domingo, março 13, 2022

A Sopa (Los Perdiditos 24)

A Viagem, sexto dia (4).

 

Quieres yerba’?

 

Tenho um dom quando o assunto são idiomas.


Eu não falo muitos deles.

 

O que não quer dizer que seja um grande problema, afinal sempre consegui me comunicar quando no exterior, seja utilizando o inglês, que domino razoável e modestamente, ou fragmentos de outros idiomas que servem para angariar simpatia, boa vontade ou pena nos meus interlocutores. Transito com fragmentos de alemão, alguma mínima noção de italiano adquirida em diversas viagens para lá e até da música italiana dos anos 60 e 70 que a Jacque e eu somos muitos fãs. 

 

E tem o espanhol.

 

Cursamos um semestre de espanhol há alguns bons anos, a Jacque e eu. A escola ficava em frente a nossa casa, totalmente conveniente. Do que mais me lembro dos ensinamentos desse semestre são o “A mi no me gusta”, com sua resposta “A mi tampoco” ... Mas vivemos no Sul da América do Sul, e somos fronteiriços com Argentina e Uruguai, somos gauchos, quase doble chapas, e o espanhol não nos é estranho no dia a dia. 

 

E nem que nos fosse estranho o espanhol, a pergunta “quieres yerba” não seria. Só existem duas possibilidades para essa pergunta: estamos falando de chimarrão, e a erva a que se refere a pergunta é a erva-mate, ou estamos falando de maconha. Quando o cidadão em questão (que não vi) perguntou isso para a Jacque, em plena Plaza de la Constituición, em frente à Catedral de la Inmaculada Concepcion, San Felipe e San Tiago, tínhamos certeza de que ele não falava de chimarrão.


                    Plaza Constitucion                                                                            Plaza Independencia

A maconha está liberada para consumo recreativo no Uruguai. Então sentimos o cheiro de sua fumaça e vemos pessoas em diferentes locais a consumindo, naturalmente, ao ar livre, mesmo em restaurantes (com mesas na rua, claro). Na Cuidad Vieja, passamos por uma ou duas coffees shops, locais em que ocorre a venda. Não sei e não me interessei em saber como fazer para consumir...   


                    

Selfie na Plaza Independencia


Era sexta-feira no final da tarde, e já havia muitas lojas fechadas, e menos movimento na parte antiga da cidade. Andamos até a Plaza Independência, a mais importante de todas as praças de Montevideo, que “separa” a cidade velha da cidade nova, onde está o mausoléu de José Artigas, herói nacional do Uruguai. Ficamos sentados em bancos na praça em frente ao monumento a Artigas, e curtimos um tempo ali. De lá, fomos para a Rambla, esperar o pôr do sol junto com milhares de pessoas que passeavam por lá. Aproveitei para uma caminhada apenas para completar minha meta de exercícios e movimento do dia. Muito agradável, exceto pelos mosquitos que estavam por todo lado.


     
                                                                   Rambla, final de tarde


Voltamos ao hotel para nos preparar para a noite, que foi no Mercado Ferrando, que a Roberta havia sugerido após fazer uma pesquisa de opções para nós. É um complexo com várias opções de restaurantes e bares que compartilham uma área comum onde há mesas coletivas. Lembra um pouco, numa versão menor, o Mercado da Ribeira (Time Out), de Lisboa, ou o próprio Bigote, de Punta del Este.

 

                                          

Pizza


Foi uma noite agradável. Marina e eu comemos pizza, e o Gabriel (sempre preocupado com a quantidade de comida ser pouca) comeu um poke com a avidez de um predreiro, como se fosse a sua última refeição, com sofreguidão e entusiasmo. Lembrou ‘Construção’ do Chico Buarque:


Sentou pra descansar como se fosse sábado

Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago

Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acabou no chão feito um pacote flácido

Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

 

Voltamos ao hotel para descansar e torcer para que no dia seguinte não chovesse, porque essa era a previsão.

 

Até.

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