terça-feira, março 24, 2020

Crônicas de uma Pandemia – Nono Dia

Uma confissão.

A primeira coisa que faço quando acordo é olhar o celular.

Não, não é para conferir redes sociais quaisquer que sejam. Nem para olhar e-mails, ou notícias, ou a previsão do tempo. Nada disso.

Confiro, logo que acordo, o aplicativo que monitora o meu sono, que está conectado ao meu relógio, e que considera as vinte e quatro horas que vão das dez da noite de um dia até nove e cinquenta e nove do outro. Monitora horas de sono, despertares, sono profundo, qualidade do sono. Acho genial. Por isso, ao acordar, a primeira coisa que confiro é como foi minha noite, e – claro – para comparar como estou me sentindo, como senti a noite.  

E as noites do último ano tem sido boas, admito.

Menos viagens, menos aulas em eventos noturnos, tudo contribuiu para a melhora da qualidade do meu sono. Também a atividade física, evidentemente, tem sua parcela de responsabilidade nessa melhora. E o celular sincronizado com o relógio fazem parte disso, através do controle que faz de movimentos, exercícios, horas por dia em pé. Tudo registrado, comparado com a semana, o mês e o ano anterior.

Sou o meu controle, sou aquele que tenho que superar todos os dias.

É motivador, mas faz parecer que estou viciado no celular.

Não estou, mas admito que poderia usar menos.

Não agora, contudo.

Em tempo de coronavírus, o celular tem sido um aliado de primeira importância. Além de notícias (tentando driblar a histeria e as Fakes News), contatos com colegas e publicações científicas, tem servido para conversar, acalmar e orientar pacientes. Nem tudo é coronavírus, não dá para esquecer. Asma, pneumonia, entre outras ainda ocorrem (para ficar apenas na minha área).

Por isso, qual não foi minha frustração quando hoje cedo, ao acordar, olhar o celular e receber uma mensagem de “Armazenamento Cheio”, que não fazia sentido por eu saber que não era correta. E nada funcionava. Fiz o que todo mundo orientaria a fazer: desliguei o celular para reiniciá-lo. Só que ele nunca mais ligou.

Todas as manobras de ressuscitação foram em vão.

Em meio a uma pandemia, com pacientes ligando o tempo todo! Numa hora dessas?! Timing...  Timing is a bitch, como dizem.

Paciência.

Fui ao consultório ver os poucos pacientes que havia confirmado que iriam, e ainda assim teve quem faltou. Acontece, mesmo em tempos de pandemia. Após, supermercado, vacina da gripe e levar as compras para os meus pais, que continuam em confinamento, como todos acima de 60 anos deveriam estar.

Continuamos a postos.

Ah, e com um celular substituto/quebra-galho que é quase um telefone fixo, de tão pouco que dura a bateria...

Até.

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