domingo, abril 30, 2023

A Sopa (Perdidos Mãe e Filhos 32)

A Viagem (20).

 

Eu subi para o alto da montanha, para ver a planície, os homens pequeninos, a aldeia de longe, longe, longe, e pra esquecer Rosa, principalmente pra esquecer... não, não é verdade. Nem sei que é Rosa... deixa para lá...

 

A Montanha.

 

Como já falei outrora, tenho um enorme respeito e admiração pela montanha, desde – principalmente – a minha primeira e única vez em Turim. Os Alpes, em especial, são motivo de encantamento. E hoje seria o dia de subirmos a montanha. 

 

Sábado de carnaval. Acordamos, tomamos café da manhã no apartamento, organizamos nossas coisas e esperamos a responsável pelo apartamento chegar para fazermos o checkout. Após o checkout, saímos de Peschiera de Garda e seguimos em direção ao acesso à rodovia SS12 e depois E45/A22. Nosso rumo no sábado de carnaval era o norte, e a autoestrada A22 vai até a passagem de Brenner, já na fronteira da Itália com a Áustria, passando por Trento e Bolzano, entre outras cidades, na região chamada também de Südtirol (o Tirol do Sul). Ali, os idiomas “oficiais” são o italiano e o alemão.

 

Nossa primeira parada foi em uma estação de abastecimento ao norte da entrada de Trento, para tomar um café e usar banheiro. Após a parada, seguimos para o primeiro destino do dia: Verla di Giovo, a cidade onde – no fundo – parte da história dessa viagem (do grupo) começou. Foi de lá, em 1949, que Alfredo Rizzolli, pai da Karina e da Jacque, avô da Roberta e da Marina e meu sogro saiu rumo à Gênova e depois em um navio para o Brasil. Sem esse fato, a migração desse braço da família RIzzolli para o Brasil, e Porto Alegre como destino final após chegar por Santos, passar um tempo no Paraná e depois em Bento Gonçalves/RS, esse grupo não existiria, e essa história não seria contada.

 

Seria minha terceira vez em Verla, município (comune) de Giovo, localizada no Val di Cembra. Desde antes do Waze, sabíamos que, passando por Trento, deveríamos ir em direção à Lavis e a partir dali subir até Verla. Com o advento do GPS e/ou o Waze (melhor ainda), a chegada lá é bem fácil. Durante o caminho de subida passamos por diversos campos com parreiras, afinal a agricultura é a uma das principais, se não a principal, atividade econômica da cidade.


Chegando em Verla
 


A partir de Lavis, o trajeto até Verla é feito pela SS612 indo até chegar ao viaduto com a Via ai Molini, quando – ao invés de passar por baixo do mesmo – entramos no acesso à direita que vai nos levar ao centro de Verla. Logo após o viaduto ao qual não passamos por baixo, há um túnel que não existia nas primeiras vezes em que estive lá e que leva não sei para onde...  O acesso que pegamos nos leva à própria Via ai Molini por onde seguimos, entrando à esquerda na Via Principe Umberto e novamente à esquerda na Via dei Boscatti, junto à Igreja de Santa Maria Assunta, passando em frente ao cemitério e, subindo mais um pouco, em frente à Scuola di Giovo. Fomos até a Via del Dos Pules, onde paramos.

 

A Igreja ao fundo, vista do Dos Pules


Estávamos acima da pequena cidade, e a Karina e a Jacque lembravam do lugar porque havia ali um hotel, o Dos Pules, onde ficaram em uma visita no final dos anos 1980, quando foram conhecer a cidade natal do seu pai e conhecer os familiares locais. Havia ali um parque, com uma praça infantil, e o prédio do hotel agora estava abandonado, fechado. Observamos a vista, nos esticamos e alongamos um pouco, algumas fotografias, e fomos ao centro.

 

Retornamos pelo mesmo caminho até a esquina da Igreja de Santa Maria Assunta e viramos à esquerda na Via Principe Umberto, a principal de Verla. Paramos num estacionamento público e fomos caminhar. Como era meio-dia, as ruas estavam desertas. Elas tentaram ligar para Porto Alegre (eram 8h da manhã, hora de Brasilia), mas ninguém atendeu. Procuravam a casa onde meu sogro nascera e vivera até migrar para o Brasil, e fizeram vídeo e fotos em frente a casa para mostrar. 

 

Só que era a casa errada...

 

Descobrimos na volta que a casa não existia mais, pois havia sido reformada ou demolida. Valeu a intenção, certamente...


Não é essa casa...

 

Hora de seguir.

 

Nosso próximo destino, onde pretendíamos almoçar, era Ortisei, já na província de Bolzano (estávamos na província de Trento), cerca de 100km de onde estávamos. Saímos de Verla por Palú, e era hora de vermos neve. Até ali, nessa viagem, não tínhamos tido quase nenhum (ou nenhum mesmo) contato com neve, mas – como estávamos no inverno, e subindo os Alpes – tínhamos essa intenção.

 

Como falado, após Verla di Giovo, nosso plano era visitar Ortisei e – primeira ideia – percorrer a Grande Strada delle Dolimiti até Cortina D’Ampezzo e voltar, pois terminaríamos o dia em Meltina, cidade próxima à Bolzano, mas chegamos à conclusão de que não teríamos tempo de fazer todo esse trajeto. Decidimos, então, ir à Ortisei para almoçar e depois subir até o Passo Sella, de onde voltaríamos até Meltina. Certamente encontraríamos neve em alguns lugares nesses trajetos.

 

O trajeto de Verla até Ortisei, principalmente ao nos aproximarmos de Ortisei, foi realmente de crescente visão de montanhas e neve, tudo animado por música do Tirol, o tradicional yodel. Mas o que é yodel, afinal de contas? yodel é uma forma de cantar, e consiste justamente em fazer uma quebra vocal de maneira intencional. Tal quebra pode ocorrer entre um registro e outro, ou até com a mesma nota, quando transita de firme para soprosa. Outra possibilidade é que isso aconteça entre notas diferentes de um mesmo registro. É o “yodelei-iô”, que se canta, que é típico de lá, dessa área que vai do Sul da Alemanha, Áustria e essa parte do norte da Itáia. Fomos ouvindo até chegar em Ortisei, onde – sim – havia neve.

 

Ortisei (St. Ulrich, em alemão) é uma estação de esqui de 4500 habitantes, cuja população aumenta muito no inverno devido às suas pistas de esqui e outros esportes de inverno. Como já falado, foi ali minha primeira experiência com temperaturas realmente negativas (-10ºC) na vida. A Jacque e eu havíamos dormido ali na noite de 23 de dezembro do ano 2000. O hotel era o Garni Snaltnerhof, na Piazza San Antonio, bem no centro da cidade, e jantado no restaurante no térreo do hotel.

 

Chegando agora ali, já mais do que na hora de almoçar, em rápida pesquisa escolhemos exatamente esse restaurante para comer... Foi uma boa refeição, de verdade, exceto para a Karina, que pediu algo como uma seleta de legumes e – segunda ela – parecia uma sopa bem rala para ser servida a crianças, e não de uma forma positiva... Após o almoço, por volta das 15h, saímos para visitar o pequeno centro de Ortisei e parar para comprar algumas lembrancinhas.

 

Ortisei


Paramos também em uma – podemos dizer – delicatessen, mistura de padaria, mercadinho de produtos típicos também junto ao hotel em que havíamos ficado em dezembro de 2000 para comprar alguns produtos para trazer para casa, como arroz com cogumelos para risoto, farinha de polenta, entre outros produtos, o que se revelaria providencial mais adiante naquele mesmo dia...

 

Já era aproximadamente 16h quando começamos a realmente subir a montanha, em direção ao Passo Sella, o ponto alto, em termos de altitude, do dia e da viagem, até onde iríamos para depois descermos e irmos para Meltina, como eu já disse, no meio do nada.

 

Nada mesmo.

 

A seguir.

 

Até.





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