domingo, dezembro 15, 2024

A Sopa

Estávamos nós, os três amigos, reunidos depois de quase um ano em que não havíamos conseguido nos encontrar, comendo um xis em uma noite clara de final de primavera com temperatura agradável. Um ritual, esse de nos reunirmos em volta de uma mesa e falarmos da vida, que repetimos com maior ou menor frequência há quase quarenta anos, que é o tempo que nos conhecemos e acompanhamos as vidas uns dos outros.

 

Lembro, e continuo falando da passagem do tempo, esse assunto recorrente em minhas reflexões, das nossas conversas daquele tempo, do final da adolescência, das expectativas com relação ao que viria e de como tudo se resolveria, sobre os caminhos que percorreríamos a partir de decisões que estávamos começando a ter de tomar e que – pensávamos – seriam definitivas. Ainda não tínhamos a noção clara de que nenhuma decisão tomada aos dezesseis ou dezoito anos, ou mesmo mais tarde é, de verdade, definitiva.

 

Sempre há a possibilidade de mudar de ideia, de repensar, de refazer caminhos, de corrigir o rumo das coisas. Por isso, devemos aprender cedo, não é prudente queimar pontes ou fechar portas, porque o mundo é – clichê, eu sei – dinâmico. Tudo muda o tempo todo, no mundo, já cantou Lulu Santos.

 

Pois conversávamos nós, os três amigos, sobre o presente, nos atualizando nas vidas uns dos outros. E a idade em comum traz desafios parecidos que são vividos por todos em algum momento, doença, atenção e cuidado que nos foram dispensados e agora dispensamos para os que nos são queridos. Os filhos que crescem e tem seus desafios próprios e que só podemos ser portos seguros para eles. Houve um momento que se falou de aposentadoria e o que fazer depois, e a lembrança de que não se pode esperar para viver. 

 

Não falei no momento, mas senti o enorme peso do tempo sobre nós, e lembrei de quando conversávamos sobre a menina certa que um dia iria conhecer e, que – agora – quase quarenta anos depois, começamos a falar sobre o fim, sobre o encerramento de fases, e sobre a finitude da vida, mesmo que não tenhamos nos dado conta na hora.

 

É preciso saber viver.

Até. 

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