sábado, fevereiro 25, 2006

Ainda o carnaval*

Lamartine Babo. Esse é (ou, melhor, foi) o cara.

Lamartine de Azeredo Babo nasceu no Rio de Janeiro, no dia 10 de janeiro de 1904. Décimo segundo filho do casal Leopoldo de Azeredo Babo e D.Bernardina Gonçalves Babo, teve contato com a música desde criança, pois sua mãe e uma irmã tocavam piano e o pai era amigo, entre outros, de Ernesto Nazareth e Catulo da Paixão Cearense, que sempre freqüentavam sua casa.

Começou a compor desde cedo, e sua obra é vasta e inclui diversos estilos musicais, desde foxtrot, operetas, marcha-rancho até marchinhas de carnaval, estilo que ajudou a popularizar e até sobrepor em importância o samba, durante um certo tempo. Era um gênio, podemos dizer, e sua importância na história da música brasileira é incontestável.

No clima de carnaval, então, transcrevo para vocês uma das mais famosas marchinhas de carnaval de todos os tempos que é de sua autoria:


O Teu Cabelo Não Nega
(Lamartine Babo e Irmãos Valença)

O teu cabelo não nega mulata
Porque és mulata na cor...
Mas como a cor não pega mulata
Mulata eu quero o teu amor

Tens um sabor
Bem do Brasil
Tens a alma cor de anil
Mulata, mulatinha, meu amor
Fui nomeado
teu tenente interventor

Quem te inventou
Meu pancadão
Teve uma consagração.....
A lua te invejando fez careta
Porque mulata, tu não és deste planeta

Quando meu bem
Vieste à terra
Portugal declarou guerra
A concorrência então foi colossal
Vasco da Gama contra o batalhão naval


Mas não só as marchinhas de carnaval dele que fizeram sucesso estrondoso. Outra de suas composições, por exemplo, que foi gravada por muitos e que poucos sabem ser dele a letra (a melodia é do Ary Barroso), é a belíssima ‘No Rancho Fundo’:


No rancho fundo
Bem pra lá do fim do mundo
Onde a dor e a saudade
Contam coisas da cidade....

No rancho fundo
De olhar triste e profundo
Um moreno canta as mágoas
Tendo os olhos rasos dӇgua

Pobre moreno
Que tarde no sereno
Espera a lua no terreiro
Tendo o cigarro por companheiro
Sem um aceno
Ele pega da viola
E a lua por esmola
Vem pro quintal deste moreno

No rancho fundo
Bem pra lá do fim do mundo
Nunca mais houve alegria
Nem de noite e nem de dia

Os arvoredos
Já não contam mais segredos
Que a última palmeira
Já morreu na cordilheira

Os passarinhos
Internaram-se nos ninhos
De tão triste essa tristeza
Enche de treva a natureza

Tudo por que?
Só por causa do moreno
Que era grande, hoje é pequeno
Para uma casa de sapê



E tem gente que não gosta de música brasileira…

Até.

* Publicado originalmente em 05/02/2005

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