domingo, janeiro 15, 2006

A Sopa 05/26

O primeiro final de semana do inverno.

Viver entre dois hemisférios é assim: saio segunda-feira do verão e chego terça no inverno. Ao menos era isso o que eu esperava, mas por uma concessão de seja lá que forças que regem o funcionamento do mundo, cheguei em Toronto no outono, evidentemente um outono fora de época. Acaso, sorte, benção, chamem como quiserem, foi uma surpresa agradável. E até certo ponto necessária.

Sim, porque não é simples deixar o verão para trás e ingressar assim, de súbito, num inverno rigoroso. É justamento para isso que foram feitas as estações intemediárias, primavera e outono. Para que nos preparemos para os extremos, para não sofrermos o “choque” da mudança.

O inverno, que deveria estar me esperando na saída do aeroporto e que benevolentemente deixou para aparecer somente ontem, é a estação da introspecção, dos silêncios, dos vinhos, dos chás quentes e das músicas melancólicas. Blues, a triste música dos escravos negros do Mississipi, é também o termo usado para caracterizar depressão, e o inverno tem a sua, the winter blues.

Mas não é disso que quero falar. Dizia eu que é preciso adaptação para receber o inverno, porque o estado anímico muda e ficamos, sim, mais introspectivos nos meses frios e de pouca luz, como é aqui no norte. Preocupava-me, então, chegar de repente no inverno.

Não aconteceu. Desde terça, quando cheguei, a temperatura vinha andando em torno dos 3 a 6ºC, alta para quem esperava vários graus negativos. E, como desde o dia da chegada – quando do aerporto fui direto para casa, rápido banho e para o hospitall – as coisas têm sido bem corridas (como vão ser até o final de junho), o sábado que passou foi o dia perfeito para entrar no clima de inverno.

Desde a madrugada, ventava muito, o que lembrou o Minuano, o vento frio e seco que sopra do oeste, e que “assobia” nas noites dos invernos gaúchos. Foi o vento quem me acordou, magrugada ainda, temperatura negativa, para me avisar que agora, sim, estou pronto para o Frio, aquele que se escreve com letra maiúscula e se trata por senhor, e que vem por aí. Se estou pronto, que venha, então, oigalê* tchê!

O sábado, portanto, foi de silêncios e leituras e pensamentos, como deve ser um bom sábado de inverno. Faltou o chimarrão e a milonga, mas foi por distração minha, o que não vai acontecer de novo.

* Oigalê é usado para exprimir admiração, espanto, alegria

Até.