domingo, janeiro 19, 2025

A Sopa

Voltar no tempo.

 

Não falo aqui de olhar para o céu noturno e ver estrelas que estão tão distantes de nós que o que enxergamos agora é a luz que elas produziram há milhares (milhões) de anos e que levou todo esse tempo para chegar até aqui. Esse outro tema que me fascina: olhar o céu noturno é olhar o passado.

 

Talvez eu esteja falando do que algumas músicas nos causam ao ouvi-las, que é justamente nos sentirmos como se o tempo não tivesse passado ou estivéssemos de volta ao local e ao momento em que a ouvimos de maneira significativa. Como se entrássemos em algum tipo de transe, ou em uma fenda na barreira espaço/tempo, em um portal, ou nos teletransportássemos para o passado, e me vejo em determinados locais e épocas e com as sensações originais de então. 

 

E pode acontecer mesmo sem o gatilho da música.

 

Como sonhar acordado, mas nesse caso revendo/revivendo episódios que de alguma maneira foram marcantes no passado. E o interessante nisso é que pode ser quase qualquer acontecimento, e muitas vezes não sabemos a razão pela qual esse episódio ficou marcado ou porque ele retorna e se torna uma lembrança vívida, como se estivéssemos a vivendo novamente.

 

Existem aquelas memórias de bons momentos, claro, de episódios em que fomos muito felizes, ou que levaram a momentos felizes, ou ainda que foram determinantes para eventos seminais da vida. Por outro lado, existem aquelas que aparentemente não foram importantes e nem levaram a esses momentos grandiosos, mas que, por razões inescrutáveis para nós, ficaram marcadas em nossa memória.


A maior parte delas certamente tem sua importância exclusivamente para nós, e as pessoas que viveram conosco esses momentos não necessariamente tem a mesma memória deles que nós. Uma palavra dita, um gesto, que para nós foi significativo – para o bem ou para mal, no sentido de ser constrangedor, por exemplo – raramente o é para quem estava junto a nós. 

 

Voltar ao passado, então, funcionaria como (seria) uma forma de terapia. Registrar, contar, escrever sobre os diferentes episódios que insistem em retornar à consciência, pode valer como um meio de exorcizar algum potencial fantasma ou fazer um fechamento em situações que deveriam estar há muito no passado.

 

Ou é apenas uma desculpa para escrever minha autobiografia.

 

Sei lá.


Até. 

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