terça-feira, abril 04, 2023

Perdidos Mães e Filhos (18)

A Viagem (6).

 

Foi uma noite tranquilo de sono, em Lucca.

 

Exceto pelo fato de a Marina ter acordado em meio à noite e perdido o sono sob o argumento de que eu estava roncando (descobri só pela manhã) e, como dormíamos a Jacque e eu em um quarto, e a Marina e a Mãe em um quarto contíguo ao nosso, sem porta entre eles,  sonolento fui até onde a Marina dividia a cama de casal com a Mãe e disse para ela trocar comigo. O resto da noite foi tranquilo, aparentemente.

 

Após o café da manhã (capuccino frio para a Marina, não por opção dela...), voltamos até a entrada da cidade pela Porta Elisa e subimos o muro para passear. Era mais uma vez, uma manhã fria, de sol sem nuvens. 


Nós, árvores e muro, no Muro
 

Um dos símbolos de Lucca, a muralha fortificada que circunda o centro, construída originalmente como defesa contra invasões, se caracteriza por muros de dimensões surpreendentes: são quatro quilômetros de extensão (comprimento) e quase trinta metros de largura. São largos e arborizados, ótimos locais para passeios a pé ou mesmo de bicicleta. Passeamos um pouco por cima do muro, tiramos algumas fotos e voltamos para sair para o primeiro destino do dia.

 

Pisa.

 

Ou, para ser bem honesto, o Campo dei Miracoli.

 

Principal espaço público da cidade de Pisa, e declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, o Campo dos Milagres surgiu associado aos seus principais monumentos religiosos, a saber, a Catedral, o Batistério e a famosa Torre. Já estivéramos (a Jacque e eu, juntos) em Pisa acho que duas vezes antes, essa seria a terceira, e tudo o que sempre visitamos na cidade havia sido o Campo dei Miracoli, com a exceção do McDonald’s que fica a oeste do Campo, no extremo oposto da torre, junto a Porta Nuova, onde fizemos lanche em 2000 e 2014, e um Carrefour na periferia da cidade.

 

Saindo de Lucca, é um trajeto de apenas aproximados trinta minutos até Pisa. Chegando na cidade, fizemos o óbvio: seguimos em direção ao Campo dei Miracoli e, próximo, reconheci o trajeto e lembrei do estacionamento em que deixara o carro quando estivéramos lá em 2014, o Parcheggio Via Piave, a poucos metros da Porta San Ranierino, na via de mesmo nome, com uma quadra de extensão e que, ao chegar em sua esquina com a Via Cardinale Pietro Maffi, é só olhar à direita e estarão lá, nesse dia emolduradas pelo céu azul, tanto os fundos da Duomo quanto a famosa Torre inclinada.


É "dobrar" a esquina e...


Feita em mármore branco, a torre teve sua construção iniciada em 1173 e finalizada 177 anos depois. Com uma altura final de cerca de 56m, ela começou a inclinar ainda no início de sua construção (em 1178) devido a características do subsolo e das fundações. Como começou a inclinar, em um esforço para compensar essa inclinação, os engenheiros construíram andares com um lado mais alto do que o outro. Isso fez a torre começar a inclinar-se em outra direção. Devido a isso, a torre é realmente curvaÉ a terceira estrutura mais antiga no Campo dei Miracoli, atrás apenas da Duomo e do Batistério. 

 

A Duomo de Pisa, cuja construção começou em 1066 (sobre uma catedral pré-existente de 1006!) é dedicada à Virgem Maria e é a Arquidiocese de Pisa. Dizem que é o maior exemplo do estilo arquitetônico Românico Toscano, seja lá o que isso quer dizer.  Entre as curiosidades sobre a Duomo, que é (mais) uma estrutura impressionante, está que ao centro da nave principal da catedral pende uma grande luminária chamada de Luminária de Galileu. Segundo a tradição, foi observando esta luminária que Galileu iniciou seus estudos sobre o movimento do pêndulo (na verdade, esta luminária foi colocada ali depois do período de estudos de Galileu e a sua provável verdadeira luminária é uma bem menor que fica dentro do Campo Santo, na Capela Aulla).

 

Nós e a Torre


Visitamos – nós e uma pequena multidão, diferente do que encontraríamos nos próximos dias – a Duomo e circulamos no Campo dei Miracoli, com direito a muitas fotos (as tradicionais “segurando” a torre, e outras fotos do grupo) e visitas às lojinhas de souvenirs, uma diversão das meninas... Não subimos na torre e nem entramos no Batistério, pois já era quase o final da manhã. Encerramos nossa visita à Pisa e voltamos ao carro, para seguir para o nosso segundo destino do dia, que ainda não seria o último.

 

San Gimignano.

 

A distância entre Pisa e San Gimignano é de cerca de oitenta quilômetros, aproximadamente uma hora e pouquinho de carro. Como já falado antes, essa primeira parte da viagem era de distâncias curtas porque tínhamos que estar em Roma na sexta-feira dia 10/02. Por isso, optamos por circular pela Toscana antes de rumar ao sul para Roma. Lucca, Pisa, San Gimignano, Volterra e Montepulciano, todas ficavam a não muitos quilômetros uma da outra. 

 

Também já conhecíamos, a Jacque e eu, San Gimignano.

 

Estivéramos lá em 2005, com os pais da Jacque, e em 2014, com toda família (pais, filhas, netos e genro, eu). Na primeira vez, em um mês de outubro, havíamos ficado em um hotel a poucos passos da cidade murada e, à noite, após as hordas de turistas que passam o dia lá terem ido embora, pudemos caminhar por ruas tranquilas e com temperatura agradável, e jantar lá mesmo. Foi tão boa a experiência, da qual falamos tanto, que voltamos lá em 2014.

 

A cidade estava cheia, e a Piazza della Cisterna – uma das mais importantes e antigas praças da cidade – estava tomada por uma feira livre, para total decepção da Karina. Daquela vez, ainda, havíamos ficado em um hotel longe do centro, e ficáramos lá à noite. Dessa vez, então, havíamos optado por visitá-la e seguir para o próximo destino.

 

Situada na província de Siena, na Toscana, no alto de uma colina com vista para o Val d’Elsa, San Gimignano é famosa por suas torres, construídas como símbolo de riqueza e poder (e parece que para defesa, pois jogaria óleo quente nos inimigos que estivessem embaixo, mas isso talvez seja apenas imaginação minha). De 72 torres originais, restam cerca de 14. A cidade também era ponto de peregrinações para Roma, pela Via Francigena, uma rota de peregrinação que existe desde a idade média, ligando a Inglaterra (inicia em Canterburry) à Roma, cruzando a França e Suíça neste trajeto.


Piazza della Cisterna

 

A contrário das outras vezes, San Gimignano parecia uma cidade abandonada. Por ser inverno, fevereiro, muitas lojas e restaurantes estavam fechados de férias até meados de março. Quase não havia pessoas circulando por lá. Chegamos lá com planos de almoçar, pois passava das 13h. Estava, nesse momento, bem nublado, o que – junto com o vento – diminuía a sensação térmica. Circulamos por ruas vazias, e mesmo a Piazza della Cisterna, ponto central da cidade, estava deserta.

 

Foi ali, em um café em que ocupamos, nós seis, as duas únicas mesas disponíveis, que conseguimos almoçar. Eu comi um panini muito bom e Coca-Cola (o motorista, o motorista) e elas comeram pizza, se não me engano. Almoçamos com calma e, de sobremesa, tivemos que escolher entre duas sorveterias que estavam abertas na praça mesmo: uma que dizia que era o melhor sorvete do mundo (afirmação genérica, demonstrando alto grau de autoconfiança, mas sem nada para documentar) e outra que afirmava ter sido campeã mundial de melhor sorvete em 2006/2007 e 2008/2009 (já havia sido comprovadamente o melhor, mas podia estar vivando de glórias passadas e não corresponder). Optamos pela segunda.

 

O melhor sorvete do mundo?


Não decepcionou.

 

Seguimos, então, para o último destino do dia.

 

Volterra, e o mosteiro.

 

Até. 

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