A Viagem (4).
Quando, na segunda-feira pela manhã, havia retirado o carro na locadora, ainda no estacionamento do aeroporto de Malpensa, havia conferido e fotografado todos os arranhões e amassados existentes no carro antes de eu começar a dirigi-lo. O nível do combustível, em 3/4 de tanque, também (e só iria notar que havia sido registrado como tanque cheio mais no final da viagem...). Parecia tudo certo.
Parecia.
Agora, no segundo dia de locação, no litoral, acabara de acender uma luz de manutenção no painel, em plena autoestrada. Verificando no manual do carro, indicava necessidade de reposição de AquaBlue, seja lá o que isso fosse. Primeiro pensei em que poderia ser algo a ver com líquido anticongelante (era inverno, mas não estava tão frio naqueles dias), mas não tinha como saber. A solução foi parar em um posto de abastecimento e perguntar.
Como o leitor pode já saber, eu NÃO falo muitos idiomas, mas tenho – ao menos – noções bem básicas de alguns, um inglês modestamente bem bom, e uma disposição de me comunicar. Ao chegar no posto, desci com o manual do carro na mão e fui “conversar” com as atendentes. Não falavam inglês, óbvio, mas conseguimos nos entender. Iriam repor o AquaBlue (que parece ser um fluido hidráulico baseado em água, seja lá o que isso for, afinal, enquanto motorista/mecânico, apenas sei andar para frente, como costuma resmungar/brincar meu pai). Achei que seria algo como uma garrafa de meio litro, mas não. Ela veio com uma bombona de uns 5 litros desse fluido e colocou tudo. Quanto custou a brincadeira? Quarenta e dois euros...
Manutenção feita, seguimos em direção às Cinque Terre.
Assim como no longínquo ano 2000, quando a Jacque e eu optáramos por visitar apenas uma das cinco cidades que compõe esse famoso destino turístico, decidimos visitar apenas Vernazza, cidade que inspirou a vila de pescadores retratada na animação Lucca. Lembrava que deveríamos deixar o carro num estacionamento e fazer o quilômetro final em descida até a cidade caminhando.
Após sair da estrada principal (A12/E80), seguimos por uma longa, sinuosa e estreita estrada até lá. Eu, dirigindo nosso quase ônibus, e as meninas entre encantadas com a vista e aterrorizadas pela estrada. A viagem é lenta, com literais paradas ao cruzar com outros carros para evitar colisões, de um lado da estrada o morro e do outro a queda. Algumas tornantes (curvas de 180º subindo ou descendo). Uma distância não longa que nos tomou um bom tempo. Completamos o percurso sem intercorrências e com todos me respeitando muito mais como motorista...
Ao chegar no limite permitido para carros não locais, não havia estacionamentos. Após perguntar para um cidadão que passava, deixei o carro ali mesmo, no acostamento, junto com outros poucos ali “estacionados” e iniciamos a parte final para chegar em Vernazza. O trajeto, em descida, é de cerca de 1,5km (segundo o Google Maps).
Já nessa primeira caminhada mais ou menos longa (caminharíamos muito mais durante a viagem) evidenciou-se um “desacordo” entre o grupo, ou, para ser mais específico, entre o grupo e eu: a velocidade, o ritmo de caminhada. E, para ser honesto, não é um conflito nenhum pouco novo. Eu, tradicionalmente, SEMPRE caminho mais rápido que o grupo. De verdade. Porque eu NÃO consigo caminhar lentamente, tipo aquele “passinho shopping center”, porque ele me cansa mais, provoca dores musculares e em joelhos e quadril.
Desde que começamos a viajar em grupo, esse fenômeno acontece.
Não é por mal, nem de um lado e nem de outro. Temos ritmos diferentes, apenas. Eu ando mais rápido e depois espero, por mim tudo bem, mas é claro que reclamam de mim... nada que atrapalhe a viagem, óbvio.
Fizemos todo o trajeto em descida até uma Vernazza fora de estação. Algumas obras, construções, muitos estabelecimentos fechados. O tempo, contudo, continuava belíssimo. Fomos até o porto para apreciar a beleza da cidade, ver o Mediterrâneo e o sol da tarde (apesar de ser ainda antes das 15h). A igreja local, cujas janelas têm vista para o mar, é outro local de beleza ímpar.
Tudo muito bonito, mas precisávamos de um banheiro e almoçar, não necessariamente nessa ordem. Entre os poucos locais (ainda) abertos, optamos por comer na Antica Osteria Il Baretto. Belo almoço, regado a vinho para as meninas, exceto a Marina, óbvio, e para mim, o motorista. Comemos com calma antes de iniciar a volta até o carro, um quilômetro e meio para cima, e depois retornando pela mesma longa, sinuosa e estreita estrada até podermos seguir em direção ao destino de final de dia.
Lucca.
Até.
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