quarta-feira, setembro 02, 2020

Crônicas de uma Pandemia – Cento e Setenta e Um Dias

Uma falácia.

 

Antes, contudo, uma pergunta.

 

Fracassamos, como país, no enfrentamento da pandemia de coronavírus, como vários “pensadores”, intelectuais, jornalistas e palpiteiros não se cansam de afirmar, e a culpar o governo por isso? O Brasil está passando vergonha perante o mundo? Se formos ser honestos e tivermos um mínimo de imparcialidade em nossa análise, nossa resposta só pode ser uma.

 

Não.

 

Não é verdade que somos uma vergonha perante o mundo, que fracassamos retumbantemente no assunto. Isso é uma ideia que querem nos passar pessoas com vieses políticos, com interesses outros além de informar, outros que por ignorância ou má intenção distorcem números em prol de sua narrativa, e – claro – aqueles em que o instinto do medo é maior que a racionalidade. Para esses últimos, é importante informá-los para – na medida do possível – tranquilizá-los aos menos um pouco. Para os mal-intencionados e deturpadores dos fatos, bom, esses devemos ignorar.

 

Não estou dizendo aqui, que fique bem claro, que tudo está uma maravilha, evidentemente, nem que não existem problemas e dificuldades. Que somos perfeitos, que o governo só tem acertos. É claro que há problemas, principalmente de comunicação, mas esse não é o foco no momento.

 

Mas não estamos no fundo do poço.

 

Vamos detalhar um pouco do que quero dizer.

 

Morreram no Brasil mais de cento e vinte mil pessoas cujas mortes foram atribuídas à COVID-19. É certo que nem todas essas mortes foram devido ao coronavírus, muitas foram por outras causas em pacientes que estavam com o coronavírus. Muitas delas iriam ocorrer de qualquer maneira esse ano por outras causas. Mas isso não é importante agora. Qualquer morte evitável é sempre uma tragédia. E cento e vinte mil mortes são cento e vinte mil tragédias, nem todas evitáveis.

 

Mas usar o número total de mortes para atestar a incompetência do governo central, culpar o presidente atual por essas mortes é, além de incorreto, desonesto. Usar o número total é uma forma de aumentar o impacto que a informação causa em quem a recebe para reforçar o argumento negativo. De novo, qualquer morte é uma tragédia, mas temos que olhar a mortalidade em relação à população, para aí sim comparar com outros lugares. E a melhor (e mais correta) forma de fazer isso é comparar a mortalidade por milhão de habitantes. 

 

E aí é quando os números mudam de aspecto.

 

Quando falamos em mortalidade por milhão, outros países que já passaram pelo pior da pandemia – porque começou antes nesses locais – tiveram índices muito piores que o Brasil. Bélgica, Estados Unidos, Espanha, Itália, Reino Unido, Suécia, Chile e Peru, entre outros, apresentaram em algum momento uma taxa bem maior que o Brasil jamais teve. Mas isso ninguém fala, claro, porque contraria a narrativa. Não estou dizendo que as coisas estão muito bem no Brasil, mas temos que ter o cuidado de olhar as informações de maneira mais atenta. 

 

Não só isso, outras situações relacionadas e não relacionadas à pandemia nos são passadas com vieses (com distorções), e é nosso papel recebê-las com atenção, analisá-las com cautela, para não embarcarmos no expresso do fim do mundo.

 

Outra hora falo mais sobre isso.


Até 

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