A Viagem, décimo dia.
Colônia del Sacramento.
Preciso falar sobre fotografia.
Antes de mais nada, fotografia está no sangue da família. Desde a infância, quando lembro de um dos meus tios que fotografava e tinha um laboratório de revelação que ficava na garagem da casa dos meus avós, até o meu irmão, que é fotógrafo e mora nos Estados Unidos, a fotografia sempre – de alguma maneira – esteve meio que por nossa volta.
Quando viajamos as primeiras vezes juntos, a Jacque e eu, o que tínhamos era uma dessas máquinas fotográficas Canon analógicas, com filmes – evidentemente – e que usamos por um bom tempo. Voltávamos de cada viagem com um número variável de filmes para revelação e, sim, era como viajar novamente ver as fotos reveladas e fazer o álbum de viagem. Uma vez, deixei o carro aberto (inadvertidamente) num estacionamento na Suiça e, ao perceber o ocorrido, o esquecimento, a minha maior preocupação foi o risco de roubaram a bolsa com todos os filmes a serem revelados. Não roubaram nada, claro, estávamos na Suiça...
A primeira câmera digital que comprei veio da B&H, loja de Nova York. Naquela época comprávamos por telefone e entregavam em casa em poucos dias, o imposto incluído. Era 2002, ainda antes da Amazon e outros companhias do gênero. Era uma Nikon Coolpix 995, uma boa câmera que durou até 2006, quando – morando no Canadá – deixei cair e quebrou, infelizmente. Foi aí que resolvi dar um “salto de qualidade”, digamos assim.
Nikon Coolpix 995
Quando fui comprar uma câmera nova, entre outros quesitos, uma que fizesse “som de máquina fotográfica” ... Que fosse um pouco menos automática (mas não muito menos), que me desse possibilidade de trocar a lente, que fosse – digamos assim – um pouco mais profissional. Quis uma câmera SLR (single lens reflex). Escolhi, com a ajuda do meu irmão, uma semiprofissional, uma Nikon D50. Se por um lado foi um upgrade, por outro tornou um pouco mais “difícil” fazer as fotos, porque a usava em modos não totalmente automáticos. Com o tempo, me adaptei e a levei para várias viagens, tanto que acabou quase se tornando a única câmera que levávamos em viagens.
Após alguns anos, novo upgrade: comprei do meu irmão uma nova DSLR. Como, por razões de trabalho, ele estava vendendo uma de suas câmeras, com pouco uso, comprei dele a que tenho até hoje, uma Nikon D7000. Muito melhor que as anteriores que eu havia tido. Ótima câmera, comprei também mais uma lente (tinha uma 18-55mm e comprei uma 50-200mm) e o tripé. Fiquei muito bem equipado para minhas intenções de fotografia, e carregava tudo nas viagens, claro. Até o surgimento das câmeras de celular de boa qualidade.
Nikon D7000
As câmeras dos celulares melhoraram muito desde que surgiram, e – com o tempo – ganharam características de edição de imagens que as tornaram por vezes muito mais práticas que as antigas. Enquanto com a minha Nikon D7000 eu preciso carregá-la em uma mochila junto com a lente acessória, o tripé junto, o celular vai no bolso, o tempo todo. Além disso, em tempos de redes sociais, a foto do celular vai direto, e a da DSLR eu tenho que baixar as fotos para o computador...
Por isso, progressivamente foi se utilizando mais o celular do que a máquina fotográfica digital. Principalmente no dia a dia, pequenos passeios e eventos. Viagens grandes, e importantes, pedem uma máquina maior e -de certa forma – melhor.
Essa era uma viagem grande e importante.
E, excetuando-se em Montevideo, a utilizei muito. O ponto alto do seu uso foi, justamente em Colônia del Sacramento, como contarei a seguir...
Então.
Acordamos e tomamos café na simpática Nova Posada, em uma sala com vista para o quintal, com sol brilhando e temperatura agradável. Mais uma manhã radiante no Uruguai. Nosso plano do dia: visitar Carmelo.
Carmelo é uma cidade no Río de la Plata, a oeste do Uruguai, a cerca de 78km de Colônia, mais ou menos uma hora de viagem. É conhecida pelas praias, como a Playa Seré, e – interessante - está rodeada por vinícolas. Como outras cidades do interior do Uruguai, parece parada nos anos cinquenta. A vida parece andar mais lentamente, num ritmo mais tranquilo. A praça central, a Plaza Independencia, encontra-se a norte e é (mais uma) a típica praça de cidade do interior, com a igreja e a intendência.
Estacionamos, visitamos a praça, e então a Roberta pegou o telefone e começou a ligar para tentar agendar um piquenique em uma vinícola. Sabíamos que terça-feira seria difícil, mas valia a tentativa. Ela tentou uma primeira, sem sucesso. Na segunda ligação, foi informada que até poderiam fazer, mas não seria como nos dias normais. Teria menos estrutura, e por isso nos daria um desconto. Agendamos para próximo às 13h, e fomos passear um pouco por Carmelo.
Seguimos caminhando até a Rambla, junto ao Arroyo de las Vacas, de onde se vê a ponte vermelha pela qual entramos na cidade. Só após a volta, estudando sobre Carmelo, que descobri que essa ponte é giratória... Após o passeio pela orla e de volta à praça, seguimos para a vinícola Campotinto.
A vinícola (e pousada) Campotinto fica a cinco quilômetros do Centro. Em meio aos vinhedos, há um restaurante e a pousada. Chegamos no restaurante (éramos os únicos, naquele momento, em plena terça-feira) e o “pacote” que havíamos contratado constava de duas cestas de piquenique e a toalha. Poderíamos fazer o nosso piquenique onde quiséssemos por ali, e escolhemos ficar na sombra de uma árvore, na grama, ao lado de um parreiral.
Uma cesta era composta ppor duas garrafas de vinho, um tinto e um branco, mais águas com e sem gás. A outra era de comida: frutas, pães, queijos e fiambres. Quase um banquete. E isso que era um piquenique “de improviso” ...
Foi literalmente, uma festa.
Ficamos horas ali, sem os sapatos, sentados na grama, aproveitando a comida, o vinho (menos eu, que era o motorista, e a Marina, menor de idade), falando, contando histórias, gravando vídeos que nunca serão mostrados para ninguém, e rindo muito. A Roberta foi ver o galinheiro e conversou com a galinhas, e eu gravei um vídeo falando das uvas, essas de mesa, e (aaaaaaaaiiiiiaaaai!!!), parodiando o clássico vídeo do hoje senador Lasier Martins na festa da Uva de Caxias. E não tinha mais ninguém à volta. Foi bem legal. Poderíamos ficar o dia todo ali, vendo o tempo passar, a grama crescer, os pássaros voarem...
Em resumo: foi ótimo, memorável.
Retornamos para Colônia em tempo de preparar o mate e ir para assistir o pôr do sol no Rio da Prata. Dessa vez, mais ainda que no dia anterior, o céu estava limpo, sem nuvens, muito claro. Nos posicionamos no melhor ponto que encontramos para vê-lo, e esperamos o momento de testemunhar o espetáculo (dos mais belos que vi) e, claro, fotografá-lo. E foram as melhores fotos de toda a viagem.
Final do dia
O por-do-sol sem nuvens, com o sol descendo no Rio da Prata e – ao longe – o skyline de Buenos Aires, valeu por toda a viagem. De verdade. Utilizei a minha lente 50-200mm e fiz – sem falasa modéstia – fotos espetaculares. Ficamos um bom tempo ali, entre esperar o momento, fotografá-lo, e ver a noite caindo lentamente.
Pôr do sol
Após, jantamos num restaurante de frente para o Rio da Prata, exatamente ao lado daquele da noite anterior da picada que a Karina havia destestado. Foi bem melhor, admito. Pedi uma caipirinha, que veio com um tom de verde acentuado, por um licor (de menta) provavelmente que foi colocado. O Gabriel disse que haviam “firulado” a caipirinha. O verbo firular, de fazer firulas, enfeitar desnecessariamente. Rimos todos. Tomei sozinho e não dividi...
Foi – uma vez mais – um jantar divertido, em que todos estávamos bem-humorados e leves. Voltamos para a pousada para descansar.
No dia seguinte começaria a volta.
Até.
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