quarta-feira, outubro 30, 2024

Sábado de Manhã

Volta e meia eu penso no sábado de manhã.

 

Não falo aqui do primeiro dia do final de semana, aquele de cuja noite todo mundo espera alguma coisa, do dia de ir na feira de orgânicos, de correr ou cainhar no parque, do chimarrão. Não, é de outra coisa que a que me refiro aqui.

 

Falo de um idílico, platônico, sábado de manhã.

 

É da manhã de sábado que é o melhor momento da semana, em que sol brilha alto e a música que toca enquanto ando de pés descalços pela grama é ‘Cúmplice’, do Cazuza. Há um mundo de possibilidades e infinitos mundo possíveis neste sábado de manhã, e poderemos ser quem quisermos quando chegar a hora de decidir. 

 

Lembro que foi em um sábado de manhã (pois, nas férias, todos os dias são sábados de manhã) que peguei emprestado um disco de vinil de uma amiga com a confissão de que nunca iria devolver, e estava tudo bem. Era sábado de manhã quando meu pai estava cuidando do jardim e cortando a grama em que eu andava de pés descalços, e o cheiro de grama cortada está em todo lugar.

 

Foi em um sábado de manhã em que discutimos o futuro, nós, os amigos que o mundo não separaria, mas que foi só chegar a segunda-feira que tudo mudou. Ou todos mudamos.

 

Foi sábado de manhã, há quase trinta anos, em que a Jacque e eu, recém namorados, mas em segredo, saímos no final de um plantão e fomos até a praia ver o mar. Foi em um sábado de manhã, um ano e meio depois, que enviei flores a ela porque era o dia em que iríamos nos casar. Foi sábado de manhã quando viajei com a Marina para Florianópolis ver um Beatle. Foi um sábado de manhã quando fizemos show no Opinião, mesmo que fosse domingo à noite. 

 

Não tenho saudades dos sábados de manhã.

 

Eu continuo vivendo os sábados de manhã.

 

Até.

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