Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
sábado, outubro 31, 2020
sexta-feira, outubro 30, 2020
Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Trinta Dias
Política.
Estamos há cerca de duas semanas da eleição para prefeitos e, em Porto Alegre, as pesquisas – nunca esquecendo dos vieses que elas possuem – apontam a candidata do partido comunista (sério, de verdade) como a líder das pesquisas, tendo como vice um candidato do partido dos trabalhadores (não riam). Inacreditável. É bem provável que ela esteja no segundo turno e, então, seremos todos os outros contra os comunistas, assim espero.
Porque – vamos admitir – não dá para levar a sério alguém que defenda o comunismo (ou socialismo, que seja). São ideologias e sistemas fracassados e que nunca trouxeram bem-estar a quem quer que seja, com exceção de uma pequena casta governante. Nem vale a pena falar sobre isso.
E então circulava eu de carro por Porto Alegre, no caminho entre o hospital e minha casa, ouvindo rádio. Gosto de ouvir rádio. Por coincidência, estava sendo entrevistado o eterno (sempre concorre) candidato do partido socialista dos trabalhadores unificado, que prega o socialismo revolucionário, seja lá o que for isso. Tive que ouvir, mesmo sabendo que – por princípio – jamais votaria nesse partido e/ou candidato.
Fiquei constrangido.
Conselhos populares eleitos nas fábricas, nos sindicatos, nos quilombos e nas regiões mais pobres da cidade, seriam quem decidiria os rumos da administração, trabalhando contra os capitalistas, empresários e bancos. E quanto ao legislativo, perguntou o entrevistador (que são representantes eleitos pelo povo, lembro eu). Ou aceitariam as determinações ou haveria confronto, deu a entender ele, com outras palavras. E o transporte público? Seria municipalizado, e o “patrões” pagariam para que fosse gratuito para os trabalhadores...
Não vai ser eleito, claro.
Mas me pergunto se ele realmente pensa isso.
Não pode ser sério...
Até.
domingo, outubro 25, 2020
A Sopa
(Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Vinte e Cinco Dias)
Eu fiz a vacina chinesa. Ou não.
Tem sido crescente nas últimas semanas a vontade de escrever a última Sopa desta pandemia, a crônica final do diário do coronavírus. Não que eu esteja afirmando ou mesmo pense que tenha acabado, mas é que cheguei (chegamos) a um ponto de quase esgotamento mental relacionado ao assunto. Em outras palavras, a tolerância está em seus últimos estertores.
Porque as pessoas falam muito, e quem fala muito corre o risco de dizer bobagem. Não me excluo disso, também corro esse risco e devo dizer algumas por aí. Paciência, é o risco que corro por me expor.
Não assisto a telejornais, seleciono o que vou ler, mas – mesmo assim – não consigo evitar de todo tomar conhecimento das polêmicas criadas diariamente relacionadas ao coronavírus, Bolsonaro, Trump e outras. É cansativo, mentalmente, e não há sinais de que vão diminuir, o que – admito – desanima.
Estamos no final de outubro, o final do ano se aproxima a passos largos, e não há – no momento – perspectiva de que passaremos a virada do ano de forma mais tranquila. O Uruguai, por exemplo, anunciou que vai manter suas fronteiras fechadas durante todo o verão, acabando com uma ideia de férias no final de janeiro. Paciência, digo eu, e reconheço que o que mais eu disse esse ano foi justamente isso.
Nunca fomos tão pacientes.
Mas também passivos.
Diante de diversos absurdos que nos foram impostos durante o ano em nome da “ciência” e que – na realidade – não muitos eram baseados em ciência de verdade, fomos aceitando que nos tirassem a liberdade e a autonomia. Temos sidos vítimas de uma ditadura de pensamento que não admite que se questione nada. A hashtag “Fique em casa”, é só o exemplo mais visível de todo esse movimento, que permite festas em condomínio, abertura de cinemas, mas não querer a volta das aulas presenciais.
A hipocrisia, a hipocrisia.
E as pessoas acham normal, o que é compreensível, levando-se em conta o pânico criado por aqueles que querem nos manter sob seu controle. Ainda vamos sentir por muito tempo, em termos de saúde pública, os prejuízos causados por essas medidas tomadas a partir de premissas equivocadas. E tudo isso sem em nenhum momento eu querer diminuir a seriedade do momento.
Pareço amargo, eu sei.
Por isso, penso em ser este o último capítulo desse diário do ano da pandemia. Porque eu não sou assim, e nem vou me tornar uma pessoa pessimista ou amarga.
Quero mudar de assunto, só isso.
Até.
sábado, outubro 24, 2020
quarta-feira, outubro 21, 2020
Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Vinte e Um Dias
Chega, não?
De tudo. Da pandemia, das discussões sobre a segunda onda, sobre a contagem do número de casos, sobre a “estratégia” sueca, sobre lockdowns, sobre volta às aulas presenciais. Chega de discutir quem está certo e quem está errado na condução dos diferentes estados e países durante a pandemia, de discussões em redes sociais. Chega de ser tratado como massa de manobra.
Chega, acima de tudo, de misturar política partidária em tudo.
Chega da narrativa que diz que tudo o que o governo faz está errado, chega de quem chama o governo de fascista e genocida, mas diz que o governo deve obrigar todo mundo a se vacinar. Chega de quem quer manter tudo fechado, de quem previu um milhão de mortes no Brasil em agosto e continua por aí sendo considerado um cientista sério. Chega de youtubers alçados a intelectuais. Chega de comunista candidata a prefeita escondendo a foice e o martelo de sua publicidade. Chega de ex-prefeito dizendo que vai fazer o que não fez quando teve a chance.
Que saco.
Eu, ao menos, estou cansado.
Pode ser que seja apenas uma semana mais corrida. Pode ser que não.
Até.
domingo, outubro 18, 2020
A Sopa
(Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Dezoito Dias)
Perspectiva.
Um novo assunto velho.
Não consigo olhar o mar, independente de onde eu esteja, sem observar as ondas e pensar que a praia, seja Cidreira/RS ou Waikiki/Hawaii, é apenas uma ínfima porção do todo. Imagino o oceano como um todo, e não tem como não perceber que no fundo, bem no fundo, as praias todas são iguais. São apenas uma pequena borda de algo muito maior. Olhar o mar nos dá a dimensão da nossa insignificância diante do universo. É um chamado para a humildade.
Estivemos na praia esse final de semana que ora termina.
Lembrei disso ao caminhar na areia, vento soprando forte, sol sem nuvens, temperatura amena. Máscaras. Distanciamento. Fiz churrasco no sábado à noite. Conversas sobre a vida.
Descanso.
A semana que começa será mais corrida.
Seguimos.
Até.
sábado, outubro 17, 2020
sexta-feira, outubro 16, 2020
(Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Dezesseis Dias)
O que reproduzo abaixo não diminui em nada a importância da pandemia, mas demonstra que a doença deve estar mais disseminada do que os números oficiais mostram. Mantemos os cuidados, mas – de novo afirmo – sem pânico.
Até.
Bulletin of the World Health Organization
Infection fatality rate of COVID-19 inferred from seroprevalence data
John P A Ioannidisa
a Meta-Research Innovation Center at Stanford (METRICS), Stanford University, 1265 Welch Road,
Stanford, California 94305, United States of America.
(Published online: 14 October 2020)
Objective: To estimate the infection fatality rate of coronavirus disease 2019 (COVID-19) from seroprevalence data.
Methods: I searched PubMed and preprint servers for COVID-19 seroprevalence
studies with a sample size 500 as of 9 September, 2020. I also retrieved additional results of national studies from preliminary press releases and reports. I assessed the studies for design features and seroprevalence estimates. I estimated the infection fatality rate for each study by dividing the number of COVID-19 deaths by the number of people estimated to be infected in each region. I corrected for the number of antibody types tested (immunoglobin, IgG, IgM, IgA).
Results: I included 61 studies (74 estimates) and eight preliminary national estimates. Seroprevalence estimates ranged from 0.02% to 53.40%. Infection fatality rates ranged from 0.00% to 1.63%, corrected values from 0.00% to 1.54%. Across 51 locations, the median COVID-19 infection fatality rate was 0.27% (corrected 0.23%): the rate was 0.09% in locations with COVID-19 population mortality rates less than the global average (< 118 deaths/million), 0.20% in locations with 118–500 COVID-19 deaths/million people and 0.57% in locations with > 500 COVID-19 deaths/million people. In people < 70 years, infection fatality rates ranged from 0.00% to 0.31% with crude and corrected medians of 0.05%.
Conclusion: The infection fatality rate of COVID-19 can vary substantially across
different locations and this may reflect differences in population age structure and case mix of infected and deceased patients and other factors. The inferred infection fatality rates tended to be much lower than estimates made earlier in the pandemic.
segunda-feira, outubro 12, 2020
A Sopa
(Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Doze Dias)
Donald Trump tem razão.
E não falo aqui das eleições americanas, do desempenho dele como presidente, nem de muro, China, México, muro, ou fazer a “América Great Again”. Não. Nada disso.
Recentemente, não sei se antes, durante ou depois de o mesmo ter tido COVID-19, ele afirmou para os americanos não temerem o coronavírus, e seguirem com suas vidas. E ele está certo neste ponto.
Não devemos temer o Sars-CoV-2, o popular coronavírus.
Por que não devemos temê-lo?
Porque o medo não é – apesar de tudo – sempre um bom conselheiro. É evidente que muitas vezes a sensação de medo nos livra de potenciais situações de risco. É ele, sob certo prisma, quem nos dá moderação, evita arroubos perigosos. Mas pode ser perigoso se sucumbimos a ele em outras situações. Principalmente quando nos paralisa, quando paralisa nossas vidas.
E é o que tem acontecido com algumas pessoas por aí, certamente motivado pela forma que se tem tratado o assunto como um todo. É super comum – ao atender pacientes – saber que eles estão há mais de seis meses dentro de casa, quase sem sair, sem pegar sol, sem se movimentar, sem praticar algum tipo de atividade física, por medo de adoecerem, muitos deles mesmo sem fazer parte de algum gruo de risco. Como se – caso saiam de casa – serão abatidos como gado por um vírus mortal ao colocarem o pé para fora de suas casas.
Não é, não vão.
São absolutamente corretas as medidas de distanciamento, evitar aglomerações, usar máscaras em locais fechados, isolar dos doentes, proteger os de grupos de risco. Lavagem de mãos, álcool gel, etc. É o que devemos fazer. Isso não se discute desde muito tempo.
Já cansamos de falar disso, não?
Já está em modo automático, é um hábito.
Agora vamos em frente, próximo passo, move on.
A vida tem que continuar. Sem vacilar nos cuidados. Sem contar o número de infectados (não é importante, temos que controlar os casos graves, as internações em UTI). Protegendo os vulneráveis.
As escolas têm de voltar de forma presencial.
O lockdown, já escrevi isso há mais de três meses e a OMS disse o mesmo semana passada, serve apenas para que o sistema de saúde se prepare, ou seja, serve para achatar a curva, o que fizemos por aqui. Mas jamais deve ser a medida primária para lidar como a pandemia, como infelizmente foi feito por aqui num determinado momento.
Sempre disse que ia passar. E vai. Já está passando.
Agora é como uma luta de boxe: não baixar a guarda que chegamos ao fim.
Até.
sábado, outubro 10, 2020
sexta-feira, outubro 09, 2020
quinta-feira, outubro 08, 2020
terça-feira, outubro 06, 2020
segunda-feira, outubro 05, 2020
Nova Scotia
Viagens
Ao longo do tempo, criamos uma certa tradição aqui em casa, relacionada ao aniversário da Jacque: comemorá-lo com uma viagem. Nem sempre foi possível, evidentemente, mas conseguimos algumas vezes. A época, outubro, é ótima para viajar, em termos de clima e custos de viagem, por não ser alta estação.
A primeira vez foi lá em 2003, quando fomos para a França – primeiros dias em Paris, depois seguindo a região da Alsácia –, Alemanha (Baden-Baden, Heidelberg, Nuremberg, Munique) e terminando no norte da Itália. Depois, em 2005, nos encontramos, eu vindo de Toronto e ela do Brasil, na Itália, e fomos de Milão até a Sicília de carro, junto com os pais dela.
Mais adiante, em 2007, sul da França, Provence e Côte D’Azur, com os ainda casados Paulo e Karina e o Pedro e a Zeca. Já em 2009, a primeira viagem da Marina, com um ano de idade recém completado, a Karina, a Jacque e eu, para a França mais uma vez, Normandia, Mont Saint-Michel e encerrando na Disneyland Paris.
A viagem seguinte no aniversário da Jacque foi no ano de 2012.
E foi meio por acaso.
Cerca de seis meses antes, estávamos – a Jacque e eu – em casa em um sábado à noite em que a Marina fora dormir na casa de uma das avós. Olhávamos e-mails lado a lado, quando vi um e-mail da TAM com promoção de passagens aéreas. Para voos nacionais. Nacionais. Navegando pelo site, acabamos comprando por impulso as passagens para essa viagem que seria em outubro.
Para a Inglaterra.
Cerca de quarenta e cinco dias antes da viagem é que acabamos definindo o roteiro com base no tempo que teríamos de viagem. Fomos à Inglaterra (Londres, Oxford, Stratford-Upon-Avon, Liverpool no dia do aniversário, e Windsor, no final) e País de Gales (Conwy, Betws-y-Coed, Llandridod Wells, Swansea e Cardiff). Grande viagem, e a experiência maluca de sair de Londres dirigindo com mão inglesa e chovendo.
A última das viagens de aniversário até aqui foi no ano passado, e esse texto (e os próximos) é sobre ela. Fomos para a Costa Leste do Canadá, Nova Scotia e Prince Edward Island.
Espetacular.
Foi, contudo, a primeira viagem longa nossa desde o nascimento da Marina. Ela sempre fora conosco em nossas viagens, porque nunca nos importamos e ela é grande parceira de viagem. Tem o privilégio de, aos dozes anos, já ter viajado muito. Ficamos, evidentemente, felizes por proporcionar essas experiências a ela. É o tipo de herança que sempre pretendi deixar...
Havíamos decidido que iríamos viajar no aniversário da Jacque e a Marina, por estar aulas, não iria dessa vez. Pesquisamos muito para escolher o destino, afinal opções não faltavam. Alasca? Muito longe... A ideia da retornar à Alsácia, na França, nos agradava muito. Contra a Costa Leste do Canadá havia a questão da logística dos voos. Sem voos diretos, e relativamente caros.
Até que encontrei um voo que saía de Porto Alegre, fazia conexões em Guarulhos e em Nova York (quatro horas de intervalo entre os voos, com troca de aeroporto, do JFK para o La Guardia) e chegada em Halifax. A volta, Halifax para Nova York, dormindo uma noite na casa do meu irmão e voltando no outro dia para casa. Perfeito. Fechamos a passagem. Estava definido o destino.
Foi sensacional.
Uma viagem para repetir. Com mais tempo.
Até.
domingo, outubro 04, 2020
A Sopa
(Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Quatro Dias)
A vida segue seu curso.
Apesar de estar de certa forma em suspenso, a vida segue quase que normalmente, o que é bom. Por outro lado, é bem ruim, e eu explico para você, leitor dessa Sopa semanal e com quem eu certamente não encontro pessoalmente há meses, em meio a essa pandemia que vivemos há mais de meio ano.
Digo que a vida segue quase normal porque continuo trabalhando tanto presencialmente como remotamente. O consultório, a Universidade (desde o final de agosto quando retornei formalmente ao mundo acadêmico), e o hospital requerem minha presença, para orientar os alunos nos atendimentos e para eu mesmo atender pacientes. Além disso, as reuniões rotineiras de discussão de publicações científicas e de casos clínicos estão sendo realizadas de forma remota, sempre no final do dia. De certa forma, os dias também foram alongados.
É claro que o ritmo de trabalho não está igual a antes, porque os horários de consultório foram reduzidos para não causar aglomerações lá, e por não estarmos atendendo em dois colegas nos mesmos turnos. O que – se financeiramente não é nada bom, aliás, é quase uma tragédia – em termos de qualidade de vida é ótimo. Esse tempo a menos de disponibilidade de atender consultório tem servido para estudar bem mais que o usual, e de forma natural, tranquila. E seguir com a atividade física de maneira regular, o que só a chuva dos finais de semana tem atrapalhado.
Poderia seguir nesse ritmo por muito mais tempo, devo confessar, mas sei que em breve o volume de trabalho deve aumentar novamente, e muito. O que vai ser muito bom.
O que – admito – já cansou nessa pandemia é a questão do distanciamento.
E não falo aqui dos cuidados que temos que ter em nosso dia-a-dia, como usar máscaras (não me importo) ou lavagem dedicada de mãos (já fazia). Falo da impossibilidade da convivência social, com família e amigos. Falo da impossibilidade teórica atual (não definitiva) dos encontros, dos churrascos, dos momentos de descontração leves, despreocupados. Dos planos, muito mais que das viagens (que, sim, fazem falta).
Essa limitação me incomoda, desde o início da pandemia, e a intensidade desse sentimento não mudou, e sei que já escrevi sobre isso.
Ou seja, a intensidade não aumentou, mas também não aliviou.
O que tem aumentado mesmo é a insatisfação com as redes sociais, que – mesmo eu sabendo que não são um retrato da vida real, que são apenas a manifestação da bolha em que vivemos – estão cada dia mais chatas. Continuo as utilizando para o que me propus desde o início: encontrar pessoas, relembrar histórias, compartilhar fotos que me agradam.
De resto, tento desconsiderar.
Até.
sábado, outubro 03, 2020
sexta-feira, outubro 02, 2020
Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Dois Dias
Yo sé quién soy.
Importante conquista da vida: saber quem somos. A partir daí, todo o resto de desenrolará. O que queremos, para onde desejamos ir, com quem caminhamos. E o processo de autoconhecimento não é fácil, quase sempre doloroso.
Um longo caminho, tortuoso, cheio de obstáculos.
Necessário trilhá-lo, contudo, para termos uma vida plena. Nem todos querem, nem todos conseguem. Alguns nem sabem que precisam fazer esse caminho.
Eu tenho tentado, desde há muito tempo.
Sigo caminhando.
Até.