domingo, dezembro 31, 2023

A Sopa (a última de 2023)

Retrospectiva (3). 

Eu nunca digo não a um convite para um churrasco.

 

Há um famoso estudo desenvolvido pela Universidade de Harvard, uma coorte de pessoas que foi acompanhada por cerca 75 anos (!) e que pretendia responder à pergunta “o que determina a qualidade de vida ao longo da vida?”. E a resposta foi simples e direta: o que melhor garante nossa saúde física e mental são as relações pessoais. Quem criou laços fortes com outros seres humanos viveu mais e melhor – para além de dinheiro, status ou emprego

 

Ainda antes de ter conhecimento do estudo acima (e tem um TED Talks sobre ele), eu já mais ou menos sabia, ou sentia, isso o que levaram setenta e cinco anos para comprovar: somos seres sociais, e isso é bem importante. E é por isso que sempre fui um “botador de pilha”, alguém que estava sempre pronto para reunir as pessoas, congregar, conviver. Porque, mesmo que inconscientemente, eu sabia que a vida entre amigos/afetos é a vida que vale ser vivida.

 

Ao longo dos anos, houve momentos de introspecção, de retração, de sensação de deslocamento e de não pertencimento, mas o espírito sempre de certa forma agregador foi o mesmo. Também por isso a empolgação com (e a necessidade de) fazer parte de grupos e confrarias, de reuniões sociais. É de onde vem a Sopa de Ervilhas do Marcelo, por exemplo. E é por isso, também, que o período da pandemia foi difícil: ela impediu as reuniões sociais, impediu os grupos. E fazer parte de grupos sempre foi importante para mim, apesar de – evidentemente - haver necessários momentos de introspecção e de estar sozinho.

 

Dois mil e vinte e três foi pródigo de momentos, digamos, sociais.

 

Relações foram fortalecidas, grupos formados estreitaram laços. Muitos churrascos ao longo do ano, em diferentes grupos de amigos. Semanas em que havia reuniões quase todas as noites. A ampliação de laços, de conexões (tópico muito significativo para mim) foi um dos destaques pessoais do ano. E o que torna, em resumo, 2023 um ano bem bom, posso dizer. 

 

Profissionalmente, também foi de ampliação de horizontes, mas também de manutenção e aperfeiçoamento do conquistado, mesmo quando houve um momento de ter a sensação de ser mais empreendedor e músico do que médico, de que estaria deixando um pouco de lado a medicina, o que em nenhum momento foi verdade, logo me tranquilizei. Equilíbrio, sempre a palavra-chave.

 

Em resposta a um amigo que enviou uma mensagem quando viu minha retrospectiva fotográfica de 2023 e comentou que “teve bastante hospital nesta retrospectiva”, eu disse que sobrevivi, sobrevivemos, e fizemos muitos churrascos, e isso é o que conta... Ponto. Como Harvard concluiu, o que vale são as relações, as amizades, os afetos. Continuemos assim, então.

 

E 2024?

 

Vai ser ainda melhor.

 

Até.

sábado, dezembro 30, 2023

Sábado (e dias de recesso)

Para (também) tentar entender o mundo
 

Dias de descanso.
Mas dia 02/01 já de volta ao consultório.
Bom sábado, bom final de ano a todos.

Até.

domingo, dezembro 24, 2023

A Sopa

Retrospectiva (2).

 

Sigo refletindo sobre 2023.

 

Falei de saúde, e de como – apesar de uns tombos, literais nesse caso, que a vida nos proporciona – sigo em frente altivo, confiante, resoluto. Vamos adiante, então.

 

Antes, contudo, voltemos no tempo.

 

 Durante muitos anos, e há muitos anos, houve um tempo em que minha atividade médica “engatinhava”, no sentido de que era um momento em que eu ainda não havia – modo de dizer – me encontrado como médico. Posso dizer que havia uma certa relutância em me assumir 100% médico, porque existia a crença de que isso seria limitador, de que não poderia ser nada mais do que médico. É possível que essa ideia – errada, hoje sei – tenha surgido da observação de colegas, que não sabiam falar de ou fazer outra coisa que não estivesse relacionada à medicina, e eu não queria ser daquela forma.

 

Era uma limitação minha, essa de não enxergar além, uma visão míope das coisas.

 

O que causou o que poderia ser chamado de atraso no desenvolvimento e/ou evolução da minha carreira médica, porque eu nunca me dedicava totalmente a ela para – em minha limitada visão naquele momento – não excluir outras possibilidades, o que gerava uma situação de inércia, pois não ia para nenhum lado, não avançava em nenhuma direção. Houve, contudo, um momento de virada: o ano em que completei trinta anos.

 

Decidi, conscientemente, que era hora de tomar uma atitude, tipo ou vai ou racha. Era hora de me dedicar totalmente à medicina para ter certeza de que era isso que eu deveria, ou gostaria de, ser. Foi o que fiz, e as coisas acabaram dando certo, posso dizer. Terminei o doutorado (que havia começado mesmo na fase da inércia) e emendei com o pós-doutorado no Canadá. Voltei do período em Toronto e havia um caminho (que eu havia) pavimentado em frente. Eu era, enfim, 100% médico. Porém, mantive a ideia de fazer algo além, um plano B ou uma rota de fuga. Vai que eu desistisse da carreira médica. Mas não só por isso. Eu queria mais, porque eu não era “apenas” médico. Eu era mais, queria fazer mais, queria expandir meu universo pessoal, olhar além.

 

Essa ideia, ou plano, fico latente durante um relativamente longo período, porque acabei assumindo compromissos profissionais que ocuparam meu tempo quase completamente, e foi bom, mas não tinha tempo nem para escrever, de tantas atividades em que estava envolvido. Eu era parte de uma engrenagem, e a roda não poderia parar. Segui correndo e assumindo mais e mais compromissos, e estava satisfeito com os resultados, tanto profissionais quanto financeiros, evidentemente. Trabalhei, inclusive, no mundo corporativo.

 

Chegou um momento em que vi que essa loucura tinha um prazo para acabar, e defini o meu momento de mudar, e ia começar a me preparar para isso quando – em uma reestruturação corporativa após uma auditoria externa – anteciparam o momento de eu sair do trabalho em uma multinacional, cerca de dez meses antes do que eu planejava. É da vida, e decidi nesse momento fazer um “ano sabático”, me dedicando apenas ao atendimento de pacientes, período esse que terminaria justamente quando começou a pandemia...  

 

Não vou falar da pandemia porque já se falou (já falei) demais dela.

 

Assim como já falei de como voltei (se é que já havia estado alguma vez) ao mundo da música. Primeiro como pai de aluna. Depois, como aluno. Finalmente, há alguns meses, como sócio da School of Rock aqui em Porto Alegre. Decidi depois de (muito) pensar, investir em um negócio fora da medicina, que segue minha principal atividade, pois foi ela que me proporcionou os meios para investir nesse, digamos, projeto paralelo.

 

Não mais como plano B ou rota de fuga, mas uma parte importante de quem sou e que reafirma a ideia de ampliar cada vez mais os meus horizontes, e ter a convicção de que as habilidades desenvolvidas como empreendedor, músico e escritor me tornam um médico melhor, uma pessoa melhor. 

 

E que venha 2024.

 

Até.  

sábado, dezembro 23, 2023

Sábado (and we're a happy family)

Colégio Bom Conselho, 20/12/2023
 

Conclusão do Ensino Fundamental da Marina.
Bom sábado a todos.

Até.

domingo, dezembro 17, 2023

A Sopa

Retrospectiva.

Sempre faço retrospectivas nos finais de ano. Como quem me lê já sabe, e escrevi isso essa semana mesmo, procuro estar sempre pensando a vida, refletindo, avaliando e reavaliando todos os passos dados, todas as decisões tomadas. É parte de quem sou. Dessa forma, a chegada dos últimos dias de cada ano são mais do que propícias para esse tipo de movimento, o de refletir. 

Como definir 2023? 

Foi um ano de expansão, é meu primeiro pensamento/conclusão. 

 

E, ressalva óbvia, mas importante, falo de mim unicamente, que é de quem posso falar com mais propriedade. É do meu ano particular que vou falar, porque aqui é espaço para isso, é minha terapia. Mas, pensando, por qual dimensão da vida vou começar essa retrospectiva? Ou vou pensar mês a mês?

 

Tanto faz.

 

Falemos de saúde, então.

 

Sem nenhum tipo de superstição envolvida, sem astrologia, tarô, runas ou qualquer outro tipo de pensamento mágico, baseando-me em fatos ocorridos, posso dizer que – em termos de saúde – março tem sido um mês desafiador para mim. Desde 2021, quando tive uma hipotensão postural em uma madrugada, que resultou em queda, traumatismo craniano, uma jornada noturna em busca de atendimento em um momento complicado da pandemia, terminando no HPS e posteriormente até com estudo eletrofisiológico para investigar uma possível arritmia, março tem se caracterizado por situações e tratamentos de saúde.

 

O ano de 2022 foi, após as férias no Uruguai em que passei com dor na região cervical e sob efeito de analgésicos, foi em março que fiz o diagnóstico de hérnia de disco cervical, tratado conservadoramente com um colar cervical por vinte e um dias. Esse ano, como repetidas vezes falei, março foi quando – após um memorável show de rock que assisti em São Paulo, quando fiquei oito horas em pé – tive crises do dor insuportáveis e o diagnóstico de uma hérnia de disco lombar cujo tratamento foi cirúrgico, com recuperação completa. Bola para frente, só me preocuparia com questões de saúde a partir de fevereiro de 2024, “cuidando” para não ter problemas no março vindouro, certo?

 

Errado.

 

Mudei a estatística, me antecipei, “driblei” a previsão: na metade de outubro, há pouco mais de dois meses, tive um acidente de bicicleta, uma queda forte aqui perto de casa, com episódio de amnésia lacunar e alguma confusão quando cheguei em casa pedalando, após o acidente. Levado de carona para o hospital, ressonância e avaliação neurológica normais, rx de punho comprovou fratura do rádio distal, cujo tratamento acabou sendo cirúrgico, com colocação de placa e parafusos para fixá-la, a segunda cirurgia do ano.

 

A recuperação tem sido boa, mas ainda não estou liberado para as atividades físicas, o que deve ocorrer apenas no início do próximo ano, em mais quinze dias. Paciência, faz parte.

 

Mesmo com tudo isso, foi um ano bom.

 

Os eventos do ano abalaram a minha sensação de juventude? Não muito, confesso, mas a consciência de que tenho que levar mais de leve, não me expor demais a riscos, certamente aumentou. O futebol, por exemplo, abandonei, porque das últimas quatro vezes que joguei, sendo a última há pouco mais de um ano, em três sai machucado, sendo que nessa última tenho convicção de que foi a hérnia de disco que só iria realmente “incomodar” em março.

 

Sem falar que as situações de março surgem (ao menos nos últimos dois anos) quando estou planejando uma festa de aniversário para mim, o que acaba a inviabilizando-as, que deveriam ocorrer no início de abril. Já estava pensando em fazer a festa do ano que vem, mas tenho medo de – sei lá – perder um rim em março de 2024. 

 

Até.  

sábado, dezembro 16, 2023

Sábado (e essa semana teve a Marina no cinema)

Na telona

Cine Capitólio, segunda-feira 11/12/2023
Lançamento do filme 'One', produção da BAM Musicais.
E amanhã tem, no Theatro São Pedro, High School Musical Experience.

Até.

quinta-feira, dezembro 14, 2023

A Sopa

Ciclos.

Assim é feita a vida, de ciclos que iniciam e – em algum momento – devem terminar. Como terminam os dias, os meses, o ano. Assim sempre foi e sempre será. 

Por isso eu gosto muito da virada do ano. 

Mesmo que todos saibamos que o último dia de dezembro é exatamente igual ao primeiro de janeiro, a mudança simbólica, a sinalização protocolar da passagem do tempo, é um ótimo momento para – mesmo que animicamente – iniciar o novo ciclo, um novo momento. Funcionaria como zerar o cronômetro e, numa alusão ao futebol, colocar a bola no centro do campo e recomeçar o jogo. Eu faço isso sempre, de uma forma ou outra. Depois dos dias de descanso entre o Natal e o Ano-Novo que tradicionalmente fazemos em casa, e após as reflexões trazidas ao fazer retrospectivas do ano que termina, ainda há um tempo para planejar, projetar, estabelecer metas para o ano que virá. 

 

Funciono bem assim.

 

Ao se aproximar o final do ano, começo a refletir sobre o quê foi feito no ano que termina, os meus atos, suas consequências e o que me aconteceu fruto do acaso. Reviso os caminhos percorridos e as decisões tomadas. Procuro colocar tudo em contexto, em perspectiva, durante a avaliação, se as decisões que tomei estiveram de acordo com o meu plano original ou não, ou, ainda, se o plano original teve que ser revisto porque também fazemos o caminho enquanto andamos, nunca esqueço. Após a retrospectiva do ano que termina, ou junto ou até antes, projeto o que virá baseado nas metas alcançadas e nas não alcançadas no ano que passou, desenvolvo as novas ideias e objetivos que viram (virarão) projetos que surgem (surgiram ou surgirão) ao longo desse período.

 

Faço planos, penso o futuro, mas não como ente estanque, imutável, mas como uma ideia geral, um caminho a ser desvendado, a ser estabelecido enquanto é percorrido.

 

E isso que nem falei das pessoas.

 

Elas são o mais importante.


Falo delas outra hora.

 

Até.

domingo, dezembro 10, 2023

A Sopa

 Estórias.

 

Tenho muito gosto por ouvir e contar estórias. Como muitos já sabem por aqui, uma das definições da vida que costumo dar é que ela é não muito mais que estórias para contar. Esclarecimento: gosto de usar a palavra estória, em oposição (não verdadeira) à história. Acho mais simpático, até mesmo afetuoso...

 

Bom, estórias e histórias.

 

As acumulamos ao longo da vida, e acho que deveríamos registrá-las de alguma forma, por escrito, áudio ou até áudio e vídeo, para que não se perdessem. Gostaria de ter registrado muitas estórias que ouvi durante a vida, mas acabei não fazendo. Quero tentar registrar aquelas que ainda são passíveis de registro, aquelas em que os seus personagens ainda estão disponíveis para contá-las, para dividi-las comigo e, por que não, com o mundo. Todos temos, e todas (nossas e dos outros) são – a seu próprio modo – relevantes.

 

Viver nada mais é do que colecionar estórias.

 

E, talvez ainda mais importante, é quem vive essas estórias conosco. Quem está ao nosso lado durante a caminhada. Sabemos disso, mas repito aqui: o destino não é o mais importante. O caminho, a jornada, a trajetória. As nossas opções ao longo do trajeto (a vida) determinam como será essa travessia, como – em suma – viveremos.

 

Lembrei do futebol.

 

Talvez já saibam, ou não, mas eu sou – com orgulho – O Pior Torcedor.

 

Pior torcedor porque já não consigo mais não ser racional ao lidar com o futebol. Aliás, digo que não gosto de futebol: torço para o Inter, o que são coisas diferentes, afinal não sou o tipo de pessoa que para tudo para assistir jogos de futebol em geral como forma de diversão. Não, eu só tenho interesse pelos jogos do Inter. E como diversão. É diferente do basquete, por exemplo, do qual sou torcedor do Toronto Raptors (por motivos afetivos, de quando morei lá), mas se está passando um jogo na televisão certamente vou parar para assistir.

 

Ou seja, se o Inter está jogando bem, ganhando, eu acho o máximo. Em caso contrário, não me diz respeito. Se o jogo está ruim, desligo a televisão e vou fazer outra coisa, porque eu quero é relaxar, me divertir, fugir do estresse. Se está mal, nem leio notícias relacionadas a isso. Não toco flauta em ninguém porque não quero que me incomodem. Futebol, no final das contas, é algo que idealmente assisto sozinho, em silêncio, em casa e no escuro.

 

Mas descobri outro lado, que não tinha me dado conta, não vale apenas para o meu time, e é – sim – uma forma de ver a vida: vale a jornada, apesar de saber que o mais importante é – evidentemente – o objetivo final, ser campeão. O objetivo de qualquer time em um campeonato é o título, obviamente. Mas jornada também vale.

 

O Inter, por exemplo, não foi campeão da Libertadores da América, pois perdeu a semifinal para o Fluminense. Fiquei frustrado como torcedor?  Evidentemente, queria ser campeão. Mas foi tudo em vão, tempo perdido? Não, de forma alguma. Todo o trajeto percorrido até a eliminação foi divertido, emocionante, me deixou empolgado e feliz. A derrota foi um desfecho indesejado, mas não foi tudo ruim. Reforço: queria MUITO ser campeão, mas perder na semifinal não me faz esquecer toda a diversão que tive até ali.

 

O mesmo pode ser dito do Grêmio de 2023.

 

Não foi campeão brasileiro. Isso torna a participação no campeonato um fracasso? Definitivamente não. A jornada, toda a trajetória no campeonato, ainda mais com o Suarez jogando, esse ano foi divertida para que é torcedor, e eu entendo e respeito isso. A não conquista do título invalida todo o resto? Não. Ponto.

 

No futebol, como na vida, devemos olhar em perspectiva e sermos menos maniqueístas. Nem tudo é preto ou branco (vermelho ou azul). E não é só o desfecho último o que conta (apesar de ser, sim, o mais importante).

 

Até.

sábado, dezembro 09, 2023

Sábado (em família)

Iniciando as celebrações de final de ano...


                    School of Rock Benjamin POA
                   Quarta-feira, 06/12/2023.
                   
                    Bom sábado a todos.
                   
                    Até.
 

quarta-feira, dezembro 06, 2023

A Sopa

Como está sendo o seu dia? E o mês, o ano?

 

Como avaliamos a vida, em geral? É apenas do ponto de vista pessoal, individualmente falando, o microcosmos em que vivemos como referência para sabermos se estamos – ao menos – no caminho certo, ou devemos levar em conta o todo, o mundo, o Universo? Devemos levar em conta a guerra da Ucrânia, a violência no Rio de Janeiro, os ataques terroristas contra Israel? O Universo em expansão, os buracos negros? Prejudica tua avaliação de quão bem está sua vida?

 

E no plano pessoal, falando das adversidades da vida, elas conseguem te abater?

 

Pensei isso esses dias enquanto lidava com as limitações temporárias decorrentes do meu acidente de bicicleta, a fratura do braço e o pós-operatório da cirurgia de colocação da placa fixada por parafusos. Percebi que andava desanimado, meio cabisbaixo, em contraposição ao meu estado de ânimo nos dias precedentes ao acidente. As circunstâncias haviam me colocado para baixo. Fatos que não estavam sob meu controle me chateavam, deprimiam. 

 

Tenho dito por aí que a vida de tempos em tempos tenta nos derrubar, e volta e meia até consegue... Cabe a nós mesmos levantar e continuar caminhando. De novo e sempre, por mais que caiamos.  Eu, por exemplo, caio.

 

Parênteses.

 

Estive pensando nisso, na teoria de que o nosso discurso molda a nossa realidade. Já há algum tempo eu tenho por hábito dizer para as pessoas que sou alguém que cai. Sim, porque tenho um passado de algumas quedas, principalmente em banheiras (e até para fora de algumas delas). Poderia dizer que crio a expectativa de que vou cair e, quando isso, evento na verdade raro, acontece, a minha queda torna-se evento confirmatório definidor de quem ou o quê sou. O que não é verdade.

 

Fecha parênteses.

 

Falava eu, então, da maneira pela qual avaliamos a vida em geral. Que perspectivas utilizamos, se olhamos para o nosso próprio umbigo ou devemos ser mais amplos, olhar para o mundo em geral. Confesso que não tenho uma resposta definitiva para isso, principalmente porque esse tema entra naquele tipo de situação termos controle versus não termos controle sobre o que acontece. A pergunta é: qual o sentido de avaliarmos nossa vida levando em conta o que nos acontece e que é fruto do acaso, se – por ser justamente isso, o acaso – não depende de nós mesmos. Será que não deveríamos avaliar o que nos acontece tendo por base o resultado de nossas ações, as consequências de nossas escolhas?

 

Mais uma vez, não sei.

 

Aqui do Sul do Mundo, onde vivo, procuro avaliar minha vida sob o ponto de vista estritamente pessoal, individual. Olhando para o meu umbigo, me olhando no espelho. Irresponsavelmente, talvez, procuro desconsiderar o mundo exterior nesses momentos de autoavaliação. Estar bem, satisfeito comigo mesmo, não depende do mundo exterior. E não depende, também, apenas do momento atual (que é importante, eu sei).

 

Quando, no final do dia, paro e penso nisso, em como vai a vida, procuro o olhar o todo, o meu todo, a minha história e minha trajetória, não apenas um recorte de momento. Porque o contexto e a trajetória, a jornada, são importantes, ao menos para mim. De onde vim, onde estou e para onde vou.

 

Só depois dessas reflexões é que posso olhar para fora, e ir atrás de mudar o que posso mudar, o que depende de mim, e procurar ter a serenidade de aceitar o que não depende de mim.

 

Até. 

domingo, dezembro 03, 2023

A Sopa

Dezembro.

 

Não desejamos mal a quase ninguém...

 

Eu tenho, por princípio fundamental, a tendência a acreditar nas pessoas. Todos são pessoas de boa fé até que se prove em contrário. Apesar dessa crença na humanidade, não sou bobo (ou tento não ser).

 

Essa semana foi momento de trocar os pneus do carro. Os quatro, de uma vez. Já estavam pedindo isso, afinal meu carro tem quase cinco anos e quase cinquenta e oito mil quilômetros. Ela havia chegado numa fase em que estava desgostoso com ele, que parecia apresentar sinais de que era hora de ser trocado, apesar de eu gostar muito de dirigi-lo e ter um tamanho adequado para minhas funções de motorista da família e da Marina e amigos. O teto solar vinha entrando água quando chovia muito, a bateria já não era mais a mesma, os pneus estavam dizendo para todo mundo que cabelos eram supervalorizados... 

 

Era hora de tomar uma atitude.

 

Pesquisando, aprendi que o teto solar do carro tem um dreno que deve ser limpo. Feito. Parou de entrar água... A bateria me avisou em um dia à tarde que estava morrendo, a tempo de eu chegar em um estacionamento de um hospital onde trabalho e de lá pedir a tele-entrega de uma nova. Feito. Até o sistema de Start and Stop voltou a funcionar. 

 

Faltavam os pneus.

Nesse meio tempo, caí de bicicleta, fraturei o braço direito, fui submetido à cirurgia para colocar placa e parafusos e fui adiando a troca. Não fomos com o meu carro para a fazenda no início de novembro (eu não podia dirigir na naqueles primeiros dias de pós-operatório), quando passei todo o feriado me sentindo um chapéu velho, inapetente, com diarreia, e muito frio, tanto é que passei quase o tempo todos “abraçado” no fogão à lenha...

 

Mas tudo melhorou e chegou a hora tomar uma atitude.

 

Quarta-feira que passou foi dia de resolver o problema. Assim que acordei fui fazer uma pesquisa de preços online nas principais lojas de pneus. Negociei via WhatsApp e decidi que o melhor preço/qualidade seria na Zé Pneus, que tem várias lojas em Porto Alegre. Escolhi a filial mais ou menos perto de casa. Tudo certo.

 

Fui até lá, já estavam me esperando.

 

Ao retirar o primeiro pneu, o funcionário me chamou, me mostrou o amortecedor e disse que estava vazando e deveria trocá-lo. Paciência, pensei. Quanto vai sair a brincadeira, pensei, já pesquisando no Mercado Livre. Ele me disse que não tinham à disposição, mas cotariam o preço e me dariam retorno. Tudo certo, mais uma vez. Trocaram os pneus e fui embora.

 

Em meio à tarde, recebi o orçamento: cinco mil e trezentos reais (!!!).

 

Respondi que estava meio caro, que iria fazer outros orçamentos e que entraria em contato. Respondeu que seria possível reduzir algumas coisas e que poderia sair por mil reais a menos... Respondi eu iria ver e daria retorno. Ato contínuo, mandei mensagem para a empresa onde fizera a troca das pastilhas de freio por um valor honesto solicitando orçamento. Disseram que me retornariam com o valor assim que possível, o que não aconteceu no mesmo dia. Enquanto isso, passei a ouvir ruídos enquanto eu dirigia, ruido que nunca ouvira...

 

Dia seguinte, quinta-feira de manhã.

 

Vou direto para o hospital, e faço a parada usual na Associação dos Médicos, para um café e encontrar colegas. Encontro os mesmos desse horário (somos pessoas de rotina). Em meio à conversa, conto a história dos amortecedores, e o Valentin, que foi meu professor, meu médico, também médico do meu pai, e que é amigo e meu paciente, me recomendou procurar o mecânico dele, ali perto do hospital, para uma avaliação. Para tirar a dúvida e dar um orçamento justo.

 

Antes do final da tarde, recebi o segundo orçamento que havia pedido: três mil e novecentos reais. Ainda caro, mas melhor. Terminei o consultório e fui até o mecânico que havia sido indicado.

 

Cheguei, me apresentei, disse quem havia me indicado e ele disse que estava me esperando (já havia sido avisado que eu iria). Expliquei a ele os fatos. Levantou o carro, olhou, olhou, circulou em volta do carro, baixou o carro, “sacudiu ele”. Disse que os amortecedores estavam bem, que não precisavam ser trocados. Estava tudo bem. Não iria me cobrar nada, evidentemente.

 

Saí feliz e aliviado, mas logo pensei: “filho da puta”!

 

O caro que trocou os pneus e disse que precisava a troca havia tentado me induzir a gastar cinco mil reais sem necessidade. Cinco mil reais! Se tivesse disponível na hora e me cobrasse uns dois mil, é provável que eu tivesse feito a troca. Gastaria dois mil sem necessidade, por ingenuidade, por acreditar na seriedade/honestidade das pessoas.

 

Qual a lição disso? Qual o aprendizado, qual a mensagem?

 

Nenhuma.

 

Vou continuar acreditando nas pessoas até que me provem o contrário, apesar de procurar entender / estudar as coisas. Outras opiniões, outros orçamentos, outros lugares.

 

É o meu jeito, paciência.

 

Até. 

sábado, dezembro 02, 2023

sábado, novembro 25, 2023

Sábado (e vai um mate?)

De um domingo solito em casa...


                            Bom sábado a todos.

                          Até.
 

domingo, novembro 19, 2023

A Sopa

Quando todo mundo é prioridade, ninguém é prioridade. 

Pensei nisso semana passada, enquanto observava o embarque para um voo de Porto Alegre para São Paulo, aonde iria para participar de um evento médico em um hotel na Capital paulista. Estava indo como médico, não como músico ou sócio de uma escola de música dedicada ao rock. É engraçado dizer isso, mas esse ano estive mais em São Paulo por música do que por medicina.

 

E lembro dos meus tempos de adolescente na transição para a vida adulta, de ser (representar) diferentes personas nos diferentes ambientes de convivência. É parte do crescer isso, esse processo de adaptação em que nos “moldamos” conforme o grupo em que estamos para sermos aceitos, para fazermos parte, para sentirmos que pertencemos a algum grupo ou turma. Até que um dia nos damos conta que sermos quem realmente somos é o que fará nos pertencer. Ou não, e aí isso talvez não seja tão importante.

 

Quem ia para o evento em São Paulo era o médico, mas também era o músico e o sócio de uma escola de música dedicada ao rock, e o escritor, e o ciclista que quebrou o braço e teve que colocar uma placa fixada por alguns parafusos. Todos são o mesmo. Todos somos eu. E está tudo certo, evidentemente. Posso pertencer a diferentes grupos sendo único, sendo eu. E, de novo, ou não, e está tudo bem. Esse o grande aprendizado que a passagem do tempo, a experiência nos traz: let it be, ou fica na tua...

 

De volta ao embarque no voo que me levaria à São Paulo, eu havia comprado o chamado assento conforto, que dá prioridade no embarque, além do um espaço um pouco maior paras as pernas. Principalmente pelo embarque prioritário, em virtude da mala de mão, para ter a garantia, na medida do possível, de conseguir lugar para a mala de mão junto ao assento, até porque o conceito de levar uma bagagem de mão é bem elástico para parte dos passageiros, mas essa não é a discussão no momento.

 

O assento conforto me dá prioridade de embarque logo após o embarque dos passageiros que são ‘prioridade por lei’ (acho um termo antipático, porque dá a ideia – verdadeira - de que precisa de uma lei para dar prioridade a passageiros com mais de 60 anos, pessoas portadoras de deficiência, gestantes, lactantes e pessoas com crianças de colo, até 2 anos de idade) e aqueles com status Diamante no programa de milhas da companhia aérea. Tudo certo, justo.

 

Esperando pela minha vez de embarcar, não consigo não reparar com o que acontece na fila de prioridades por lei: quase todos vão para essa fila. Tantos aqueles que são as verdadeiras prioridades quando aqueles que usam o elástico conceito de que também tem direito a terem prioridades. Pais com crianças maiores, não de colo, familiares de passageiros de sessenta e poucos anos que embarcam junto, entre outros. A fila de prioridades fica quase maior do que as outras. E, nesse conceito vago de que tem direito a ser prioridade, os reais passageiros que deveriam ser prioritários acabem ficando para trás.

 

E não falo de mim, não advogo em causa própria. Eu comprei meu embarque antecipado, para ser feito depois de todas as prioridades, mas antes do embarque normal. Só isso, sem estresse. 

 

Mas que não consegui deixar de reparar esse comportamento tipo “levar vantagem em tudo”, não consegui.

 

Até.

sábado, novembro 18, 2023

Sábado (e o tempo passa...)

                                        2003                          2013                               2023


               O tempo passa, e seguimos.
                Bom sábado a todos.

                Até.

 

quarta-feira, novembro 15, 2023

A Sopa

Estou de volta. 

Ainda em recuperação, com alguma dor, mas definitivamente bem. Como quase todos por aqui sabem, em 14 de outubro me acidentei de bicicleta, o que resultou em escoriações diversas, uma fratura do processo estiloide do rádio à D, com imobilização e posterior cirurgia para colocação de uma placa fixada com alguns parafusos. Foi a segunda cirurgia ortopédica / traumatológica do ano, pois em março eu havia passado por uma correção de hérnia de disco lombar.

 

Estou me desmanchando, se quiserem, podem dizer...

 

O acidente ocorreu em um sábado pela manhã logo cedo, perto de casa. O período entre sair de casa, cair, levantar e voltar para casa pedalando foi de aproximados 19 minutos. Sei por que está registrado no aplicativo do celular que uso para registrar o exercício, não porque eu lembre. 

 

Porque eu não lembro.

 

Tenho alguns flashs de cair e de largar a bicicleta no lugar dela na garagem, e subir no elevador com o rosto sangrando (os óculos de proteção protegeram os olhos, mas machucaram o rosto...). Entrei em casa, a Jacque veio me ver, perguntou o que havia ocorrido e respondi que havia caído, mas estava tudo bem. As perguntas seguintes, contudo, foram motivo de preocupação, afinal eu não sabia/lembrava como havia caído, se alguém havia me ajudado ou – pior – o que havia acontecido com minha bicicleta. Assim que ela fez essa última pergunta, dei as costas e voltei até a garagem para encontrar a bicicleta em seu lugar, praticamente intacta.

 

Como havia esse período de amnésia (não lembrava como voltara para casa, que foi pedalando, me contaram) decidimos ir verificar no hospital se estava tudo bem. Avaliação neurológica, ressonância crânio, curativos, tudo certo. RX de punho direito: fratura do processo estiloide do rádio antebraço direito. Colocada tala gessada até acima do cotovelo. Tempo de recuperação: seis semanas.

 

Um transtorno, sob diversos pontos de vista.

 

Não consigo, olhando agora retrospectivamente, fazer um ranking do maior para o menor transtorno. Várias atividades ficaram prejudicadas pelo acidente: as mais óbvias, claro, desde não poder dirigir (e toda a logística envolvida em levar e buscar a Marina em diferentes lugares), não poder fazer atividades físicas, não tocar (e tinha show agendado para duas semanas depois do acidente) até as dificuldades do dia a dia, no hospital, no consultório e em casa, para tomar banho e me vestir.

 

Transtorno também para a Jacque, evidentemente.

 

Não deixei de trabalhar, exceto na segunda-feira após o acidente, quando ainda estava me recuperando (eu parecia saído de uma luta de MMA). A partir da terça-feira (terceiro dia após) já voltei ao trabalho, com todas as dificuldades de digitar computador com uma mão apenas e lidar com atividades que requeriam alguma destreza manual. Não tive ainda maiores problemas porque sou ambidestro e escrevo com a mão esquerda. Claudicante, modo e dizer, segui em frente.

 

Na terça-feira após o acidente, no dia em que voltei ao trabalho, tive consulta com especialista em mão (e punho), que acho – em princípio – que o tratamento seria mesmo conservador, mas pediu uma tomografia para verificar. Fiz naquele dia mesmo e mostrei a ele três dias depois: teria que fazer cirurgia, para garantir a recuperação completa. Placa e parafusos. Tudo certo, vamos para a cirurgia, pensei. Seria a segunda do ano...

 

Como naquele final de semana eu iria para São Paulo, para a Convenção dos franqueados da School of Rock Brasil, da qual me tornei recentemente sócio da unidade de Porto Alegre, o fato de ter sido trocada a tala gessada por uma versão que ficava abaixo do cotovelo melhorou minha vida muito. Fomos o Thiago, meu sócio, o Tchê Gomes, Diretor Musical e eu. Além das milhares de explicação que dei, foi um final de semana bem legal.

 

Como na semana que começava a Jacque iria para um congresso e no final da mesma teríamos o show de temporada da School, combinamos que a cirurgia seria na segunda-feira, dia 30/10. Não iria tocar, evidentemente, mas nada me impediria de participar... imprudentemente (ou não), eu cantei no show... eu gostei! Com o detalhe que em meio ao público, em um momento em que não estava no palco, enquanto conversava com um amigo, o cachorro que ele segurava na coleira se enrolou em minha volta, eu não vi e, quando fui caminhar, caí no meio da rua. Dor lancinante, e a impressão de que a tala havia quebrado. Um susto apenas, era a minha impressão, mas só teria certeza na manhã seguinte, quando da internação para a cirurgia. 

 

Impressão essa que se confirmou no novo RX que fiz ao chegar no hospital. A cirurgia correu bem, e no final do mesmo dia já estava em casa, com meu braço direito “morto”, devido ao bloqueio feito para a realização do procedimento. Para evitar dor, me “entupi” de analgésicos, o que, se por um lado, impediu que eu tivesse dor, por outro levou a uma colite (ou tive o azar de pegar uma gastroenterite) que se abateu sobre mim justamente quando estávamos chegando para passar o feriado em uma fazenda isolada de tudo, o que é outra história...

 

Evoluí bem, na última terça-feira, dia 14, quando completou um mês do acidente, foram retirados os pontos da cirurgia e fui liberado de usar a tala removível que vinha usando, além de ser liberado para voltar a tocar. Não comentei com o cirurgião que na véspera já havia feito aula normalmente... Na terça-feira mesmo, poucas horas após a liberação, já ensaiei com a banda iniciando a preparação para os shows de verão.

 

Antes, e em paralelo, fisioterapia, evidentemente.

 

Seguimos.

 

Até.

terça-feira, outubro 31, 2023

Terça-feira (e devidamente aparafusado...)


  

                           Iniciada a nova etapa da recuperação...
                           Boa semana para nós.

                           Até.

domingo, outubro 15, 2023

sábado, outubro 07, 2023

Sábado (e por aí, Porto Alegre)

 Praça de Alfândega


                           Centro Histórico, Porto Alegre, quarta-feira, 04/10/2023

                           Bom sábado a todos.

                           Até

domingo, outubro 01, 2023

A Sopa

Prioridades. 

Esses dias, ao entrar na Associação dos Médicos do Hospital São Lucas da PUCRS, encontrei dois colegas de diferentes especialidades conversando sobre tirar férias. Ouvi a conversa por uns instantes e acabei participando. Lá funciona assim: todos nos conhecemos e trocamos ideias, falamos de futebol, contamos e ouvimos histórias, e temos a oportunidade ímpar de conviver com aqueles que foram (sempre serão, na verdade) nossos mestres e que com o tempo se tornaram nossos amigos. Quando comecei a frequentar a Associação, eu era dos mais novinhos, e agora estou entre os veteranos...

 

É tipo um ritual. Todos os dias, ao chegar no hospital, ainda antes de ir para o consultório, minha primeira parada é na Associação dos Médicos para o primeiro café expresso do dia, uma olhada rápida nos jornais do dia, e quase que invariavelmente encontrar e conversar com os mesmos colegas e amigos. Conversamos um pouco, amenidades ou não, piadas ou não, e seguimos para nossos consultórios para o dia de trabalho. Após o almoço, que é outra “tradição”, a mesma mesa sempre reservada para nós, e somos um grupo grande que se reveza nos dias da semana, novamente uma parada na Associação para o café antes de começar a tarde de atendimentos. Falava, contudo, que “entrara” em uma conversa sobre férias com dois colegas. 

 

Pois é.

 

Um deles falava, quando cheguei, que tiraria trinta dias de férias para ficar com a família, provavelmente viajar, e que fazia isso com atraso, que no passado não fizera isso, que se dedicara muito ao trabalho e que de certa forma perdera um tempo precioso que gostaria/deveria ter estado com a família. Que não soubera equilibrar essas duas dimensões da vida: a família e o trabalho. Lamentava isso, e queria compensar.

 

Enquanto o ouvia, inevitavelmente pensei em mim, em como eu lidara com esse tipo de dilema e se eu mesmo tinha tomado decisões das quais me arrependia. Mais um momento de pensar a vida e a minha trajetória, algo que tenho feito muito nos últimos tempos. Como valorizei o meu tempo, e as pessoas. Para que lado a balança havia pendido?

 

Confessei a eles que eu, diferente da experiência que ele havia compartilhado, havia agido na direção oposta: diversas vezes num passado que já fica distante, havia me ressentido de que perdera algumas oportunidades profissionais porque havia priorizado o tempo, a vida pessoal, em detrimento da profissional. Talvez portas tivessem se fechado para mim ou, ao menos, demorado a abrir em virtude dessa opção.

 

Ao escrever isso, essa conversa parece uma não polêmica.

 

Quem daria mais importância à vida profissional, ao “sucesso” financeiro, do que à vida pessoal? Muita gente, infelizmente, é a impressão que tenho.

 

Ao parar de caminhar e olhar para trás, ver o caminho percorrido, não consigo de deixar de pensar que fiz as escolhas que eram certas para mim, que me trouxeram até onde eu deveria estar (mesmo que eu não soubesse claramente no passado). Que mesmo que eu tenha percorrido um caminho mais longo e tortuoso (a long and windind road) tinha que realmente ser assim.

 

E o caminho em frente é bem interessante.

 

Até.