Inacreditavelmente, acordo às 9h.
(Digo inacreditavelmente porque nunca durmo tanto. Nove horas! Não lembro a última vez que dormi tanto. Talvez há um ano e meio atrás, logo que cheguei aqui, naquele primeiro e doloroso final de semana sozinho nesta cidade que era estranha e misteriosa, mas que agora é minha casa também. Naquele vez, dormi muito na tentativa de fazer o tempo passar mais rápido, e também para não pensar em nada. Nada mesmo. Mas agora é diferente...)
Levanto da cama e abro a cortina: vento e gelo/neve por tudo. Mentalmente, reviso os meus planos para o sábado em que o inverno parece ter voltado, e decido suspendê-los. Tomo o café da manhã olhando para o cenário predominantemente branco da rua. Silêncio.
(Tenho pensado demais. Não que isso seja ruim, ao contrário, mas tem seu preço. Essa semana, perdido em pensamentos paralelos, cheguei – assim, como se fosse comum, parte de todos os dias – na finitude humana, na morte. Mais específico, no que acontece após a morte. E fiquei angustiado por alguns instantes. Há vida após a morte, ou tudo acaba? Pensei na não-existência, na negação do ser, na ausência de tudo. Sacudo a cabeça de um lado para outro, como se para recolocar as peças no lugar, para afastar pensamentos inúteis por que sem resposta.)
Preparo o chimarrão. Espero a água chiar (porque não pode ferver) e inicio o ritual solitário de matear enquanto leio o jornal, neste caso online. Ao mesmo tempo, cuido de pequenos afazeres domésticos, necessários ao bom funcionamento dos próximos dias.
(O silêncio me agrada. Em meio a tanto ruído vindo do mundo exterior, às vezes é bom sentar e observar o tempo passar. Se fores bem atento, concentrado, ouvirás o tempo passando, como os sons que vêm desde a criação do universo, que talvez sejam a fonte de todos os outros sons. Vê? Consegues ouvir a música que vem no ar?)
Assim passa a manhã, e a tarde avança em direção à noite. Desta forma, os dias viram semanas, que viram meses, e esses, anos.
(Nos é permitido isso, parar para ver o tempo que passar? Será que não perderemos o rumo ao não acompanhar o cortejo que insiste em que o sigamos? Saberemos o caminho, se tivermos que andar sozinhos?)
Não sei vocês, mas eu sei onde quero chegar.
Até.