terça-feira, março 21, 2023

Perdidos Mães e Filhos (11)

 A Ideia, Os Planos (10). 

A montanha.

Descobri, ao longo do tempo, que tenho uma atração, um fascínio muito grande pela montanha. Sua imponência, sua grandiosidade. A humildade que vem da constatação de que somos pequenos diante a imensidão do mundo. A altura, a proximidade do céu, o silêncio. Há algo de sagrado na montanha. A montanha chama, a montanha me chama.

 

Tenho o sonho secreto de algum dia morar em uma cidade próxima à montanha. Onde a sua presença permanente no campo de visão seja uma lembrança de que há algo maior que nós. Isso, a montanha é uma experiência religiosa. Ao longo dos anos, tive a oportunidade de visitar alguns lugares de montanha, e todas as experiências foram especiais, de certa forma.  

 

Mont Blanc, 1999, minha primeira vez na montanha


A primeira vez que lembro dessa sensação não foi quando primeiro subi uma grande montanha, o Mont Blanc, a mais alta montanha dos Alpes, lá em 1999, com os Perdidos na Espace. Foi uma experiência impactante, mas ainda não foi essa a que me causou o encantamento que só iria aumentar com o passar dos anos. Também não foi no final do ano 2000, quando – ao chegar no extremo norte do Lago di Como – decidimos subir a montanha e entrar na Suiça para uma rápida parada (sem ao menos fazer câmbio) em St.-Moritz, ou quando – dias depois – chegamos (minha primeira vez) em Ortisei, no Val Gardena, norte da Itália, antes de seguirmos para Rasun di Sopra, bucólico vilarejo onde passamos a noite de Natal, e depois cruzamos os Alpes pela Passagem de Brenner, entrando na Áustria e seguindo para a Alemanha e depois França, terminando a viagem em Paris.


Chegando a Rasun di Sopra, véspera de Natal de 2000

 

Não, ainda não havia sido dessa vez.

 

Foi um ano e pouco depois, em fevereiro 2002, quando – vindos da França – atravessamos os Alpes pelo Túnel de Frèjus, vindos de Aix-les-Bains (onde provamos um dos melhores soup d-ognions de nossas vidas) e seguimos até Turim, onde ficamos uma noite antes de seguir para o Val d’Aosta. Foi ali, em Turim, que visitamos a Basília di Superga, que fica em seus arredores, em um morro. De lá, avistando a cidade abaixo e, ao fundo, as montanhas com neve, que me encantei definitivamente com a montanha.

 

Turim e os Alpes ao fundo


Ao longo do tempo a partir desse momento, sempre que possível tentamos incluir em nossos roteiros uma passada perto da montanha. Nessa mesma viagem, de 2002, foi quando pela primeira vez tive a experiência de dirigir na SS48 (Strada Statale 48), a Grande Rodovia dos Dolomitas, estrada cênica pelas montanhas que foi construída entre 1901 e 1909 com o objetivo de ligar Bolzano e Cortina D`Ampezzo, e – com algumas passagens de montanha - foi considerada, à época, um dos grandes feitos da engenharia do século 20.


Jacque e os Dolomitas, 2002

 

Nossa rota, nessa primeira vez em 2002, começou em Cortina D`Ampezzo, de onde chegáramos vindos de uma noite em Pordenone, onde havíamos ficado após sair da Áustria (após sermos multados na estrada por não termos comprado o selo para circulação nas autoestradas, ao sair de Graz, cidade-natal do Arnold Schwarzenegger, mas tudo isso é outra história). Após passarmos duas noites com muita neve em Cortina, descansando, passeando um pouco e assistindo às Olimpíadas de Inverno, começamos a cruzar os Alpes pela SS48.

 

Passo Sella, fevereiro/2002


Numa sequência de vistas impressionantes, passamos por três passagens de montanha, o Passo di Falzarego (2105m), o Passo Pordoi (2239m) e Passo Sella (2218m), terminando esse trecho em Ortisei, antes de seguir para Madonna di Campiglio, outra estação entre as principais da Itália (onde inclusive a Ferrari faz eventos lá).   

 

A partir daí, o meu fascínio pela montanha só aumentou e, sempre que possível, algum roteiro de montanha fazia parte de nossos roteiros (ou apenas a visão dela). Na primavera de 2003, quando – vindos da Alemanha e Áustria – cruzamos o Passo Thurn (1274m) rumo à Cortina D’Ampezzo fora de estação, começo do outono. No inverno de 2004, Bariloche com os amigos Pedro e Zeca, sobrevoando os Alpes no voo que ligava Frankfurt e Milão em 2005, quando fiz questão de me sentar no assento da janela. 


Bariloche, 2004, "esquiadores"

 

 

Avançando no tempo, 2007 fizemos novamente uma viagem dos Perdidos, intitulada ‘Se Achando’, e teve o seu momento montanha. Ao chegarmos por Paris, pegamos o carro no aeroporto e seguimos direto à Annecy, uma cidade alpina no sudeste da França, onde o Lago Annecy deságua no rio ThiouFicamos a primeira noite lá e seguimos, já subindo, até Chamonix, estação de esqui no lado francês do Mont Blanc. Dessa vez não subimos a  montanha e, após um passeio e um café, seguimos para um pequeno trecho na Suiça, cruzamos o Passo de Forclaz (1527m) e entramos na Itália através do Passo de Gran San Bernardo (2469m) para chegar em Aosta, principal cidade do Val D’Aosta italiano, cercada de montanhas, e no outro dia ainda visitar Breuil-Cervinia estação de esqui a 2006m de altitude aos pés do Matterhorn. 



Passo de Forclaz, Suiça, 2007


Nosso (Jacque, Marina, Karina e eu) próximo contato com a montanha foi em 2013, no Canadá. Após uns dias em Toronto, fomos para Calgary, na província de Alberta, e daí para os Parques Nacionais de Banff e Jasper, montanhas e montanhas, e seguimos até a British Columbia de carro, com vistas inesquecíveis.

 

Banff, Rochosas Canadenses, 2013


Quando fizemos a viagem para Itália em família organizada pelo meu sogro, em 2014, fomos, após visitar Trento e Verla Di Giovo, sua cidade natal e – uma vez mais – em Ortisei. Essa é uma das principais cidades do Val Gardena (junto com Selva di Val Gardena e Santa Cristina). É uma famosa e movimentada estação de esqui, com muitos quilômetros de pistas para todos os níveis de esquiadores. A região também é conhecida pelo artesanato em madeira, produzindo altares, santos para igrejas e presépios em madeira, além de bonecas. A culinária, do norte da Itáia, também, é destaque. Cogumelos, polenta, risotos, estão entre os ingredientes e pratos de destaque.


Ortisei, Val Gardena, junho/2013

 

Como eu dizia, nossa rota começava ali, na SS242 saindo de Ortisei, passando em sequência por Selva di Valgardena e Santa Cristina de Valgardena, todas elas pequenos resorts de inverno cuja estrada as atravessa no meio para, então começar a subir a montanha em direção à primeira das passagens de montanha, o Passo Sella, a 2218m de atitude, distante apenas 17km de Ortisei. Dezessete quilômetros de uma estrada estreita e subindo, com vistas fantásticas. Seguindo o trajeto, cruzamos o Passo de Pordoi e fomos até Cortina D’Ampezzo, onde dessa vez paramos só para almoçar.


Passo de Pordoi, 2014


Saindo de Cortina, seguimos pela SSS-1 pelo Parco Naturale Fanes-Sennes-Braies até Dobbiaco e depois Rasun di Sopra (onde passara o Natal de 2000), em pleno verão. Ficamos no mesmo hotel (Andreas Hofer) e, quando fomos passear “no centro da cidade”, encontramos apenas a igreja, o centro comunitário e um misto de mercado com agropecuária... De qualquer forma, valeu.

 

Depois desse longo introito, imagino que o leitor já tenha entendi o meu fascínio pela montanha. Quando planejávamos a viagem, estava evidente que algum destino de montanha teria que estar incluído no roteiro. Duas questões a resolver: nosso tempo estava ficando escasso pela grande volta que nos propuséramos dar, e – pode ser final de semana de inverno – as opções de hospedagem estavam ou restritos ou muito caras. Como uma quase tradição, e em virtude do nosso roteiro (estaríamos próximos à Verona, nas margens do Lago di Garda), decidimos visitar Ortisei. Destino já conhecido, mas sempre bom retornar.

 

O problema foi justamente o citado anteriormente: os poucos hotéis disponíveis para o sábado de carnaval estavam com valores fora da (nossa) realidade. Mesmo. Assim como em Verona, a opção foi procurar locais na região, mas não necessariamente na cidade. Em meio às pesquisas, encontrei um chalé para alugar em Meltina, cidade a cerca de 30km ao norte de Bolzano. O chalé era muito legal, e ficava num local meio isolada, em meio às montanhas. Ia ser nossa última estadia antes da noite que passaríamos em um hotel próximo ao aeroporto de Milão, então achamos legal a ideia de ficar em um lugar isolado.

 

Isolado demais, devo confessar.

 

Conto depois.

  

Até.

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