A Viagem, sétimo dia.
Sábado de manhã, o melhor momento da semana.
Já falei em alguma Sopa do passado, mas uma das origens dessa certeza, de que o sábado de manhã, de sol, é o melhor momento da semana é uma lembrança minha do final dos anos 80. Uma manhã no litoral norte do Rio Grande do Sul, a claridade produzida pela manhã que avança quase cega, e a música que toca sai de um toca-discos e é Cúmplice, do Cazuza, que diz o seguinte:
“Hoje eu acordei querendo encrenca
Escrevi teu nome no ar
Bati três vezes na madeira
Senti você me chamar
Na verdade uma carta em braile
Me deu uma certeza cega
Você estava de volta ao bairro
Em alguma esquina á minha espera
Meu amor, meu cúmplice
Eu sempre vou te achar
Nos avisos da lua
Do outro lado da rua
Rodei todas as lanchonetes
Tive idéias perversas
Relembrei tantos golpes espertos
Você cada vez mais perto
Meu amor, meu cúmplice
Meu par na contramão
Você não mudou em nada, nada, nada, nada
Eu também não, que bom
Meu amor, meu cúmplice
Meu par na contramão
Você não mudou em nada
Eu também não, que bom
Eu também não, que bom
Meu par na contramão”
É daquelas músicas que tem a capacidade de me fazer voltar no tempo, e fechar os olhos e sentir exatamente o que eu sentia naquele exato momento em que aconteceu, mesmo que – nesse caso específico – não exista um acontecimento único, mas a lembrança de um tempo passado, de um outro Marcelo que fui. Outras músicas, outros momentos, outras memórias.
Como quando circulávamos pelo interior da Alemanha, pouco antes do final do século vinte, em pleno inverno do hemisfério norte, naquele período entre o Natal e o ano novo, vindos dos Alpes italianos e a caminho de Paris, onde passaríamos a virada de 2000 para 2001. Estávamos de carro, naquele momento, a Jacque, Magno e eu, ele dirigindo, eu de copiloto (dormindo a maior parte do tempo) e a Jacque atrás cuidando da “lojinha”, que era como chamávamos as provisões de lanches para nossos trechos mais longos.
O episódio a que me refiro ocorreu exatamente enquando Magno dirigia, eu alternava entre cochilos e orientações inexplicavelmente corretas das estradas que deveríamos seguir, e a Jacque me acordava de tempos em tempos e alimentava. Queríamos chegar em Baden Baden, na região chamada de Baden-Württemberg, próxima à fronteira com a França, não muito longe de Strasbourg.
Seguíamos pela Bundesstraße 500, a Estrada da Floresta Negra, próximo a Seebach, uma estrada sinuosa, que subia e passava pelo Mummelsee. Era o final do dia, aquele momento entre o pôr do sol e a noite, e víamos o que pareceu ser um grande lago (ou até o mar, uma impossibilidade geográfica). A trilha sonora do momento era – nada estranho – Beatles, a compilação com todas as músicas deles que haviam ficado em primeiro lugar nas paradas. Meio sonolento, acordei de súbito com a gritaria dos dois quando se deram conta de que aquele “lago” que avistávamos na verdade eram nuvens, e estávamos acima delas. Tocava Hey Jude, e o que gritávamos era ‘que momento, que momento!”. Chegamos em Baden Baden com muita neblina, e até hoje dizemos que um dia está ‘super Baden Baden’ quando há nevoeiro. Acabamos não ficando ali, mas isso é outra história.
Falava eu que era sábado de manhã em Montevideo, e havia previsão de chuva. Acordamos após uma ótima noite de sono (eu sob efeito de relaxante muscular) no Hotel Regency Way Montevideo, de boa localização (estávamos de carro), quartos bem confortáveis, preço justo e ótimo café da manhã, com as já tradicionais medias lunas e dulce de leche, entre outras atrações.
Após o café, fomos passear. Sem chuva, felizmente.
Fomos passear na Rambla, tiramos fotos no letreiro ‘Montevideo’, e decidimos visitar o Mercado Agricola, estrutura originalmente inaugurada em 1913 e que reabriu após reforma em 2013. Tem livraria, lojas com produtos uruguaios perecíveis e industrializados, além de restaurantes e cafés. Circulamos, olhando as lojas. A Karina parou em uma farmácia para comprar ibuprofeno, eu junto a ela, mas não comprei. Não comprei. Depois, nunca mais tive coragem de pedir antinflamatório a ela porque quando pude, não comprei... Comemos empanadas, e o Gabriel comeu lulas fritas com batatas também fritas.
No Mercado Agrícola
Próxima parada: Livraria e Café Scaramuza, estabelecida num casarão antigo, com bela arquitetura e o café lotado. A Roberta tentou sugerir que voltássemos (ela voltasse, pelo menos) ali na segunda-feira de manhã, antes de deixarmos a cidade, ideia que vetamos prontamente, sem dar chance a ela de retrucar. Após essa passagem pela Scaramuza, decidimos ir em direção à Cuidad Vieja, para visitar o Teatro Solis.
Scaramuza
Isso iria acontecer pouco antes de as ‘Arinas’ (a Ka e a Ma) decidirem revirar o lixo do Starbucks...
Marina e Karina, as 'Arinas'...
Amanhã, amanhã.
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