domingo, março 27, 2022

A Sopa

“Ressaca”.

 

Depois de mais de um mês escrevendo sobre nossa viagem ao Uruguai, o relato entremeado com lembranças e estórias de viagens antigas, tudo para chegar no epílogo que era o que eu queria dizer desde o início, o domingo é de ressaca. Como se eu não tivesse mais nada a escrever.

 

Não é verdade.

 

Mas é certo que existe um certo sentimento de ressaca, como escrevi acima, quase um esgotamento de confissões e de reflexões, uma sensação de que você, estimado leitor, está cansado disso. Como eu escrevo para mim, antes de tudo, vou seguir. Até para não perder o hábito, a prática. Volto ao modo crônicas confessionais ou quase ficções ou algo parecido.

 

Completo cinquenta anos nos próximos dias.

 

Data marcante, redonda, simbólica. Meio século de vida. Muito provavelmente já passei da metade da vida, e alguém diria que começa a (ou já estou na) descendente. Não sei, de verdade. Até pode ser, quem se importa?

 

Há alguns anos, cerca de dez, para ser mais preciso, escrevi aqui nessa Sopa que eu era o cara que ia morrer. Me via sedentário, estressado e (logo depois) acima do peso. Cheio de fatores de risco. Havia determinado – não sei de onde tirei essa ideia – de que – se não começasse a mudar isso antes dos quarenta anos de idade – eu iria me largar total. À época, iniciei a praticar esporte antes de completar os quarenta, mas lesionei os joelhos em sequência, assumi mais tarefas, aumentei de peso e voltei ao ciclo de muitos fatores de risco.

 

Isso mudou há três anos, quando houve a antecipação de dez meses de uma mudança profissional que planejava, e fiquei com tempo livre e decidi voltar a me exercitar. De lá para cá, mesmo com pandemia, perdi peso e me tornei – sim – um atleta. Estabeleci, com disciplina oriental que nunca tive, uma rotina de exercícios, que faço sete vezes por semana. O que melhorou minha vida em diversos aspectos.

 

Vou chegar aos cinquenta anos me sentindo muito melhor do que aos quarenta, física e mentalmente. Alguns caminhos que trilhei foram mais longos e tortuosos do que eu gostaria ou imaginava, mas eles tem me levado para lugares bem legais, e tenho tido a companhia de pessoas também muito legais.

 

Pretendo celebrar isso.

 

Até.

 

sábado, março 26, 2022

Sábado (e ainda o Uruguay)

Café da manhã 
 

                          Nova Posada, Colônia del Sacramento - Fevereiro/2022

                        Bom sábado a todos.

                        Até.

quinta-feira, março 24, 2022

Perdiditos en Uruguay (Epílogo)

Epílogo.

O que se tira de uma viagem.

 

Alguém – não tenho a referência exata – disse uma vez que ninguém volta igual de uma viagem. É uma variação de Heráclito de Éfeso, que disse que ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, porque não são as mesmas águas, e não é a mesma pessoa. Mas, sem dúvida, uma viagem é (ou quase sempre é, ou deveria ser) um curso intensivo de humildade, de conhecimento da vida e do mundo. É reconhecer – de novo e de novo – que o mundo é maior que o quarto da gente, maior que nosso umbigo. 

 

A percepção que temos de tudo, do todo, muda quando viajamos, e não falo necessariamente de viagens intercontinentais. Qualquer saída da rotina, visita a lugares diferentes, momentos em que possamos nos desligar da vida diária e olhar o movimento das coisas com maior lentidão, com menos pressa, com mais atenção até, já vale para sentirmos os “efeitos” de uma viagem. E viagens também servem para nos reconectar conosco mesmo e com os outros.




Foi o que aconteceu – de minha parte – nessa viagem que venho relatando aqui no último mês. Serviu, além de merecidas férias, e de certa maneira, para tirar o peso do mundo de minhas costas, que vinha carregando há não sei quanto tempo. E não só pelos anos de COVID, devo dizer. Esse peso, essa circunspecção, vinha de mais tempo, e as possíveis causas são as mais diversas. Havia, parece a mim agora, olhando retrospectivamente, perdido a leveza de viver.

 

E os anos de COVID, esses últimos dois anos, de afastamento das pessoas, de incertezas, contribuiu também para esse quadro. Durante esse tempo não percebia isso, pois não tinha o distanciamento necessário. Era como andar de bicicleta, seguíamos pedalando sem parar, sem pensar, num movimento automático e contínuo. Se perguntassem, estava tudo bem, estávamos levando tudo na boa. E era verdade! No microcosmos da rotina, estávamos bem, adaptados, vivendo na caverna de Platão, olhando as sombras e considerando aquilo como o mundo real.

 

A viagem para o Uruguai representou sair da caverna e olhar o mundo de novo, com toda sua luz e beleza. Não havia COVID por lá, no sentido de não ler notícias, não ter pacientes ligando, não ver televisão ou não ouvir rádio. Claro que usávamos máscaras em locais fechados, como todo mundo, mas era natural, orgânico, não forçado. A vida parecia fluir com mais naturalidade. Foi no passar dos dias de férias que fui relaxando, ficando mais tranquilo, mais leve.


                      


 

Foi impossível não lembrar de Mário Quintana, e sua ‘Canção do Amor Imprevisto’. 

 

‘Eu sou um homem fechado.

O mundo me tornou egoísta e mau.

E a minha poesia é um vício triste,

Deseperado e solitário

Que eu faço tudo po abafar.

 

Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,

Com teu passo leve,

Com esses teus cabelos...

 

E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender

nada, numa alegria atônita...

 

A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil

Aonde viessem pousar os passarinhos’.

 

Retrospectivamente, me vi como o espantalho inútil da poesia do Quintana, que agora vivia essa alegria atônita, dolorosa e súbita, de voltar a ver a vida com uma alegria que eu não lembrava que existia. Não que eu estivesse triste ou desgostoso da vida, de forma alguma, mas – posso dizer – reencontrei um tipo de alegria e leveza que há muito não sentia.

 

Todos notaram isso, durante a viagem, tenho certeza.

 

E todos haviam sido compreensivos comigo durante o período em que estivera mais quieto e menos alegre. Mesmo nos momentos de mau humor, foram tolerantes. De novo, esses foram todos diagnósticos retrospectivos, olhando para trás, analisando a partir do que (de quem) mudou (mudei).

 

                                 


A viagem foi muito além do passeio e do descanso, como falei no início deste epílogo. Foi uma reconexão comigo mesmo e com os outros, em especial a Roberta, a Karina e o Gabriel, de quem – por circunstâncias da vida – eu estava meio distante. Foi importante também porque foi um tipo de ritual de passagem para a Marina, que não era (não é) mais a criança que viajava com a gente. Ela foi participante ativa do grupo, no mesmo nível de todos, em todos os momentos, mesmo em piadas em brincadeiras, que não poupavam ninguém. E com relação à Jacque, a viagem confirmou, uma vez mais, porque estamos juntos há vinte e sete anos: juntos, somos muito legais e parceiros. 

 

                        


Obrigado, Perdiditos.

 

Até a próxima.

quarta-feira, março 23, 2022

Perdiditos en Uruguay (33)

 A Viagem, décimo terceiro e último dia.

São Lourenço do Sul.

 

Final de festa.

 

Acordamos, tomamos café da manhã no hotel, ajeitamos as últimas coisas, carregamos o carro, e fomos até a casa do tio Beto para nos despedirmos dele e da tia Édila. Hora de voltar para casa.

 

O trajeto entre São Lourenço do Sul e Porto Alegre dura cerca de duas horas e meia. A duplicação ainda está em andamento, obra que já dura anos, mas boa parte já está liberada ao trânsito. Foi uma viagem tranquila, com música, como foram todas até aquele momento.

 

Chegamos em Porto Alegre por volta do meio-dia.

 

Viemos até aqui em casa, pois a Karina havia deixado o carro dela em nossa garagem. Chegamos, subimos todos até o apartamento para ver os gatos e usar o banheiro e nos despedimos. Terminara nossa viagem.

 

Logo que eles saíram, nós tivemos que sair para almoçar. Decidimos ir no Komka, e ligamos para eles... Almoçamos todos juntos, mais uma vez.


Churrasco de final de viagem

 

Prontos para outra.

 

Vai acontecer, claro.

 

A seguir, o epílogo dessa história...

 

Até.

terça-feira, março 22, 2022

Perdiditos en Uruguay (32)

 A Viagem, décimo segundo dia.

 

Últimos momentos no Uruguai.

 

Desde determinado momento da viagem, que não consigo definir exatamente, as minhas dores cervicair e em ombro direito foram uma constante, a ponto de eu ter consumido todo estoque de relaxantes musculares e antinflamatórios da Karina e da Jacque. Começava sempre o dia bem, dirigir não incomodava, mas quanto mais caminhávamos e mais lentamente o fazíamos, mais dor eu tinha. 

 

Estranhamente, quanto mais dor eu tinha com o passar dos dias – tinha dias melhoresm outros piores – melhor ficava meu humor, mais leve eu ficava. Ainda vou falar disso, dessa mudança anímica ocorrida em mim com o decorrer da viagem, e possíveis explicações para isso. Logo ali na frente, que estamos quase chegando de volta em casa.

 

Eu falava da dor, devo lembrar você, caro leitor. Sempre que parávamos para jantar ou por outra razão, e nos sentássemos, eu ficava alguns minutos me remexendo na cadeira até encontrar a posição em que não tivesse dor ou, pelo menos, não tivesse tanto. Era quase um ritual, que se repetia na hora de dormir.

 

Devo dizer que – apesar disso – dormir muito bem durante as férias, muito também devido às medicações que, ao relaxar a musculatura, contribuíam com o sono. Ainda assim, quando me deitava, levava alguns minutos virando para um lado e para o outro procurando a melhor posição para iniciar o sono. Depois embalava e só ia, mesmo que eu acordasse durante a noite para ir ao banheiro. Voltava para a cama e voltava a dormir.

 

Assim aconteceu na noite em Villa Serrana.

 

Estávamos, na cabana, a Jacque, a Marina e eu no quarto de casal, a Marina num colchão no chão, e os outros Perdiditos estavam na sala, em colchões espalhados pelo chão. Mais próximo ao banheiro, estava o Gabriel, o Dementador de Água, alcunha criada pela sua irmã, Roberta, por causa da ansiedade dele por água, sempre precisar ter água por perto (às vezes tínhamos que sair atrás de água para que não ficasse sem), e pela “sofreguidão” com que bebia.

 

Pois bem, durante a madrugada, não sei exatamente o horário, eu acordei para ir ao banheiro. Levantei-me em silêncio, sem produzir nenhum tipo de ruído, saí do quarto e notei que o Gabriel estava no banheiro, já quase saindo, com a porta aberta lavando as mãos. Pensei que se aparecesse do nada o assustaria. Decidi, não sei por que, apenas abanar para ele, e apenas deixei minha mão à mostra no escuro, acenando.

 

Pense bem. No meio da noite, estás no banheiro, no escuro, te olhas no espelho e – do nada – surge uma mão abanando. NÃO TEM COMO NÃO TOMAR UM SUSTO. Impossível.

 

Foi o que aconteceu com ele, e depois eu não conseguia dormir rindo da situação que eu havia causado involuntariamente...

 

De manhã, após o café, fizemos checkout e voltamos para a estrada, em direção ao Brasil. Ao invés de entrarmos pelo Chuí, o caminho mais rápido seria por Rio Branco / Jagarão. Mais uma vez, 3h30 de viagem até lá, com as paradas para o rodízio do banco de trás. Chegamos a Rio Branco por voltas das 13h, aproveitando para abastecer em solo uruguaio ara a Karina gastar os pesos que tinha em espécie. 

 

A estrada

A lembrança que eu tinha de Rio Branco / Jaguarão era de uma passada lá que a Jacque e eu havíamos dado alguns anos antes, e não era das melhores. Mesmo que tenhamos comido uma boa parrilla, os free shops não eram muito grandes e pareciam não ter muitas opções. A surpresa foi quando, ao nos aproximar da região, ainda antes das ruas dos free shops, nos depararmos quando um free shop gigantesco, o Panda, junto com uma praça de alimentação onde pudemos almoçar num Burger King, depois de muito tempo.

 

Ficamos mais de hora entre almoçar e visitar o free shop. Muito bom, mas em tempos de dólar caro, não muito convidativo. Ainda assim, compramos uns chocolates, vinhos e doce de leite, além de uns presentes para a família que não foi.

 

De lá, mais duas horas e meia até São Lourenço do Sul, tempo esse que passamos entre a tentativa com sucesso de retirar o chip do celular quebrado do Gabriel e gravarmos vídeos fazendo uma retrospectiva da viagem. Como em outros momentos, mal vimos o tempo passar.

 

Chegamos em São Lourenço e fomos direto largar nossas coisas no hotel, antes de irmos para a casa do tio Beto e tia Édila, que nos esperavam com a churrasqueira preparada e um ótimo galeto. Quando chegamos, disse que ia caminhar um pouco para “tirar o carro do corpo”. O primo Augusto ofereceu a bicicleta dela para eu dar uma volta.

 

                                                  

Galeto


Depois de duas semanas, eu voltaria a pedalar.

 

Um vento contra contínuo, na beira da lagoa, vindo de todos os lados, e a dor cervical e em ombro direito abreviaram a volta, que foi de apenas 7km. Paciência, no outro dia, já em casa, compensaria...

 

Galeto e boa conversa foi nossa recepção de volta ao pago.

 

                   

Em São Lourenço, a primeira reunião depois que eu morri...


Após uma noite de sono, faríamos o trecho final até Porto Alegre.

 

Estava terminando, de vez, nossa viagem.

 

Até.

segunda-feira, março 21, 2022

Perdiditos en Uruguay (31)

A Viagem, décimo primeiro dia.

 

O começo da volta.

 

Após sairmos de Porto Alegre no dia 30 de janeiro ainda sem sabermos como resolveríamos a situação do PCR da Marina, e toda “confusão” gerada antes de entrarmos no Uruguai, passando pela estada em Punta del Diablo com a parrilla e a orelha furada do Gabriel, que acabou nunca sendo preso, banho de mar em Paloma que quase me matou de frio, os dias de Punta del Este com os dois quilômetros mais longos da história, o golpe do milk-shake em Piriápolis, o longo final de semana em Montevideo, uma grata – para mim – surpresa, a viagem para o passado que foi visitar San Jose de Mayo,  Colônia del Sacramento confirmando tudo o que haviam nos dito de bom de lá, e o piquenique em Carmelo, era hora de retornar em direção ao Brasil.  


Quando planejamos a viagem, a ideia era tentar não fazer na volta o mesmo trajeto da ida, só que em direção contrária. Para ser honesto, havíamos – quando das reservas – marcado os lugares até Colônia. A volta seria em três etapas: a primeira, de Colônia até um ponto no meio do caminho para o Brasil; a segunda, deste ponto até São Lourenço do Sul; e a última até Porto Alegre, aonde chegaríamos na sexta-feira, dia onze de fevereiro. Teríamos ainda o final semana para nos reorganizar para a volta ao trabalho na segunda-feira dia 14/02. 

 

Quem acabou escolhendo o ponto de parada após Colônia e antes de São Lourenço foi a Roberta, que pesquisou e encontrou um hotel que seria legal ficar, e então viu a localidade. Reservou o que nos pareceu ser um lugar bem legal, meio isolado, com um céu noturno cheio de estrelas devido à pouca luz de casas e cidades próximas.

 

O céu noturno me fascina, tanto ou até mais que as montanhas, pelas quais tenho uma atração quase irresistível. Algumas de minhas melhores lembranças de viagens são com cenários de montanhas, como nos Alpes ou nas Rochosas Canadenses, por exemplo. O Natal que passamos “na neve”, há mais de vinte anos, foi justamente nos Alpes Italianos. Aliás, durante a nossa viagem ao Uruguai completaram-se vinte anos da viagem que a Jacque e eu fizemos chamada ‘Alpes e Lagos’, como até já contei anteriormente.


Rochosas Canadenses, Banff, 2013
 

Quanto ao céu noturno, a descoberta do conceito/ideia de que estamos olhando para o passado, pois algumas das estrelas que vemos estão há milhares anos-luz daqui e podem nem mais existir, foi daquelas que mudaram minha forma de ver o mundo. Lembro, também, da época em que era bem mais novo, nas noites de verão quando víamos no céu noturno do litoral norte do Rio Grande do Sul milhares de estrelas, e era possível identificar a Via Láctea e sua beleza também me fascinava. Depois perdemos essa possibilidade, ou paramos de olhar para o céu, não sei a certo.

 

Em 2017, quando fizemos uma escapada de cinco dias durante a férias escolares de julho (eu trabalhava numa multinacional, mas aproveitei uma semana calma, e em comum acordo com minha gestora, tirei esses dias de folga) e fomos para Praia Grande, em Santa Catarina, conhecida como a cidade dos cânions devido à proximidade com os cânions na fronteira como Rio Grande do Sul, como o Itaimbezinho. Ficamos numa pousada sensacional, e em uma das noites fomos premiados por um céu límpido, de lua nova, com milhões de estrelas. Ficamos deitados na grama em frente nossa cabana, encantados com a visão – de certa forma – do Universo.  

 

                                

O céu noturno, Praia Grande/SC


O local que a Roberta escolheu foi em Villa Serrana, a cerca de 300km de Colônia del Sacramento. Mesón de las Cañas, o nome do hotel, que exigiu um depósito em dinheiro para confirmação da reserva, pois não trabalha com cartão de crédito. Fizemos o depósito já de dentro do Uruguai, quando estávamos em Punta del Este.

 

Villa Serrana fica no Departamento de Lavalleja, a poucos quilômetros da capital, Minas. Foi fundado em 1971 para ser um ponto turístico, de férias e descanso, entre os vales dos arroios Penitente e Marmarajá e tem cerca de 80 habitantes fixos. Até onde vimos, não há uma cidade (ou não a encontramos...). 

 

                                               

Meson de las Canãs

Ainda em Colônia, após o simpático e saboroso café da manhã, organizamos as coisas, fizemos o checkout, carregamos o carro e, na saída de Colônia, paramos num shopping para comprar lanches para a viagem, que durou cerca de cinco horas, com uma parada para lanche (além das paradas para rodízio de lugares) em San Jose de Mayo, em um posto de gasolina com uma loja de conveniência com ótimas empanadas. Estávamos indo para o final das férias, e o mundo real começava a reaparecer depois de vários dias. Eu, por exemplo, já combinava um churrasco com amigos para a semana seguinte, quando já estaríamos de volta.


A piscina
 

O Mesón de las Cañas foi, de certa forma, como esperávamos: um lugar muito legal encravado no meio do verde, isolado. A área social do hotel, com restaurante, uma grande parrilla ao ar livre, sala de estar com lareira, a área da piscina, tudo muito legal. Com relação ao quarto, pegamos um tipo cabana, com um quarto de casal, sofá-cama na sala, e outras seis camas num mezanino ao qual se acessava por uma escadinha íngreme e tinha, ele próprio, um pé direito baixo (quem dormisse na parte de cima teria que ficar abaixado ou deitado). Achei legal, mas eu ficaria no quarto de casal. O resto do grupo, contudo, não curtiu a ideia, e acabaram todos dormindo na sala embaixo.

 

Excetuando-se a questão do quarto/cabana, o lugar era espetacular. Fomos para a área da piscina, aproveitar um pouco do sol. Eu, por ter sido um dia de estrada, acabei me exercitando na piscina (caminhando dentro) por cerca de 40 minutos, para atingir minhas metas diárias de exercício e movimento.

 

Ao cair do sol, fomos para a área social, onde – antes de jantar ali mesmo – fizemos um happy hour bem divertido. Dali, só mudamos de lugar para as mesas do restaurante e tivemos mais um ótimo jantar, regado a vinho e cerveja e licuado para a Marina.

 

                               

Happy hour


Após jantar, fomos para a rua olhar as estrelas, que não estavam tão visíveis por a luz da lua ofuscava um pouco. Ainda assim, fiz ótimas fotos. Antes de ir dormir, ainda fizemos um “ritual” de despedida ali, na rua, no escuro, mas registrado em vídeo (eu não posso divulgar): cantamos – juntos – e dançamos, em círculo, o hino da viagem: “Ai, ai, ai, roubaram meu fhrüstick”...


                    

 

Eles voltaram para o quarto e eu ainda fiquei um pouco mais fotografando a noite. Voltei e fomos dormir, porque o dia seguinte seria de estrada e terminaríamos no Brasil, mais especificamente em São Lourenço do Sul. Tudo continuava bem.

 

O que eu não sabia era que encontraria o dementador da água na madrugada de Villa Serrana.   

 

Até. 

domingo, março 20, 2022

A Sopa (Los Perdiditos 30)

A Viagem, décimo dia.

 

Colônia del Sacramento.

 

Preciso falar sobre fotografia.

 

Antes de mais nada, fotografia está no sangue da família. Desde a infância, quando lembro de um dos meus tios que fotografava e tinha um laboratório de revelação que ficava na garagem da casa dos meus avós, até o meu irmão, que é fotógrafo e mora nos Estados Unidos, a fotografia sempre – de alguma maneira – esteve meio que por nossa volta.

 

Quando viajamos as primeiras vezes juntos, a Jacque e eu, o que tínhamos era uma dessas máquinas fotográficas Canon analógicas, com filmes – evidentemente – e que usamos por um bom tempo. Voltávamos de cada viagem com um número variável de filmes para revelação e, sim, era como viajar novamente ver as fotos reveladas e fazer o álbum de viagem. Uma vez, deixei o carro aberto (inadvertidamente) num estacionamento na Suiça e, ao perceber o ocorrido, o esquecimento, a minha maior preocupação foi o risco de roubaram a bolsa com todos os filmes a serem revelados. Não roubaram nada, claro, estávamos na Suiça...


A primeira câmera digital que comprei veio da B&H, loja de Nova York. Naquela época comprávamos por telefone e entregavam em casa em poucos dias, o imposto incluído. Era 2002, ainda antes da Amazon e outros companhias do gênero. Era uma Nikon Coolpix 995, uma boa câmera que durou até 2006, quando – morando no Canadá – deixei cair e quebrou, infelizmente. Foi aí que resolvi dar um “salto de qualidade”, digamos assim.

 

                                              

Nikon Coolpix 995


Quando fui comprar uma câmera nova, entre outros quesitos, uma que fizesse “som de máquina fotográfica” ... Que fosse um pouco menos automática (mas não muito menos), que me desse possibilidade de trocar a lente, que fosse – digamos assim – um pouco mais profissional. Quis uma câmera SLR (single lens reflex). Escolhi, com a ajuda do meu irmão, uma semiprofissional, uma Nikon D50. Se por um lado foi um upgrade, por outro tornou um pouco mais “difícil” fazer as fotos, porque a usava em modos não totalmente automáticos. Com o tempo, me adaptei e a levei para várias viagens, tanto que acabou quase se tornando a única câmera que levávamos em viagens. 

 

Após alguns anos, novo upgrade: comprei do meu irmão uma nova DSLR. Como, por razões de trabalho, ele estava vendendo uma de suas câmeras, com pouco uso, comprei dele a que tenho até hoje, uma Nikon D7000. Muito melhor que as anteriores que eu havia tido. Ótima câmera, comprei também mais uma lente (tinha uma 18-55mm e comprei uma 50-200mm) e o tripé. Fiquei muito bem equipado para minhas intenções de fotografia, e carregava tudo nas viagens, claro. Até o surgimento das câmeras de celular de boa qualidade.

 

                                     

Nikon D7000


As câmeras dos celulares melhoraram muito desde que surgiram, e – com o tempo – ganharam características de edição de imagens que as tornaram por vezes muito mais práticas que as antigas. Enquanto com a minha Nikon D7000 eu preciso carregá-la em uma mochila junto com a lente acessória, o tripé junto, o celular vai no bolso, o tempo todo. Além disso, em tempos de redes sociais, a foto do celular vai direto, e a da DSLR eu tenho que baixar as fotos para o computador...

 

Por isso, progressivamente foi se utilizando mais o celular do que a máquina fotográfica digital. Principalmente no dia a dia, pequenos passeios e eventos. Viagens grandes, e importantes, pedem uma máquina maior e -de certa forma – melhor.

 

Essa era uma viagem grande e importante.

 

E, excetuando-se em Montevideo, a utilizei muito. O ponto alto do seu uso foi, justamente em Colônia del Sacramento, como contarei a seguir... 

 

Então.

 

Acordamos e tomamos café na simpática Nova Posada, em uma sala com vista para o quintal, com sol brilhando e temperatura agradável. Mais uma manhã radiante no Uruguai. Nosso plano do dia: visitar Carmelo.

 

Carmelo é uma cidade no Río de la Plata, a oeste do Uruguai, a cerca de 78km de Colônia, mais ou menos uma hora de viagem. É conhecida pelas praias, como a Playa Seré, e – interessante - está rodeada por vinícolas. Como outras cidades do interior do Uruguai, parece parada nos anos cinquenta. A vida parece andar mais lentamente, num ritmo mais tranquilo.  A praça central, a Plaza Independencia, encontra-se a norte e é (mais uma) a típica praça de cidade do interior, com a igreja e a intendência.

 

Estacionamos, visitamos a praça, e então a Roberta pegou o telefone e começou a ligar para tentar agendar um piquenique em uma vinícola. Sabíamos que terça-feira seria difícil, mas valia a tentativa. Ela tentou uma primeira, sem sucesso. Na segunda ligação, foi informada que até poderiam fazer, mas não seria como nos dias normais. Teria menos estrutura, e por isso nos daria um desconto. Agendamos para próximo às 13h, e fomos passear um pouco por Carmelo.

 

                                      

Carmelo


Seguimos caminhando até a Rambla, junto ao Arroyo de las Vacas, de onde se vê a ponte vermelha pela qual entramos na cidade. Só após a volta, estudando sobre Carmelo, que descobri que essa ponte é giratória... Após o passeio pela orla e de volta à praça, seguimos para a vinícola Campotinto.


                                          

 Rambla


A vinícola (e pousada) Campotinto fica a cinco quilômetros do Centro. Em meio aos vinhedos, há um restaurante e a pousada. Chegamos no restaurante (éramos os únicos, naquele momento, em plena terça-feira) e o “pacote” que havíamos contratado constava de duas cestas de piquenique e a toalha. Poderíamos fazer o nosso piquenique onde quiséssemos por ali, e escolhemos ficar na sombra de uma árvore, na grama, ao lado de um parreiral. 

 

Vinícola Campotinto


Uma cesta era composta ppor duas garrafas de vinho, um tinto e um branco, mais águas com e sem gás. A outra era de comida: frutas, pães, queijos e fiambres. Quase um banquete. E isso que era um piquenique “de improviso” ...

 

                                                

Piquenique


Foi literalmente, uma festa.

 

                                     


Ficamos horas ali, sem os sapatos, sentados na grama, aproveitando a comida, o vinho (menos eu, que era o motorista, e a Marina, menor de idade), falando, contando histórias, gravando vídeos que nunca serão mostrados para ninguém, e rindo muito. A Roberta foi ver o galinheiro e conversou com a galinhas, e eu gravei um vídeo falando das uvas, essas de mesa, e (aaaaaaaaiiiiiaaaai!!!), parodiando o clássico vídeo do hoje senador Lasier Martins na festa da Uva de Caxias. E não tinha mais ninguém à volta. Foi bem legal. Poderíamos ficar o dia todo ali, vendo o tempo passar, a grama crescer, os pássaros voarem...

 

                                


Em resumo: foi ótimo, memorável.

 

Retornamos para Colônia em tempo de preparar o mate e ir para assistir o pôr do sol no Rio da Prata. Dessa vez, mais ainda que no dia anterior, o céu estava limpo, sem nuvens, muito claro. Nos posicionamos no melhor ponto que encontramos para vê-lo, e esperamos o momento de testemunhar o espetáculo (dos mais belos que vi) e, claro, fotografá-lo. E foram as melhores fotos de toda a viagem.


                                     

Final do dia


O por-do-sol sem nuvens, com o sol descendo no Rio da Prata e – ao longe – o skyline de Buenos Aires, valeu por toda a viagem. De verdade. Utilizei a minha lente 50-200mm e fiz – sem falasa modéstia – fotos espetaculares. Ficamos um bom tempo ali, entre esperar o momento, fotografá-lo, e ver a noite caindo lentamente.

 

                                  

Pôr do sol




Após, jantamos num restaurante de frente para o Rio da Prata, exatamente ao lado daquele da noite anterior da picada que a Karina havia destestado. Foi bem melhor, admito. Pedi uma caipirinha, que veio com um tom de verde acentuado, por um licor (de menta) provavelmente que foi colocado. O Gabriel disse que haviam “firulado” a caipirinha. O verbo firular, de fazer firulas, enfeitar desnecessariamente. Rimos todos. Tomei sozinho e não dividi...

 

Foi – uma vez mais – um jantar divertido, em que todos estávamos bem-humorados e leves. Voltamos para a pousada para descansar.

 

No dia seguinte começaria a volta.

 

Até.