terça-feira, dezembro 17, 2024

Trinta Anos

Eu nunca imaginei ser médico.

 

Não era um sonho de infância, daqueles que são motivo de redação na escola com título ‘O Vou Ser Quando Crescer’. Não, nada disso, ou pelo contrário. Queria ser jornalista. Desde que caiu em minhas mãos o ‘Manual do Peninha’, da Editora Abril, que contava a história do jornalismo, os primeiros repórteres, os paparazzi, as técnicas de reportagem, grandes jornalistas e outros, a partir dessa leitura, e junto com minha paixão pela leitura e pela escrita, era isso que eu queria fazer.

 

Jornalismo. E escrever.

 

Não tinha referências médicas no dia a dia da família. Meu avô materno, Gustavo, havia sido médico, mas morrera quando eu tinha sete anos. Lembro de seu escritório na casa de meus avós em Montenegro/RS, e o fascínio pela sua biblioteca, que eu considerava um tesouro a ser desvendado. 

 

Anos após sua morte, houve uma homenagem a ele no Hospital Montenegro, com sua foto incluída numa galeria de médicos ilustres do hospital, e estivemos lá. Chamou minha atenção, mas só. Até que fui me inscrever no curso pré-vestibular, ainda no final do segundo ano do que hoje se chama Ensino Médio e, na hora me marcar opção de curso, marquei medicina, assim, meio que do nada. 

 

Virei alguém que seria médico.

 

Ou não.

 

Pois passei todo o ano preparatório para o vestibular na dúvida entre jornalismo e medicina. Acabei “resolvendo” a questão afirmando para mim mesmo que não precisava ser jornalista para ser escritor, e fui fazer prova para medicina. Passei no primeiro vestibular, e entrei na Medicina da PUCRS. Com dezesseis anos, que completaria já cursando.

 

O “conflito” não acabou aí, claro.

 

Passei boa parte do curso com a ideia de que eu era um estranho, “um cara de humanas na medicina”, o que – olhando para trás – não é nada estranho, pois a medicina requer muito de humanidade e humanidades, então estava em casa, apesar de ter levado um bom tempo para entender completamente isso. Assim como levei um bom tempo para me entender completamente em termos profissionais, porque sempre parecia que precisava ter um plano B, ou rota de fuga, caso descobrisse tardiamente que havia feito alguma escolha errada. 

 

Vai que eu quisesse fazer cinema?

 

Até que percebi que as coisas são mais simples do que eu fazia parecer para mim. E que sou cem por cento médico, mesmo que faça outras coisas, e agora realmente faço, nada diminui minha dedicação à minha profissão, que é parte de quem sou.

 

Tudo isso para lembrar que hoje, 17 dezembro, completo 30 anos de formatura. Parabéns para mim e para os colegas e amigos da ATM94 da PUCRS.


Até. 

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