A Viagem, décimo segundo dia.
Últimos momentos no Uruguai.
Desde determinado momento da viagem, que não consigo definir exatamente, as minhas dores cervicair e em ombro direito foram uma constante, a ponto de eu ter consumido todo estoque de relaxantes musculares e antinflamatórios da Karina e da Jacque. Começava sempre o dia bem, dirigir não incomodava, mas quanto mais caminhávamos e mais lentamente o fazíamos, mais dor eu tinha.
Estranhamente, quanto mais dor eu tinha com o passar dos dias – tinha dias melhoresm outros piores – melhor ficava meu humor, mais leve eu ficava. Ainda vou falar disso, dessa mudança anímica ocorrida em mim com o decorrer da viagem, e possíveis explicações para isso. Logo ali na frente, que estamos quase chegando de volta em casa.
Eu falava da dor, devo lembrar você, caro leitor. Sempre que parávamos para jantar ou por outra razão, e nos sentássemos, eu ficava alguns minutos me remexendo na cadeira até encontrar a posição em que não tivesse dor ou, pelo menos, não tivesse tanto. Era quase um ritual, que se repetia na hora de dormir.
Devo dizer que – apesar disso – dormir muito bem durante as férias, muito também devido às medicações que, ao relaxar a musculatura, contribuíam com o sono. Ainda assim, quando me deitava, levava alguns minutos virando para um lado e para o outro procurando a melhor posição para iniciar o sono. Depois embalava e só ia, mesmo que eu acordasse durante a noite para ir ao banheiro. Voltava para a cama e voltava a dormir.
Assim aconteceu na noite em Villa Serrana.
Estávamos, na cabana, a Jacque, a Marina e eu no quarto de casal, a Marina num colchão no chão, e os outros Perdiditos estavam na sala, em colchões espalhados pelo chão. Mais próximo ao banheiro, estava o Gabriel, o Dementador de Água, alcunha criada pela sua irmã, Roberta, por causa da ansiedade dele por água, sempre precisar ter água por perto (às vezes tínhamos que sair atrás de água para que não ficasse sem), e pela “sofreguidão” com que bebia.
Pois bem, durante a madrugada, não sei exatamente o horário, eu acordei para ir ao banheiro. Levantei-me em silêncio, sem produzir nenhum tipo de ruído, saí do quarto e notei que o Gabriel estava no banheiro, já quase saindo, com a porta aberta lavando as mãos. Pensei que se aparecesse do nada o assustaria. Decidi, não sei por que, apenas abanar para ele, e apenas deixei minha mão à mostra no escuro, acenando.
Pense bem. No meio da noite, estás no banheiro, no escuro, te olhas no espelho e – do nada – surge uma mão abanando. NÃO TEM COMO NÃO TOMAR UM SUSTO. Impossível.
Foi o que aconteceu com ele, e depois eu não conseguia dormir rindo da situação que eu havia causado involuntariamente...
De manhã, após o café, fizemos checkout e voltamos para a estrada, em direção ao Brasil. Ao invés de entrarmos pelo Chuí, o caminho mais rápido seria por Rio Branco / Jagarão. Mais uma vez, 3h30 de viagem até lá, com as paradas para o rodízio do banco de trás. Chegamos a Rio Branco por voltas das 13h, aproveitando para abastecer em solo uruguaio ara a Karina gastar os pesos que tinha em espécie.
A lembrança que eu tinha de Rio Branco / Jaguarão era de uma passada lá que a Jacque e eu havíamos dado alguns anos antes, e não era das melhores. Mesmo que tenhamos comido uma boa parrilla, os free shops não eram muito grandes e pareciam não ter muitas opções. A surpresa foi quando, ao nos aproximar da região, ainda antes das ruas dos free shops, nos depararmos quando um free shop gigantesco, o Panda, junto com uma praça de alimentação onde pudemos almoçar num Burger King, depois de muito tempo.
Ficamos mais de hora entre almoçar e visitar o free shop. Muito bom, mas em tempos de dólar caro, não muito convidativo. Ainda assim, compramos uns chocolates, vinhos e doce de leite, além de uns presentes para a família que não foi.
De lá, mais duas horas e meia até São Lourenço do Sul, tempo esse que passamos entre a tentativa com sucesso de retirar o chip do celular quebrado do Gabriel e gravarmos vídeos fazendo uma retrospectiva da viagem. Como em outros momentos, mal vimos o tempo passar.
Chegamos em São Lourenço e fomos direto largar nossas coisas no hotel, antes de irmos para a casa do tio Beto e tia Édila, que nos esperavam com a churrasqueira preparada e um ótimo galeto. Quando chegamos, disse que ia caminhar um pouco para “tirar o carro do corpo”. O primo Augusto ofereceu a bicicleta dela para eu dar uma volta.
Depois de duas semanas, eu voltaria a pedalar.
Um vento contra contínuo, na beira da lagoa, vindo de todos os lados, e a dor cervical e em ombro direito abreviaram a volta, que foi de apenas 7km. Paciência, no outro dia, já em casa, compensaria...
Galeto e boa conversa foi nossa recepção de volta ao pago.
Após uma noite de sono, faríamos o trecho final até Porto Alegre.
Estava terminando, de vez, nossa viagem.
Até.
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