quarta-feira, outubro 06, 2004

Stress (2)

Como eu dizia, segunda foi um dia tenso. Eu queria ir ao Brasil para o aniversário da Jacque e – aproveitando que estaria lá mesmo – cortar o cabelo.

Você pode estar se perguntando “Que cabelo?”, e eu digo, vá procurar sua turma, palhaço... Mas o fato é que cortar o cabelo havia se tornado numa fonte de stress para mim, por algumas peculiaridades que lhes conto agora. Primeiro, porque não há muitas opções de cortes para o meu tipo e quantidade de cabelos. O que seria uma facilidade, pode se tornar um problema. Eu não gosto de volume nas laterais da cabeça, naquela parte acima da orelha, e também não gosto que o corte fique arredondado, dando um aspecto de cotonete ao todo… É um corte quase militar, na verdade.

Enquanto em Porto Alegre, nada disso era problema, afinal eu cortava o cabelo há dez anos no mesmo lugar, com a mesma pessoa. Tranqüilo, já nem precisava falar nada, só concordava que era para fazer o mesmo de sempre. A não ser na vez que cortei tudo, era sempre “o de sempre”. Nestes dez anos, na única vez em que tive que cortar em outro lugar, ouvi a última coisa que alguém que está cortando o cabelo quer ou deve ouvir: “Agora é tarde…”.

Já há quase dois meses em Toronto, ainda não havia tido coragem de cortá-lo, com medo do que poderiam fazer. Lembrem-se, a pessoa é o seu cabelo. O cabelo também é o nosso cartão de visitas. Pois é, dois meses sem cortar, o cabelo crescendo e eu parecendo cada vez mais careca (num dos paradoxos da existência), tinha que fazer alguma coisa: cortá-lo.

Que momento mais apropriado para fazer isso que numa ida à Porto Alegre?

Pois é, estava cheio de razões – e das boas – para viajar.

Mas a contra-revolução foi mais forte, e me conveceram a não cometer esta loucura. E o meu cabelo, que quanto mais crescia, caía?

O jeito era tomar uma atitude. E foi o que eu fiz, resoluto.

As opções que eu tinha eram comprar uma máquina e cortar eu mesmo, procurar um cabelereiro ou – como homem que sou – ir a um barbeiro. Decidi pela última alternativa. Com uma indicação de um colega, próximo ao hospital, fui num barbeiro. Italiano.

Joe, mais ou menos sessenta anos, o barbeiro arquetípico. Pense num barbeiro italiano: esse é o Joe. Só faltou cantar o Barbeiro de Sevilha (mas aí teria que ser o Pernalonga, lembram do desenho? Um clássico).

Conversamos durante o corte. Eu falava de lugares na Itália e ele me perguntava sobre o Brasil. Inglês com forte sotaque italiano, e eu com o meu sotaque latino. Dei instruções, sugeri que cortasse mais aqui, ali, inclusive sugeri que passasse a máquina nos lados… Estava esperando que ele me entregasse a tesoura e dissesse que eu devia ser melhor barbeiro do ele, ou me expulsasse dali aos gritos de “Cáspita!”, ou pegasse a navalha e cortasse minha garganta para que eu parasse de falar...

Mas foi tudo bem. Mês que vem eu volto, menos estressado.

Ou vou à Porto Alegre.