Primavera.
Sexta-feira passada escrevi um texto para publicar aqui. Seria mais um registro do meu Diário da Bolha, um tópico a parte dessas Crônicas de uma Pandemia. Contava um pouco da rotina por esses dias aqui dentro dessa bolha em que vivo. Falava de pessoas próximas, de como estão vivendo esse momento. Não revelava nada perturbador nem íntimo, reconhecia o privilégio que temos por estar vivendo aqui na bolha e – mais ainda – dizia estar ciente do sofrimento de muitos, doentes ou não.
Não o publiquei, contudo, e o deixei numa gaveta virtual para ler mais uma vez antes de fazê-lo. Revisar, reescrever talvez. Seria a Sopa de domingo.
Não foi.
Outro tema atropelou e se impôs como a crônica dominical. Muito melhor, muito mais leve e mais poético, sob certo prisma. Fiquei feliz.
Porque isso muitas vezes acontece: uma história se impõe, nos coloca contra a parede e praticamente nos faz publicá-la sob coerção. A literatura tem dessas, e a música também. Acima de tudo, nesse caso, a Sopa que antecipava a primavera tinha que ser assim, mais leve, que nos fizesse sorrir (e foi assim comigo enquanto a escrevia) e acreditar que o longo inverno da pandemia vai acabar.
Sempre gostei a primavera por isso.
Recomeço.
A vida renascendo, os dias mais claros, as manhãs de sábado de sol (o melhor momento da semana). O verde dos parques mais verde que nunca. As pessoas mais leves, mais sorrisos e mais cores. O ano indo para o fim, já de olho no Natal e no novo ano que virá em pleno verão.
Pandemia ou não, tudo começa a melhorar a partir de agora.
Eu acredito.
Quanto ao texto de sexta, reli e reescrevi. Li mais uma vez, e não fiquei satisfeito. Mostrei para a Jacque (nunca mostro textos a ela antes de publicar), e ela concordou comigo. Coloquei, então, ele de volta em uma gaveta virtual: a dos textos que serão esquecidos.
Não era importante.
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