terça-feira, abril 11, 2023

Perdidos Mães e Filhos 22

 A Viagem (10).

O que parece a você, estimado leitor, acontecer de estares tranquilo, por aí, e resolver, assim, de repente, do nada, passar o final de semana em Roma, na Itália? Pois é, são poucas as pessoas – de nossas relações - que podem, numa sexta-feira de manhã, pegar o carro e dirigir até Roma, para um final de semana. 

Nós fizemos isso.

 

Certo, você vai argumentar que estávamos planejados há mais de dois meses, que estávamos na Itália justamente para isso, que todo nosso roteiro havia sido pensado para passarmos o final de semana justamente em Roma. Sim, tudo isso é verdade, mas quem se importa? Tudo é narrativa, tudo depende de como contamos a história.

 

Havíamos acordado em Montepulciano, passado por Bolsena, do lago de mesmo nome e do milagre eucarístico, e Bracciano, onde tivéramos um ótimo almoço, e agora fazíamos nosso trecho final até Roma, até o apartamento que havíamos alugado. Tudo pronto, tudo certo.

 

Havia sido a Karina quem havia pesquisado, encontrado e reservado nosso apartamento em Roma, seguindo basicamente duas diretrizes: evidentemente deveria comportar os seis viajantes e, mais importante ainda, ser próximo ao um estacionamento público. O nosso plano era deixar o carro estacionado ali todo o final de semana, porque não havia nenhuma chance de circularmos de carro pela cidade.

 

Além de ruas estreitas e de querermos andar pela cidade (flanar, eu diria, se estivéssemos em Paris), Roma (e outras grandes cidades italianas, como Firenze) possui diversas áreas ZTL, Zona a Traffico Limitato, locais da cidade em que é proibida a circulação de carros não autorizados. Não respeitar isso resulta em multas, por óbvio, e isso era a última coisa que queríamos (exceto nos acidentarmos de carro, mas isso fica para o final). Logo, o nosso objetivo era entrar em Roma, ir até o estacionamento, deixar o carro lá e só retirá-lo na segunda-feira quando estivéssemos saindo da cidade.

 

Entre os apartamentos pesquisados, um chamou a atenção por ser perto do Tevere e do Parking Via Giulia, na via de mesmo nome, cuja entrada e saída são pela Lungotevere dei Sangallo, praticamente em frente à saída da Ponte Giuseppe Mazzini, não muito longe do Campo dei Fiori. Situado na Via Montoro, número 30. 

 

Nossa estadia, um apartamento/casa relativamente estreito, era composto de três pavimentos. A entrada pela cozinha, pequena, com uma mesa com quatro cadeiras e um sofá, utensílios padrão de cozinha (fogão, geladeira, etc), e um lavabo. Uma escada que leva para o pavimento superior onde estão os dois quartos e um banheiro. Um quarto com cama de casal, onde ficaram a Roberta e a Karina, de tamanho normal, e um quarto gigante, com cama de casal e um sofá cama de casal, além de um tipo de sala de estar junto. O andar inferior, no subsolo, é composto de um espaço de convivência, com sofá e televisão, além da “cereja no bolo”: um tipo de spa, com uma jacuzzi e um box com chuveiro, além de iluminação toda especial. Bem legal, mas pouco ventilado, devo dizer. Havia, por vezes, um odor de água parada, sabe como é?  Mas era um bom apartamento em uma boa localização.

 

Entramos em Roma pela Via Aurélia e depois Via Aurélia Antica, seguindo pela Via Nuova delle Fornacci, passando praticamente atrás do Vaticano, entrando à direita na Via di Porta Cavalleggeri e indo até entrar novamente à direita na Lungotevere Gianocolense, seguindo em frente pela beira do rio até a Ponte Mazzini, e o estacionamento Via Giulia. A entrada no estacionamento foi, como deve ser, com todo o cuidado do mundo, e a procura pela vaga para deixar o carro todo o final de semana, também.

 

Descarregamos o carro e, levando nossa bagagem pela rua, deixamos o estacionamento e fomos até o apartamento, cerca de duas quadras de onde estávamos As bolsas com rodinhas facilitaram a vida em muito, e – para subir e/ou descer alguma escada – eu carregava a minha e a da mãe (contra a vontade dela, que fique claro...), o que NÃO influenciou na minha hérnia de disco, operado cerca de um mês depois de voltarmos, mas isso é outra história totalmente diferente.   Nos instalamos, fizemos o reconhecimento do apartamento, e nos preparamos para começar a visitar Roma.

 

Era hora de caminhar.

 

Campo dei Fiori


Estávamos localizados a poucos metros do Campo dei Fiori, campo das flores ou campo de flores, nome que vem desde a idade média, onde ali era um prado, que como todos sabemos, é um campo coberto por plantas herbáceas que servem para forragem. Ao sul e não muito distante da Pizza Navona, tem em seu centro uma estátua de Giordano Bruno, para marcar o local onde o filósofo foi queimado, em 1600, acusado de heresia. Hoje, por outro lado, o Campo dei Fiori é um dos lugares mais populares de Roma. Todas as manhãs, de segunda a sábado, desde 1869, é montado um mercado onde são vendidos alimentos, flores e produtos variados. À noite, é uma região muito agradável para jantar. Foi ali nossa primeira parada, quando a noite já começava a cair, e a temperatura não era das mais baixas.

 

A oito minutos de algum lugar


Do Campo dei Fiori seguimos até a Piazza Navona.

 

Uma das mais famosas praças de Roma, era a primeira vez que a visitávamos à noite. Foi construída sobre as ruinas de um antigo estádio, conhecido por Circus Agonalis. É uma praça ampla, em elipse, e possui três fontes. A maior delas, a e que mais impressiona é a Fontana dei Quattro Fiumi. Fica bem no centro da praça, foi criada por Bernini, inaugurada em 1651, e possui estátuas gigantes que simbolizam quatro dos maiores rios do mundo: o Nilo, o Ganges, o Danúbio e o Rio da Prata, além de possuir um obelisco. Em frente a ela, ao lado da Embaixada do Brasil (o palácio Pamphili), temos a igreja di Sant’Agnese in Agone — com uma bela cúpula e fachada barroca. Foi a primeira vez que entramos ali, e é magnífica. Circundamos a Piazza Navona aproveitando cada detalhe dela à noite, com a iluminação que dá destaque aos detalhes de monumentos. É muito legal mesmo.


Fontana dei Quattro Fiumi

 

Prosseguindo o passeio, seguimos em direção ao Pantheon, na Piazza dela Rotonda, apenas 300m à leste da Navona (certamente andamos mais que isso, mas tudo bem). Chegamos lá justamente quando estava fechando para visitação devido ao horário. O Pantheon (do grego, significando “relativo a todos os deuses”), ou Pantheon de Agripa, é considerado o monumento romano mais bem preservado tanto em estrutura quando em revestimentos e ornamentos. Construído durante o reinado do imperador Augusto, foi reconstruído por Adriano por volta do ano de 126. Atualmente é uma igreja, de Santa Maria dei Martiri ou, como é chamada informalmente, Santa Maria Rotonda.

 

Panteon


Assim como com a Piazza Navona, foi nossa primeira visita à praça à noite, e a iluminação especial, as pessoas circulando por lá, os restaurantes próximos cheios de gente, músicos tocando na rua, tudo isso criava uma  atmosfera muito legal, de vida pulsante, de pessoas, um clima de “sextou”. Ficamos um pouco ali e a seguir nos dirigimos para a Fontana di Trevi, a 650m dali, aproximados 8 minutos de caminhada conforme o Google Maps nos indicava.

 

Aliás, quase TODAS as distâncias que deveríamos percorrer a pé durante a viagem eram de oito minutos, ou tínhamos essa impressão. Sempre que alguém perguntava qual era a distância que faltava, recebíamos a indicação de que eram oito minutos de caminhada. Sempre. Virou lenda, claro. Sem falar que essa estimativa não contava com as paradas em lojinhas e vendedores de rua (camelôs...).


Fontana di Trevi

 

Havia, sem querer parecer exagerado, mais ou menos um milhão de pessoas em volta da Fontana di Trevi. Da última vez que havíamos estado lá, junho de 2014, ela estava vazia por estar em reformas. De qualquer forma, a Roberta resolveu – naquela vez – seguir a tradição de jogar uma moeda para poder voltar. Jogou, mas ela errou a fonte, mesmo que sem água. Estaria a Roberta amaldiçoada por isso?

 

Claro que não, afinal ela estava de volta, quase nove anos depois.

 

Fotos múltiplas, e retornamos em direção ao Pantheon para jantar. Decidimos ficar em um restaurante com mesas na rua na Via del Pantheon, e comemos pizza. E meio à janta, a Karina recebeu uma rosa de um dos garçons. Foi o que bastava: depois do dono do café em Bolsena e minha mãe, tínhamos agora o casal Karina e garçom do restaurante de Roma para pegar no pé dela...

 

Via del Pantheon


Após o jantar, voltamos para nosso apartamento para descansar do longo dia e longa caminhada, que não seria quase nada em comparação ao que viria no final de semana.

 

Caminharíamos MUITO mais. 

 

Até.

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