A vida é curta, diz o clichê de autoajuda.
Bobagem.
A vida é longa. É maratona.
O entendimento desse fato é bem importante. Justamente por essa ideia de maratona, é que não podemos, ou devemos, permanecer parados no mesmo lugar. De alguma forma, mesmo que cambaleantes às vezes, seguimos. Nem sempre é fácil, muitas vezes estaremos com dor, mas temos que seguir. Desistir não é uma opção.
É nessa longa corrida que vamos acumulando experiências que virarão estórias que contaremos. Um ciclo que é infinito enquanto durar, enquanto estivermos vivos. Simples assim.
Por isso que valorizo muito as experiências, e as pessoas, e não entendo (limitação minha, confesso) quem foge, quem evita viver as experiências. Que fica, como diria Raul Seixas, sentado no trono de um apartamento com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar.
A referência é, claro, à música ‘Ouro de Tolo‘.
Que pensando bem, sempre esteve rondando meus pensamentos com uma profecia, como um destino que eu deveria (ou queria) evitar. Um lembrete que o mundo era muito maior que meu quarto (outra referência musical...).
Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou o dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros por mês
Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar um Corcel 73
Eu devia estar alegre e satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa
Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa
Eu devia estar contente
Por ter conseguido tudo o que eu quis
Mas confesso, abestalhado
Que eu estou decepcionado
Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto: E daí?
Eu tenho uma porção
De coisas grandes pra conquistar
E eu não posso ficar aí parado
Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Pra ir com a família no Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos
Ah! Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco, praia, carro, jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco
É você olhar no espelho
Se sentir um grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
Que só usa 10% de sua cabeça animal
E você ainda acredita
Que é um doutor, padre ou policial
Que está contribuindo com sua parte
Para o nosso belo quadro social
Eu é que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada, cheia de dentes
Esperando a morte chegar
Porque longe das cercas embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora dum disco voador
Ah! Eu é que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada, cheia de dentes
Esperando a morte chegar
Porque longe das cercas embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora dum disco voador
Até.
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