODAS as mulheres presentes ou estavam grávidas ou recém haviam tido filho, quando uma colega (que não estava grávida e nem tinha filhos) perguntou quando pretendíamos engravidar e perguntou se eu não seria “pau de vento”.
“Pau de vento”.
Nunca tinha ouvido essa expressão, que seria – na minha opinião - de extremo mau gosto se estivéssemos tentando e não conseguindo ou eu soubesse que era infértil, por exemplo. Como nunca foi uma preocupação minha (e já sabia que estava tudo bem) não dei bola. A mesma infeliz expressão ouvi quando contamos a todos que estávamos grávidos, e alguém comentou que “puxa, estávamos começando a pensar que eras ‘pau de vento’, viu?”.
E se fosse, seria menos homem? Claro que não.
Outra expressão que eu ouvi esses dias e que tem a ver com o assunto, e que pareceu mais criativa que agressiva foi ‘tiros de festim’. De qualquer forma, sempre me pareceu um assunto íntimo demais para ser conversado em público. Mas cada um sabe de sua vida.
Vai saber.
2 comentários:
Realmente é um saco quando as pessoas ficam cobrando que o casal tenha filho(a). Sempre vem a pergunta: e quando vão encomendar o bebê?
Ainda, quanto a citação "estávamos tentando engravidar", o mais legal de tudo é que nós homens, também engravidamos juntos. Ao menos foi assim comigo, que acompanhei todas as ecos e consultas da Rita.
Tenho a certeza de que, com vocês tudo correrá muito bem.
Abs
Marco
Oi, já leio seu blog faz tempo, mas acho que ainda não tinha deixado nenhum comentário. Parabéns pela paternidade, vamos acompanhar os acontecimentos, sei que não vai ser um relato tão completo como seria se o blog fosse da mãe né? Mas vc conta bem suas histórias, com esse novo capítulo não será diferente :)Queria comentar o que falou dos médicos em relação as doenças e familiares, não acontece só com vocês, sou enfermeira e sofro do mesmo mal, ruim isso né? a impressão que dá é que vamos sendo cada vez mais negativos ou hipocondriacos enfim, acho que tinhamos que ser mais bem preparados nesse sentido :(
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