A Viagem, décimo primeiro dia.
O começo da volta.
Após sairmos de Porto Alegre no dia 30 de janeiro ainda sem sabermos como resolveríamos a situação do PCR da Marina, e toda “confusão” gerada antes de entrarmos no Uruguai, passando pela estada em Punta del Diablo com a parrilla e a orelha furada do Gabriel, que acabou nunca sendo preso, banho de mar em Paloma que quase me matou de frio, os dias de Punta del Este com os dois quilômetros mais longos da história, o golpe do milk-shake em Piriápolis, o longo final de semana em Montevideo, uma grata – para mim – surpresa, a viagem para o passado que foi visitar San Jose de Mayo, Colônia del Sacramento confirmando tudo o que haviam nos dito de bom de lá, e o piquenique em Carmelo, era hora de retornar em direção ao Brasil.
Quando planejamos a viagem, a ideia era tentar não fazer na volta o mesmo trajeto da ida, só que em direção contrária. Para ser honesto, havíamos – quando das reservas – marcado os lugares até Colônia. A volta seria em três etapas: a primeira, de Colônia até um ponto no meio do caminho para o Brasil; a segunda, deste ponto até São Lourenço do Sul; e a última até Porto Alegre, aonde chegaríamos na sexta-feira, dia onze de fevereiro. Teríamos ainda o final semana para nos reorganizar para a volta ao trabalho na segunda-feira dia 14/02.
Quem acabou escolhendo o ponto de parada após Colônia e antes de São Lourenço foi a Roberta, que pesquisou e encontrou um hotel que seria legal ficar, e então viu a localidade. Reservou o que nos pareceu ser um lugar bem legal, meio isolado, com um céu noturno cheio de estrelas devido à pouca luz de casas e cidades próximas.
O céu noturno me fascina, tanto ou até mais que as montanhas, pelas quais tenho uma atração quase irresistível. Algumas de minhas melhores lembranças de viagens são com cenários de montanhas, como nos Alpes ou nas Rochosas Canadenses, por exemplo. O Natal que passamos “na neve”, há mais de vinte anos, foi justamente nos Alpes Italianos. Aliás, durante a nossa viagem ao Uruguai completaram-se vinte anos da viagem que a Jacque e eu fizemos chamada ‘Alpes e Lagos’, como até já contei anteriormente.
Quanto ao céu noturno, a descoberta do conceito/ideia de que estamos olhando para o passado, pois algumas das estrelas que vemos estão há milhares anos-luz daqui e podem nem mais existir, foi daquelas que mudaram minha forma de ver o mundo. Lembro, também, da época em que era bem mais novo, nas noites de verão quando víamos no céu noturno do litoral norte do Rio Grande do Sul milhares de estrelas, e era possível identificar a Via Láctea e sua beleza também me fascinava. Depois perdemos essa possibilidade, ou paramos de olhar para o céu, não sei a certo.
Em 2017, quando fizemos uma escapada de cinco dias durante a férias escolares de julho (eu trabalhava numa multinacional, mas aproveitei uma semana calma, e em comum acordo com minha gestora, tirei esses dias de folga) e fomos para Praia Grande, em Santa Catarina, conhecida como a cidade dos cânions devido à proximidade com os cânions na fronteira como Rio Grande do Sul, como o Itaimbezinho. Ficamos numa pousada sensacional, e em uma das noites fomos premiados por um céu límpido, de lua nova, com milhões de estrelas. Ficamos deitados na grama em frente nossa cabana, encantados com a visão – de certa forma – do Universo.
O céu noturno, Praia Grande/SC
O local que a Roberta escolheu foi em Villa Serrana, a cerca de 300km de Colônia del Sacramento. Mesón de las Cañas, o nome do hotel, que exigiu um depósito em dinheiro para confirmação da reserva, pois não trabalha com cartão de crédito. Fizemos o depósito já de dentro do Uruguai, quando estávamos em Punta del Este.
Villa Serrana fica no Departamento de Lavalleja, a poucos quilômetros da capital, Minas. Foi fundado em 1971 para ser um ponto turístico, de férias e descanso, entre os vales dos arroios Penitente e Marmarajá e tem cerca de 80 habitantes fixos. Até onde vimos, não há uma cidade (ou não a encontramos...).
Ainda em Colônia, após o simpático e saboroso café da manhã, organizamos as coisas, fizemos o checkout, carregamos o carro e, na saída de Colônia, paramos num shopping para comprar lanches para a viagem, que durou cerca de cinco horas, com uma parada para lanche (além das paradas para rodízio de lugares) em San Jose de Mayo, em um posto de gasolina com uma loja de conveniência com ótimas empanadas. Estávamos indo para o final das férias, e o mundo real começava a reaparecer depois de vários dias. Eu, por exemplo, já combinava um churrasco com amigos para a semana seguinte, quando já estaríamos de volta.
O Mesón de las Cañas foi, de certa forma, como esperávamos: um lugar muito legal encravado no meio do verde, isolado. A área social do hotel, com restaurante, uma grande parrilla ao ar livre, sala de estar com lareira, a área da piscina, tudo muito legal. Com relação ao quarto, pegamos um tipo cabana, com um quarto de casal, sofá-cama na sala, e outras seis camas num mezanino ao qual se acessava por uma escadinha íngreme e tinha, ele próprio, um pé direito baixo (quem dormisse na parte de cima teria que ficar abaixado ou deitado). Achei legal, mas eu ficaria no quarto de casal. O resto do grupo, contudo, não curtiu a ideia, e acabaram todos dormindo na sala embaixo.
Excetuando-se a questão do quarto/cabana, o lugar era espetacular. Fomos para a área da piscina, aproveitar um pouco do sol. Eu, por ter sido um dia de estrada, acabei me exercitando na piscina (caminhando dentro) por cerca de 40 minutos, para atingir minhas metas diárias de exercício e movimento.
Ao cair do sol, fomos para a área social, onde – antes de jantar ali mesmo – fizemos um happy hour bem divertido. Dali, só mudamos de lugar para as mesas do restaurante e tivemos mais um ótimo jantar, regado a vinho e cerveja e licuado para a Marina.
Após jantar, fomos para a rua olhar as estrelas, que não estavam tão visíveis por a luz da lua ofuscava um pouco. Ainda assim, fiz ótimas fotos. Antes de ir dormir, ainda fizemos um “ritual” de despedida ali, na rua, no escuro, mas registrado em vídeo (eu não posso divulgar): cantamos – juntos – e dançamos, em círculo, o hino da viagem: “Ai, ai, ai, roubaram meu fhrüstick”...
Eles voltaram para o quarto e eu ainda fiquei um pouco mais fotografando a noite. Voltei e fomos dormir, porque o dia seguinte seria de estrada e terminaríamos no Brasil, mais especificamente em São Lourenço do Sul. Tudo continuava bem.
O que eu não sabia era que encontraria o dementador da água na madrugada de Villa Serrana.
Até.
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