A Viagem (19).
Veneza. Carnaval.
A origem do carnaval é incerta. Dizem que tem suas primeiras raízes na Antiguidade, entre o Egito e a Grécia, em uma comemoração popular que vibrava com a chegada da primavera. A festa marcava o fim do longo inverno e suas vegetações mortas, o renascer da vida. Também se associa carnaval com o carnis levale, ou carne vale, um período para as pessoas extravasarem seus desejos antes de iniciarem a Quaresma. A expressão significaria “retirar a carne” e representaria o carnaval exatamente como o momento de preparação para que os prazeres carnais fossem retirados precedendo a quaresma.
O famoso Carnaval de Veneza tem suas origens quando a nobreza da época se disfarçava com fantasias e máscaras com o objetivo de não serem reconhecidos e depois se misturavam com o povo para se divertir durante o festival. Desde então as máscaras são os elementos mais importantes deste carnaval. As máscaras do carnaval e os trajes que se usam são característicos do século XVIII, e são comuns as maschera nobile, ou seja, máscaras nobres, caretas brancas com roupa de seda negra e chapéu de três pontas. Desde 1797 (!) foram sendo somadas outras cores aos trajes, embora as máscaras continuem a ser brancas, prateadas e douradas.
Em 1797, Veneza passou a fazer parte do Reino Lombardo-Vêneto, quando Napoleão Bonaparte assinou o tratado de Campo Formio, e os festivais foram proibidos. No ano em seguinte, os austríacos tomaram conta da cidade. Os festejos de carnaval só foram teriam restabelecidos de forma oficial em 1980.
Bom, era sexta-feira, início de carnaval, e estamos a caminho de Veneza após tomar café da manhã em nosso apartamento em Peschiera del Garda.
Cerca de centro e quarenta quilômetros separam Peschiera del Garda e Veneza, via A4/E70, rodovia com pedágio, depois acessando a Tangenziale di Mestre e a A57 em direção à Veneza/aeroporto, para então pegar a saída SS309, a Rotonda Romea e a Via della Libertà (SR11) até a Ponte della Libertà, por onde entramos na cidade. Ali estão os grandes estacionamentos onde as pessoas deixam os carros para ir ao “centro” de Veneza, a Piazza San Marco.
Por pouco conhecimento de geografia local, desde a primeira vez que estivera em Veneza, no começo dos anos 2000, tivera a impressão de que deixáramos o carro em Mestre, cidade vizinha de Veneza, de onde pegáramos o ferry até a Piazza San Marco. Anos depois, já em 2014, aprendi que íamos de carro até a ilha mesmo, deixávamos o carro no estacionamento, e pegávamos o ferry. Ou deixávamos o carro e poderíamos ir a pé, a partir do – acho – extremo oeste da cidade. Dessa forma, íamos visitando Veneza de um estacionamento até a Piazza San Marco.
Descobri isso ao procurar um hotel próximo de um estacionamento, e percebi que podia ir com carro até quase o hotel, que era na beira de um canal, e podíamos ir caminhando dele até a Piazza San Marco. Aquela vez, ficamos no Hotel Arlechino, próximo a Piazzale Roma. Mais interessante, contudo, ao menos para mim, foi que – depois da nossa viagem – revisitando o nosso roteiro para esse relato, aprendi que o Parking Tronchetto, onde deixamos o carro (e já havia deixado em viagens em 2000 e 2003) fica em uma ilha artificial de nome Tronchetto, criada em 1960, também chamada Isola Nuova, uma informação sem utilidade prática, mas curiosa, no mínimo.
Deixamos o carro estacionamento e iniciamos nosso dia em Veneza cruzando a Ponte Tre Ponti, e seguindo por via estreitas, com canais que – naquele momento estavam com o nível de água normal (notícias de estarem secos apareceriam na imprensa uma semana depois, quando já estávamos em casa). Muitas pessoas pelas ruas, e - à medida que nos aproximávamos da Piazza San Marco – mais e mais pessoas com as tradicionais fantasias de carnaval. Sem pressa, passeamos parando para fotos em alguns dos quase infinitos pontos muito fotogênicos do caminho.
Quando decidimos almoçar, e enquanto pensávamos em possibilidades, olhei para cima e vi uma placa e em uma fechada que dizia ‘Pizza e Jazz’. Foi o suficiente para chamar minha atenção. Fomos até o local para conferir, e valeu a pena.
Era a Pizzeria e Jazz Club 900.
Localizado na Campiello del Sansoni, número 900, é – como o nome diz – uma pizzaria e um clube de jazz. À noite, tem apresentações de música. Como fomos almoçar, apenas música ambiente, jazz (óbvio) e um clima meio ‘Meia Noite em Paris’, o filme do Woody Allen. Muito legal, além de uma das melhores pizzas que comemos em toda viagem.
Após o almoço, seguimos nossa jornada em direção Piazza San Marco, a mais importante de Veneza. Na verdade, é a única piazza de Veneza, pois as outras são piazzales ou campos... É considerada uma das praças mais bonitas do mundo, e Napoleão Bonaparte a definiu como “O Salão mais Bonito da Europa”. Contudo, é o lugar mais baixo de Veneza e, quando sobem as águas é o primeiro lugar a ficar abaixo d’água. É na praça, ainda que está a Basílica de São Marco, além do Palácio Ducal, o campanário e a Torre dell’Orologio. No verão, a praça fica movimentada, com muitas pessoas circulando por entre os cafés com música ao vivo, e a noite vai longe. No carnaval, também estava cheia de vida.
À medida que nos aproximávamos dela, aumentava – claro – o movimento de pessoas e, mais, de pessoas fantasiadas que circulavam por entre os passantes, que paravam e tiravam fotos. Todas aqueles trajes do século XVIII, máscaras do carnaval (as já faladas maschera nobile) ou seja, máscaras nobres, caretas brancas com roupa de seda negra e chapéu de três pontas. Havia, realmente, muita gente na praça, muitos em fantasias, outros sem, mas em um clima de carnaval. Havia mais de um palco com diferentes apresentações teatrais também.
Para não parecermos estranhos, compramos máscaras para todos e nos juntamos à festa. Também compramos confetes, que – de tempos em tempos – eram jogados para cima enquanto a Roberta e a Marina cantavam “carnavalzinho, carnavalzinho” no ritmo de ‘Mamãe eu quero”, e dançavam em círculos. Era, sem dúvidas, engraçados.
Circulamos pela praça, e seguimos pela Riva degli Schiavoni, passando pela Ponte dos Suspiros e por onde os barcos de transporte chegam e saem. Caminhamos até encontrar um café para fazer uma pausa. Nesse momento, ocorreu um fenômeno semelhante ao que ocorre em Gramado, onde – em determinada hora do dia – baixa uma neblina de aspecto invernal, não importando se é verão ou inverno (e que sempre digo que é artificial, que deve haver uma máquina que eles ligam e faz isso).
Como eu dizia, nesse momento a temperatura caiu e baixou uma neblina densa, o que foi perfeito por combinar com o chocolate quente que havíamos pedido para tomar. Após o café, iniciamos o longo caminho de retorno para o carro, com paradas em lojinhas para as meninas comprarem lembrancinhas... A neblina era tanta, e a noite caía, que quase nos perdemos quando íamos em para o estacionamento, e a volta para Peschiera foi com atenção redobrada devido a ela.
Decididos a jantar em casa, fomos até o supermercado do dia anterior para comprar o necessário, mas chegamos minutos depois de fechar. Corremos até um outro, e conseguimos (a menina do caixa inclusive era brasileira).
A Jacque fez o jantar. A Roberta seguiu com seu home office.
Fomos dormir relativamente cedo, pois o dia seguinte seria de subir a montanha e terminar no que imaginávamos seria “no meio do nada”, sem ter ideia de quão verdadeiro seria esse “nada”...
Até.
Nenhum comentário:
Postar um comentário