Foi quando aconteceu.
Sempre disse, e continuo afirmando, que o sábado de manhã é o melhor momento da semana (o melhor dia, por outro lado, é a quarta-feira, o que requer uma explicação que não vou dar agora). Tudo pode acontecer em um sábado (e, diz a música, todo mundo espera alguma coisa se um sábado à noite). Até acidentes, evidentemente.
Como há um ano, exatamente dia quatorze de outubro.
Era uma manhã de sábado como outra qualquer, e as nuvens cobriam todo o céu naquele início de dia. Acordei cedo como de hábito, tomei café e me preparei para sair de bicicleta (bike, se preferirem), hábito ou rotina de finais de semana e feriados dos quatro anos anteriores, de mais de nove mil quilômetros pedalados. Bicicleta revisada há pouco tempo, equipamento de segurança – capacete, luvas, óculos – em dia, saí de casa normalmente.
Fui por uma quadra da Ramiro Barcelos pela calçada até entrar na Av. Independência, onde segui em direção ao Centro de Porto Alegre pelo corredor de ônibus. Após cerca de cem metros, no momento em que começa uma leve descida que vai até a esquina da Rua Santo Antônio, troquei de marcha e acelerei.
A partir daí as coisas ficam confusas, e não lembro exatamente o que acontreceu, apenas de deixar a bicicleta no lugar em que sempre a deixo na garagem e de imagens, flashes, no elevador. Entrei em casa e a Jacque, recém acordando, me pergunta o que aconteceu. Digo que caí de bicicleta e que estava tudo bem. Perguntou como foi, quem tinha me ajudado e como estava a bicicleta, perguntas para as quais eu não tinha resposta.
Não lembrava...
Ato contínuo, virei e voltei à garagem para constatar que a bicicleta estava lá, intacta. Já o meu relógio, um Apple Watch, era perda total. Eu tinha o meu lado esquerdo, ombro, quadril e joelho com escoriações, e queimaduras do contato com o asfalto, meu rosto da mesma forma, e dor na região do punho direito. Pelo fato de não lembrar o que ocorrera, decidimos ir para o hospital para uma avaliação neurológica (era um traumatismo cranioencefálico).
O banho foi muito dolorido, evidentemente.
Para ir ao hospital, pedi ajuda e um amigo me deu carona.
Lá, tudo bem com a parte neurológica, mas o braço quebrado. Isso faltando duas semanas para o show de temporada da School of Rock, do qual participei sem tocar, evidentemente.
No final de outubro, cirurgia e colocação de placa, com sucesso.
A partir de então, mudei o meu discurso. Sempre dizia que eu era um cara que caía. Como o discurso molda a realidade, parei com isso.
Não sou um cara que cai.
Até.
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