A Viagem (14).
Eu caio.
Se tivermos que encontrar uma definição para a minha pessoa, e se dissermos que eu sou uma pessoa que cai, estaremos corretos. Com disciplina, consistência, quase regularidade, até. Mas não só isso: eu tenho uma especialidade, uma peculiaridade, podemos dizer: ao longo dos anos, eu fui desenvolvendo uma queda por quedas em e de banheiras... De verdade.
Começou no ano de 2000, na Itália mesmo, no Hotel Marguta, bem pertinho na Piazza del Popolo. Ali foi minha primeira vez. Em pleno banho, escorreguei e caí, parte dentro e parte fora dela, mas sem maiores consequências imediatas (segundo teoria da Jacque, foi aí que começou a série de eventos que resultou em minha hérnia de disco operada em vinte de março de dois mil e vinte e três, mas não sei).
Depois dessa vez, foram episódios esporádicos ao longo dos anos, com episódios (não quero me exibir) em Florença, Paris e, também, em um hotel na Euro Disney (quando a cortina de plástico amorteceu minha queda), entre outras. A mais fantástica de todas, em minha humilde opinião, foi em 2018 em Óbidos, Portugal, em um hotel chamado The Literary Man, em que escorreguei e caí estendido fora, no chão do banheiro, a centímetros de um degrau que poderia ter me matado caso caísse em cima dele enquanto a Jacque fazia uma ligação de vídeo com sua família, que teve que largar com a Marina para invadir o banheiro para ver o que havia acontecido... O curioso disso tudo é que – nos anos em que morei sozinho no Canadá – o apartamento tinha banheira e eu NUNCA caí neste período.
Também não caí de banheira nenhuma durante nossa viagem.
O que não quer dizer que não caí nenhuma vez, é claro.
O quarto de nosso hotel em Assis, o Il Duomo, tinha uma conformação curiosa, para dizer o mínimo. Subíamos uma escada de poucos degraus para entrar nele, que era composto por uma sala com sofá-cama, um quarto com cama de casal, e um banheiro. Ficaríamos ali, a Mãe, a Marina a Jacque e eu. Por justiça, como a Jacque e eu havíamos dormido em cama em Roma e elas em sofá-cama, decidimos inverter.
A entrada no quarto era pela salinha do sofá-cama, e – dentro do quarto – tínhamos que subir uma escada para acessarmos o local em que estava a cama de casal e outra, diferente, para o banheiro. Mais: dentro banheiro, o vaso estava um degrau abaixo do resto do banheiro. Receita para desastre.
Após o jantar, havíamos voltado para o hotel para dormir. Antes de todos dormirmos, a Jacque avisou que deixaria a luz do banheiro acesa para evitar acidentes. Todos dormimos. O sofá-cama era muito ruim, infelizmente, mas tínhamos que passar por isso. Por volta das três ou quatro horas da manhã, em meio a sonhos estranhos, acordei e decidi ir ao banheiro. Subi a escada parcialmente iluminada pela luz deixada acesa pela Jacque no banheiro. Entrei no banheiro em segurança e – porque achei que iria perder o sono pela luz forte – decidi (um ERRO monumental) apagar a luz para usar o banheiro, confiante de que havia decorado a arquitetura do banheiro.
Não decorara.
Esqueci, sonolento, do maldito degrau dentro do banheiro, e acabei pisando em falso, batendo na parede, a caindo sentado no vaso, não me pergunte como. Com o barulho, a Jacque perguntou se estava tudo certo. Respondi que sim, ela poderia voltar a dormir. Meio dolorido, mas sem maiores lesões aparentes, saí do banheiro sem deixar de acender a luz e me deitei novamente. A Jacque perguntou se eu havia caído, e respondi que ela deveria dormir. Pela manhã, confessei que havia caído, mas o detalhe da luz apagada só fui confessar ao grupo vários dias depois...
Pela manhã, meio doído ainda (os hematomas apareceriam dias depois). Tomamos café, fizemos o checkout, e saímos andando com nossas bagagens até o carro. Pela noite fria, o para-brisas estava coberto de gelo. Tirei a camada de gelo com uma luva e um pano, e pudemos seguir adiante.
Passaríamos por Cortona e acabaríamos o dia em Firenze.
No camping.
Até.
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