Sou médico há 30 anos.
Existe um peso embutido nessa afirmação, que dá um certo tipo de credibilidade, do tipo ‘respeite meus cabelos brancos’, no sentido de possuir experiência, de ter vivido muito. Como se fosse uma promoção por tempo de serviço, o que – de certa forma – realmente é. Mais que tudo, são muitas histórias vividas.
Essa marca, trinta anos desde que nos formamos, os colegas da Associação da Turma Médica de 1994 da Faculdade (hoje Escola) de Medicina da PUCRS, além da comemoração entre nós, os formandos daquele ano, me faz também olhar para trás e refletir sobre a passagem do tempo. De onde viemos e quem éramos para onde estamos e quem somos.
Trinta anos é uma vida inteira, mas parece – olhando retrospectivamente – que passou muito rápido.
O quanto o mundo, e a vida em especial, mudou desde aquele 17 de dezembro de 1994, de calor intenso, cerimônia de mais de três horas em que meu pai me entregou o meu diploma, e ele suava de calor, e o pai de uma colega que era irmã de uma ex-namorada minha me abraçou no palco quando passou por mim e a minha namorada à época que estava na plateia não entendeu, e depois teve a festa lá em casa e depois o baile e o café da manhã em um hotel, e antes de dormir, exausto, ainda discuti com a namorada não lembro por que razão, mas passamos a virada do ano juntos, na praia, e deixei ela em casa no dia primeiro de janeiro já como ex-namorados, e ainda faríamos uma tentativa de volta justamente no carnaval, e na primeira noite sonhei com a Jacque, que era colega de hospital, e pensei que nunca teria chance com ela, mas a tentativa de retorno não deu certo, e no dia seguinte à conversa definitiva em que ela disse que não queria mais tentar eu fiz plantão em uma UTI e, ao sair do plantão, fomos todos, residentes de clínica do Hospital da PUCRS jantar na casa de um dos colegas e lá, sentado ao lado da Jacque, perguntei porque brincava comigo dizendo, quando o meu pai ligava para hospital para falar comigo e ela atendia, que o ‘sogrão’ estava ligando, e ela disse que não era brincadeira, e saímos e ficamos juntos e namoramos por um mês em segredo até revelarmos a todos, e um ano e meio depois casamos, a Marina nasceu depois de doze anos, e estamos juntos, felizes, até hoje.
Como em um piscar de olhos, boa parte da vida passou.
Mudei, mudamos.
Ainda há muito o que fazer e percorrer.
Desejos e planos, secretos ou não.
Seguimos, altivos.
Até.
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