A verdade virá à tona.
Em breve.
Uma primeira consulta havia sido marcada para o ano de 2022, mas essa paciente nunca apareceu, e nem justificou a ausência. Tudo certo, paciência.
Após dois anos, marca novamente.
Chega no consultório, e enquanto preenche o cadastro e faz as burocracias do convênio, a Bete, secretária, comenta com ela sobre a consulta agendada dois anos antes e não comparecida. A paciente pergunta se “vai me cobrar a consulta que eu não vim?”, assim com certo grau de agressividade. Logo após, pede para usar o banheiro, e fica ofendida ao ouvir que deverá usar o do Centro Clínico, porque o do consultório está em manutenção. “Como assim, como vocês fazem?”, pergunta. Ouvindo isso, quase respondi que uso fraldas, mas achei melhor não...
Iniciei a consulta da forma que inicio todas as consultas, me apresentando e fazendo algumas perguntas iniciais como parte da anamnese. Quando perguntei a ela se fumava atualmente ou havia fumado alguma vez, sua resposta antecipou o que viria pela frente. Disse ela que “Não fumo, não bebo, e não faço vacinas”.
Foi dizer isso justamente para mim...
Com toda educação e calma do mundo, tentei explicar que as vacinas eram importantes, seguras, no que ela me disse que as vacinas estavam matando pessoas, e que havia “pesquisado”, fazendo o gesto de digitar algo, indicando que havia “pesquisado” na internet. Vi que era uma causa perdida, que não a demoveria da ideia, o melhor seria prosseguir a consulta. Apenas disse a ela que eu achava um crime o que os anti-vax haviam cometido lhe passando essas falsas informações.
Ela me respondeu que a verdade viria à tona muito em breve, que aqueles que defendiam vacinas eram os verdadeiros criminosos e que, se eu as defendia, eu certamente era parte do esquema/sistema... Foi esse o momento em que a fronteira foi transposta, o limite foi ultrapassado. Não havia mais o que fazer.
Com toda a educação do mundo disse a ela que – infelizmente – naquelas condições eu não tinha mais condições de atendê-la, pois estávamos em um impasse, e ela acabara de me acusar de algo muito grave. A relação médico-paciente havia sido quebrada. Ela disse que tudo bem, iria na médica que havia solicitado os exames que trazia consigo, que tinha marcado comigo apenas para “adiantar” as consultas. Além disso, disse que muito em breve “a verdade será revelada”, e que “o mundo não perde por esperar...”.
Respirei aliviado quando ela foi embora.
Foi a segunda vez, em 30 anos de medicina, que disse que não tinha condições de atender um paciente eletivamente. A outra havia sido quando – em situação parecida, atendendo um professor de jiu-jitso – perguntei a ele se fumava, cigarros ou outros dispositivos, ou outras substâncias, e ele me respondeu:
“Não vou te dizer, não te conheço...”.
O que dizer depois disso?
Até.
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