Dizem que foi Benjamin Franklin quem disse que "Early to bed and early to rise, makes a man healthy and wise" (dormir e acordar cedo faz o homem saudável e sábio), que é mais ou menos semelhante ao "Deus ajuda a quem cedo madruga". A mensagem sempre foi essa: acordar cedo é melhor. Bom, parece que não tem nada a ver.
Hoje de manhã, como não teria atendimento no Centro de Asma - meu supervisor está viajando para dar uma aula -, pude assistir ao Grand Round da medicina interna no Toronto General Hospital. O assunto, novas perspectivas em pesquisa em cardiologia. Mas o que "acordar cedo" tem a ver com isso?
Não, não foi porque pude dormir mais, até porque não pude.
As novas perspectivas de pesquisa a que a palestra se referia tinha relação também com sono. E foi muito interessante. Falou-se sobre um conceito que é velho conhecido dos médicos, o ritmo circadiano. O que quer dizer isso?
Existem funções no nosso organismo que funcionam como se fossem reguladas por um relógio. Determinados hormônios são liberados mais pela manhã, nossa pressão arterial é maior logo cedo, etc. Mesmo a função pulmonar é menor no final da noite e começo da manhã, por isso as crises são mais freqüentes nestes horários. Assim como acontecem mais infartos de manhã. Mesmo o sono respeita um ciclo assim: tem um pico por volta das duas da manhã e outro, não tão intenso, mais ou menos às duas da tarde, o que é uma justificativa mais do que razoável para as "sestas" e para todas as vezes que eu peguei no sono nas aulas de patologia às 13h30...
Bom, as pesquisas mostram que o coração é um órgão geneticamente diferente durante o dia comparado com a noite. Responde a medicações de forma diferente, tudo. Isso tem muitas implicações da prática médica, mas não vou me extender na parte técnica, afinal este é um blog leigo... (mas quem quiser saber mais detalhes,só me escrever.,,).
Que coisa.
Fiquei pensando nas possibilidades literárias de termos um coração de dia diferente do da noite. Se é assim, o problema não seria de dupla personalidade, mas de corações diferentes. Amaríamos duas pessoas, uma de dia e outra de noite? Seria então, uma questão de genética, e não de - sei lá - caráter, ou cultural, ter duas famílias? Será que alguns planos que fazemos à noite e que pela manhã parecem ruins, só o são porque quem está avaliando é outro coração, outra pessoa?
Que coisa.
E o Benjamin Franklin? Bom, fizeram um estudo para testar se a teoria dele sobre dormir e acordar cedo estava certa. Não está, foi provado. O importante é dormir mesmo.
Mas não pode ser pouco nem muito. Estudos mostraram que quem dorme menos de seis horas ou mais de nove horas por noite tem mais doenças e vive menos do que quem dorme entre sete e oito horas.
Boa noite.