domingo, junho 30, 2024

A Sopa

O meu livro.

Ainda sobre o fato de eu ter, depois de vinte anos escrevendo no blog ‘A Sopa no Exílio’, conseguido transformá-lo em livro. Imagino que seja natural, mas nos últimos dias (meses) tenho estado envolvido no processo da sua publicação, e estado menos focado em escrever. Poderia dizer que a fase é de colher os frutos desse trabalho, e até é um pouco disso, mas também existem outros fatores envolvidos.

 

Cresceu a pressão sobre mim. Vinda de onde? De mim mesmo, claro. Estou me cobrando mais porque agora eu sei que as pessoas vão ler. Elas compram o livro e o leem. É pessoal. Eu conheço aqueles que estão comprando e lendo, não é apenas um texto colocado em um site (ou blog, para ser mais preciso) para quem se interessar ler, de maneira impessoal.  Parece que a responsabilidade aumentou. 

 

E não era isso que eu queria?

 

Definitivamente, sim. 

 

Mais um dos desejos, sonhos até, que eu tinha era esse mesmo, ser um autor publicado, fazer sessões de autógrafos (quinta-feira tem sessão, na AMHSL/PUCRS, 18h), autografar na Feira do Livro de Porto Alegre (em novembro, em novembro). E não para aqui. Tenho material para outro(s) livro(s), para o(s) próximo(s) ano(s). Entre outras atividades em que estou envolvido, tanto na medicina quanto fora dela. O dilema agora é voltar a produzir material inédito. Para publicar aqui, mas também para os próximos projetos. 

 

Que existem e são vários.

 

Aí lembro do amigo Daniel Wildt, a quem admiro muito, que fala de projetos paralelos, e de como organiza e coloca energias diferentes em momentos diferentes em projetos diferentes, e que estabeleceu a rotina e disciplina de escrever diariamente, o que estou tentando fazer também, conciliando com as outras atividades, intelectuais e não. Organizando a minha rotina, abrindo espaço para novas demandas que surgem e que crio.


Até.

 

 

sábado, junho 29, 2024

Sábado (e quarta-feira foi lindo...)

Encerramento do show, agradecimento ao público
 

Show de temporada Beatles da School of Rock Benjamin POA.
Foi muito legal.

Que momento, que momento!

Bom sábado a todos.

Até.

sexta-feira, junho 28, 2024

Mais Correto

A vida parece e, de certa forma, é complicada, todos sabemos.

 

Mas não muito, e isso não importa agora.

 

As pessoas (nós) têm a tendência (natural?) à simplificação na hora de entender o mundo, de entender os fatos e consequências associados. Tende-se, de maneira maniqueísta, dividir tudo nas dualidades habituais, bom e mau, preto e branco, vermelho e azul e chimangos e maragatos (específico aqui do Sul do mundo). Quando pensamos bem, na maioria das vezes, não funciona assim. Há nuances, sombras, outras cores intermediárias. Dizem, inclusive, que a virtude está no meio termo, nunca nos extremos.

 

E o certo e o errado?

 

São conceitos variáveis? Existem aquelas verdades absolutas, inquestionáveis? Em tempos de questionamentos múltiplos, em que inclusive a biologia é muitas vezes questionada e contrariada, existem aqueles conceitos indiscutíveis?

 

Pensei isso quando recentemente, ao ouvir uma conversa que ocorria no mesmo ambiente em que eu estava em que disseram que alguém havia dito que determinada informação (ou conceito) era ‘mais correta’ do que outra. Imediatamente questionei: existe algo mais correto do que outro, ou – na verdade - algo é correto ou não é? E isso levou as outros conceitos e outras ideias (ou uma ideia e um conceito semântico).

 

Ser familiar de médico não é fator de risco para pior evolução de doenças ou para quadros mais estranhos ou difíceis, assim com uma doença nunca é severa. O correto é doença grave, não severa. Da mesma forma que não existe “princípio de pneumonia” (ou é pneumonia ou não é) e alguém estar “mais ou menos grávida” (ou está grávida ou não está).

 

E você, acha que o conceito de certo e errado é fluido, dinâmico?

 

Até.

  

quinta-feira, junho 27, 2024

Vinte Anos

Como quase todos que me conhecem agora sabem, neste mês de junho de 2024 esse blog completa 20 anos (!) de existência. Surgiu em – façamos as contas – 2004, cerca de dois meses antes de ir viajar para ficar dois anos no Canadá, fazendo um fellow na University of Toronto que viria a ser o meu pós-doutorado. Foi a transição de um semanário que eu enviava a alguns “assinantes” e que havia começado devido à minha vontade/necessidade de escrever. Se chamava ‘A Sopa’, referência à Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, uma outra história. 

 

Alguns meses antes de me mudar temporariamente para Toronto, então, eu criei o blog, com dois objetivos básicos. Seria uma forma de continuar escrevendo regularmente e, também, uma maneira de me comunicar com o Brasil, dar notícias minhas a quem tivesse o interesse em saber. O exílio da Sopa seria o meu tempo de Canadá. Durante o tempo em que estive lá, consegui ter a disciplina da escrita diária. Contribuiu para isso, evidentemente, o fato de estar lá basicamente para estudar / trabalhar, e morando sozinho.  

 

Após a volta ao Brasil, em 2006, o momento foi de recomeçar a vida profissional e focar o no trabalho. Com isso, a escrita (e o blog) ficaram meio de lado, com alguns “surtos de escrita”, como as histórias de viagem e durante a pandemia, naquele período em que o movimento do consultório caiu muito, e não havia interações sociais.  Desde então, tenho procurado manter uma regularidade mínima de escritos, com maior ou menor sucesso. Ao longo de todo esse tempo, porém, permaneceu mais ou menos “no ar” o desejo que eu tinha de publicar um livro, sair do digital e ter uma evidência “física” de que sou um escritor. Em dezembro do ano passado decidi que esse ano seria o ano em que publicaria o meu primeiro livro.

 

Era chegada a hora.

 

Criei cronograma de trabalho bem conservador para o ‘projeto livro’. 

 

Iniciei o ano fazendo uma primeira seleção de crônicas e contos que potencialmente entrariam no livro. Meu plano era fazer – durante os meses de janeiro e fevereiro – essa seleção, e, também, a revisão dos textos e reescrita daqueles que pedissem ajustes. Eliminaria aqueles datados, os que eu considerasse inadequados ou fracos, e aqueles que não tivessem mais sentido em 2024.

 

Seguiria com mais uma revisão em março (planejava imprimir os textos para revisá-los e rabiscá-los se necessário) e apenas depois disso, já em abril, passaria a estudar a forma de publicação. Se faria com editora, se financiaria eu mesmo a publicação ou faria um financiamento coletivo. Imaginava um lento processo.

 

Não foi.

 

Selecionei o material (para até três livros, na verdade), organizei, reescrevi o que precisava e, no início de março estava pronto para iniciar a busca pela publicação. Busca essa que durou pouco mais de vinte e quatro horas. Enviei e-mail para uma editora que haviam me recomendado (Ed. Bestiário) e logo me responderam positivamente com relação a publicar meu livro. Confesso que levei um tempo para acreditar que estava acontecendo.

 

O livro ‘A Sopa no Exílio’ foi lançado no início desse mês de junho de 2024, quase no mesmo dia em que o blog havia sido lançado, em 2004. Quando me perguntaram como a publicação do livro, respondo que foi rápido.

 

Vinte anos de preparação (ou para tomar coragem de colocar a cara à tapa...).  

 

Até. 

quarta-feira, junho 26, 2024

Ontem e Hoje

 O passado, e mais uma vez e como sempre falo de mim, está sempre tentando uma forma diferente de estar presente. Não com a intenção de se viver novamente, de voltar no tempo, mas de não ser esquecido. O que pode ser bom ou não.

 

Definitivamente há certos acontecimentos/pessoas que eu gostaria de esquecer, mas não consigo. E, mesmo que seja de tempos em tempos, retornam a martelar minha cabeça, trazendo de volta sensações que eu não pretendia mais sentir, ao menos não relacionadas ao fato ocorrido, se é que me entendem. Reviver situações traumáticas, independente da intensidade do trauma, nunca é bom.

 

Por outro lado, e sigo nessa tendência dessa semana, reencontrar pessoas, relembrar de histórias das quais guardamos boas lembranças, é sempre muito legal.  Não sei nem se o termo ‘reconectar’ é o mais adequado, mas é o único que me vem agora, e não deixa de ser isso mesmo, reencontrar as conexões que foram criadas em passado mais ou menos distante e que podem ser restabelecidas. Ou não, devo sempre reforçar. Talvez não tenha mais a ver, talvez não faça sentido, e está tudo bem. Encontrar pessoas que foram importantes no passado é – sim – como olhar no espelho e ver quem éramos à época e quem somos agora. Exercício interessante esse, de comparar quem fui com quem sou.

 

Eu gosto, até porque gosto de quem sou e onde estou.

 

O que é o mínimo que espero de mim.

 

Até.

terça-feira, junho 25, 2024

F.O.M.O

Assim com a Síndrome do Impostor, que antes de conhecê-la por esse nome eu chamava Síndrome do Lutador de Boxe (a sensação de estar encurralado no corner de um ringue de luta numa luta imaginária sem nenhum adversário), o F.O.M.O (Fear Of Missing Out), medo de estar perdendo algo, informação, eventos ou experiências, é também um sentimento conhecido ainda antes de saber que tinha um nome, ou uma sigla. Um diagnóstico, na verdade.

 

Existem várias camadas de diferentes profundidades em que esse medo se manifesta, mas vejo principalmente – no meu caso, no meu caso - como o medo de não fazer parte, não pertencer.  Esse sempre foi um tema central na minha relação com o mundo, com as pessoas: eu preciso me sentir pertencendo a lugares e/ou grupos. Caso contrário, o sentimento de inadequação aparece.

 

Quanto mais passa o tempo, menos intenso é esse sentimento. Ou porque não importo mais com o tema, ou – mais provável - porque vou deixando de frequentar lugares e pessoas em que não me sinto parte do todo. Um exemplo bem básico desse sentimento, do F.O.M.O, é que há situações as quais não tenho interesse em participar, mas ainda me incomodo com o fato de não ser convidado. Nem que fosse para eu dizer não, obrigado.

 

É bobo, eu sei, mas ainda é um sentimento que existe, e que trabalho para superar, basicamente com o uso da razão.

 

Seguimos tentando...

 

Até.

segunda-feira, junho 24, 2024

Pequeno mundo

Como diz a música, o mundo é maior do que teu quarto. Porto Alegre, contudo, é bem pequena. Se pesquisarmos um pouco, estamos todos conectados por aqui, de alguma forma. E descobrimos isso quase sempre por acaso, o que torna ainda mais fascinante.

 

Conhecemos pessoas que conhecem pessoas que conhecem pessoas que estão ou estiveram ligadas a nós, em um círculo que se completa, em pontos que se conectam, basta procurarmos essas ligações, ou – ainda mais legal – quando menos esperamos elas aparecem.

 

Basta ouvir o que as pessoas têm a dizer.

 

É o que cada vez mais procuro fazer.

 

Até.

 

domingo, junho 23, 2024

A Sopa

Domingo.

Choveu muito à noite, a ponto de acordar e fazer uma ronda pela casa em busca de possíveis janelas abertas, e de avaliar se o sentido do vento e da chuva era em uma direção em que se fizessem necessárias medidas para que não entrasse água na casa. Não eram. Acabou que dormimos um pouco mais, mas não muito, afinal o dia será longo principalmente para a Marina, que tem apresentação hoje à noite, e vai passar o dia no teatro nos preparativos e ensaios finais. 

A semana que se inicia será intensa, também.

 

Além da rotina de trabalho habitual, de consultório e hospital, o plano é colocar em prática uma nova rotina (novos horários) de atividade física, já que a anterior, de cedo da manhã, não tem sido possível. Surgiu, em virtude das inundações de maio e seus efeitos em um dos hospitais em que trabalho, um período livre na minha segunda-feira ao qual vou utilizar para atividade física. Ou, no mínimo, tentar criar um hábito.

 

Aprendi, ao longo do tempo, com relação à atividade física, que estabelecer regularidade e rotina, criar (será esse mesmo o termo mais correto?) disciplina, é um trabalho de paciência, que requer tempo. Por outro lado, o inverso é verdadeiro. Acostumar-se a não fazer é muito fácil, de verdade. Retomar a constância é outro desafio. O problema, no fundo, é pensar.

 

Se, por um instante, pensarmos, não fazemos.

 

Vinha sendo assim há quase cinco anos consecutivos, que é o tempo em que voltei a fazer atividade física regularmente. Eu nunca colocava o relógio para despertar: acordava espontaneamente às 6h ou um pouco antes e, sem pensar, sem nenhum vacilo, levantava da cama e ia me preparar para ir para a academia. Durante a pandemia, quando foi liberada a abertura das academias (e antes mesmo meio clandestinamente, com ela fechada, com poucos alunos por vez com horário marcado) cheguei a frequentá-la cinco vezes por semana, de segunda à sexta-feira, porque no sábado e no domingo eu pedalava. Era quase mecânico, eu acordava e ia. Quando pensei, vacilei. Diminui o número de dias por semana em que tenho conseguido ir, e atualmente está abaixo do mínimo desejado, mas o plano é mudar a partir de amanhã.

 

Mas eu falava da semana intensa.

 

Quarta-feira é dia de show.

 

Tem show de temporada (Beatles!) no Sgt. Peppers Pub.

 

A partir das 19h.   

 

Vai ser bem legal.

 

Até.

 

sábado, junho 22, 2024

Sábado (e uma viagem no final de abril)

 

Nashville Tourist Information Center


"Music is the Universal Language.
There's no better place to experience music than Nashville,
a city of storytellers and dreamers, 
where all are welcome with an authentic, friendly, creative, spirit.
Come discover all the city has to offer and write your own Music City story."


Bom sábado a todos.

Até.

sexta-feira, junho 21, 2024

Sobre as Escolhas e as Comparações

Alguns de nós possuem a chance de escolher.

 

Onde viver, como e com quem viver. O que fazer de suas (nossas) vidas. Outros, por outro lado, precisam sobreviver, e – para esses – não há a opção: fazem o que for necessário, fundamental, para se manter. E isso ocorre pelas mais diferentes razões, e que não importam agora.

 

E esse privilégio, o de poder escolher, é obtido de formas variadas. Desde “herdada”, até conquistada pelo esforço e dedicação. Acima de tudo, ela é uma consequência de escolhas que fazemos ao logo do tempo. Aliás, cada decisão que tomamos tem consequências que se perpetuam no tempo e no espaço, e geram outras que geram outras e assim por diante, infinitamente. 

 

Por isso que a trajetória de vida de cada um é individual, única.

 

E é também por isso que comparar-se a outros é perda de tempo e fato gerador de angústia, tensão até depressão. A única comparação que devemos fazer é entre quem éramos antes e quem somos agora, que será comparada com quem seremos no futuro.

 

Até.

quinta-feira, junho 20, 2024

Be curious, not judgmental.

Um esforço que tenho feito ao longo do tempo é o de tentar me importar cada vez menos com o que os outros pensam de mim. Confesso que não é fácil, mas deveria ser, não? E não vale apenas para mim, deveria ser algo geral.

 

Gosto muito da expressão “Walk a mile in my shoes”, que é derivada da expressão completa ‘Before you judge a man, walk a mile in his shoes’. Ou seja, antes de julgar (e criticar) alguém é importante entender o contexto. Sempre há uma estória por trás da estória que está por trás da estória e assim por diante. Há de se ter empatia. É o que procuro desenvolver na vida. 

 

Be curious, not judgmental

 

(citação retirada da ótima série Ted Lasso, que sugiro a todos assistirem)

 

Até.

quarta-feira, junho 19, 2024

Curiosidade

Os papeis que representamos na vida. 

Todos nós, invariavelmente, ao longo da vida, temos, vivemos e representamos diferentes papeis, somos diferentes personagens nos diferentes ambientes em que navegamos. Mesmo que sejamos (ou tentemos ser) os mesmos em todos os momentos, o que muda é qual o aspecto de quem somos está em evidência nesses diferentes ambientes em que circulamos.

 

Me interessa saber, quase como curiosidade científica, como as pessoas me veem enquanto “represento” esses diferentes papeis.

 

E você, já pensou nisso?


Até.

terça-feira, junho 18, 2024

Terça-feira

Recorrentemente, penso que seria útil ter alguns dias em que eu não tivesse nenhum compromisso externo e pudesse ficar em casa, entre minhas coisas, para organizá-las. A tendência dos dias corridos é acumular papéis e cartões, artigos e livros a serem lidos, que vão ficando e se avolumando, e são deixados para um futuro incerto. E, de tempos em tempos, começo uma limpeza que nunca se completa porque os afazeres da rotina não permitem, ou porque me deixo levar por atividades não produtivas não relacionadas, ou mesmo por lembranças despertadas pelo que encontro entre esses guardados... 

 

E lembro, então, da música que diz:

 

“Eu hoje joguei tanta coisa fora

Eu vi o meu passado passar por mim

Cartas e fotografia, gente que foi embora

A casa fica bem melhor assim

 

Lá fora, o sol não aparece porque não é uma manhã de sábado.


Até. 

segunda-feira, junho 17, 2024

Memória Afetiva

Será que ando à flor da pele?

Não, beijos de novela não me fazem chorar.

Por outro lado, provavelmente seja pela passagem do tempo, ou porque talvez eu viva dias em que as coisas da vida, os pequenos aspectos da rotina, ou mesmo as banalidades do mundo, estejam me emocionando, mas percebi que já há algum tempo ir a lugares, ou mesmo fazer caminhos que antes eu frequentava ou percorria rotineiramente e não faço mais, tem causado episódios de – posso dizer – genuína alegria. É como reencontrar velhos amigos (o que também me causa esse efeito, obviamente).

 

Há alguns meses, fui à formatura do meu sobrinho e afilhado não oficial Gabriel no Salão de Atos da Reitoria da UFRGS. Além do momento feliz de vê-lo nesse momento de conquista e celebração, circular por ali me fez reviver a última vez em que lembrava ter estado ali, quando da minha formatura no Curso Técnico de Operador de Computador, que depois passou e se chamar Processamento de Dados, pela Escola Técnica de Comércio da UFRGS, em dezembro de 1988. Lembrei de show que assisti ali, de detalhes dessa época, e ainda antes, ao circular pelo Campus Central, a sala Qorpo Santo, a PROUNI (acha que era esse o nome) onde fazíamos as identificações de alunos da UFRGS para podermos frequentar a Colônia de Férias da UFRGS em Tramandaí, onde fomos algumas vezes fora de temporada, com ela vazia, e as histórias passadas por lá. Assim como o efeito de algumas músicas, chamadas transportadoras porque despertam memória e nos fazem ‘voltar no tempo’, a ida ao Campus da UFGRS me trouxe muitas memórias. 

 

E esse efeito tem acontecido também quando circulo de carro por Porto Alegre, por caminhos, como falei, que já não estão na minha rotina. É uma sensação reconfortante, de familiaridade, sei lá.

 

Sem falar com relação às pessoas, mas é assunto para outro dia.

domingo, junho 16, 2024

A Sopa

Tudo isso (4).

 

A maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, quiçá do Brasil, ocorrera enquanto estávamos, a Jacque e eu, fora do país, em uma convenção nos Estados Unidos. Com o aeroporto de Porto Alegre fechado por tempo indeterminado, nosso voo de volta cancelado, conseguimos nos reorganizar e voltar o Brasil e chegar via aérea até o ponto mais próximo de casa, Florianópolis, onde dormimos uma noite antes de pegar o carro alugado com o qual conseguimos chegar em casa.

 

A entrada em Porto Alegre, no final do dia de 09/05, foi pela zona norte da cidade, a partir da vizinha Alvorada. O caminho foi pelas avenidas Baltazar de Oliveira Garcia, Assis Brasil, Plínio Brasil Milano, Vinte e Quatro de Outubro, até a Ramiro Barcelos, Gonçalo de Carvalho até em casa. Por todo o trajeto, o que chamava a atenção era a ausência de sinais das inundações, por estarmos em áreas que eram ou altas e ou longe (mas não muito) de onde a água chegara. 

 

O alívio de chegar em casa e encontrar a Marina e minha mãe bem. Ainda com água em horários determinados devido ao racionamento estabelecido no prédio no início da situação, assim que saíram as notícias de que as bombas de captação de água haviam ficado fora de ação. Descarregamos o carro, minha mãe se despediu de nós e voltou para casa, onde tinha água e luz. Nós, sem ter como tomar banho em casa, iniciamos uma sequência que seria de doze (!) dias tomando banho na casa de familiares (mãe, sogros, cunhada). Um mínimo inconveniente perto do que milhares haviam sofrido.

 

Ainda antes de encerrar o dia, sabendo que a devolução do carro seria complicada, pois teria que entregá-lo em Gravataí, região metropolitana de Porto Alegre, naquele momento pela única saída de Porto Alegre. Isso porque as lojas da locadora na cidade ou estavam alagadas ou não tinham funcionários. Mais do que isso, teria que voltar de lá após devolver o carro. Missão quase impossível. Transporte público não estava funcionando, minha opção era o Uber, ou que alguém me ajudasse, dando carona.

 

Eu tinha certeza de que se eu pedisse para alguns amigos em especial, eles me ajudariam sem nenhum problema, na parceria, assim como se me pedissem eu faria o mesmo por eles. E que realmente eu poderia pedir, porque nossa amizade é para tal. Mas não me senti confortável para isso, o que não quer dizer que não pedi ajuda: enviei mensagem em um grupo de WhatsApp pedindo sugestões de como retornar à Porto Alegre após a entrega do carro, ou se achavam que minha única opção era mesmo o Uber. Imaginava que alguém poderia se oferecer para ajudar. Eu estava certo, e quem se ofereceu foi um dos que eu tinha certeza de que faria (valeu, Robert!).

 

Sexta-feira de manhã, dez de maio de dois mil e vinte e quatro.

 

Fui até a casa dele, e às 7h30 saímos em comboio em direção ao local de devolução do carro. O tempo estimado no momento da saída era de duas horas até o destino, que normalmente levaria trinta minutos.  Um tempo excessivo para um trajeto tão curto, mas era uma situação excepcional.

 

Mal sabia eu o quê me (nos) esperava.

 

O trajeto que deveria ser percorrido sairia de Porto Alegre pelas avenidas Assis Brasil e Baltazar de Oliveira Garcia, e então atravessando a cidade de Alvorada, acessando a ERS-118, e aí até Gravataí. Trânsito intenso, percorremos relativamente bem a saída de Porto Alegre e a maior parte do trecho por Alvorada, até quando faltavam cerca de dois quilômetros para o acesso à rodovia ERS-118. Foi nesse momento em que tudo parou. E começou a chover.

 

Ali, a não mais que dez quilômetros do nosso destino, ficamos parados no engarrafamento. Não, era mais que um simples engarrafamento. Era um cenário de filme catástrofe, o trânsito parado e ao mesmo tempo com viaturas policiais, ambulâncias, bombeiros, carros de resgate com barcos a reboque, todos passando por nós, indo e vindo, enquanto assistíamos aquela cena embretados, sem pode nos movimentar.  E sem sinal de celular, apenas o rádio do carro com notícias da tragédia que se abatia sobre o estado.

 

E assim ficamos, parados.

 

Foram (quase) inacreditáveis QUATRO horas até chegar ao destino e devolver o carro antes de começar o retorno à Porto Alegre. Quatro horas entre sairmos e chegarmos na agência da Localiza em Gravataí. E eu todo o tempo lamentando ter colocado o meu amigo naquela fria. Ao chegar e descermos do carro, disse ao Robert que lamentava a roubada em que eu o havia metido, no que me respondeu que sabia que seria assim, e que eu não conseguiria voltar, e por isso se ofereceu para ajudar.

 

Coisa de irmão.

 

É bom contar com os amigos!

 

Até. 

sábado, junho 15, 2024

Sábado (e Eu, escritor)

Autografando 'A Sopa no Exílio', o livro
 

E o blog virou livro depois de 20 anos
Que momento, que momento.

Bom sábado a todos.

Até.

domingo, junho 09, 2024

A Sopa

Tudo isso (3). 


Chegamos em Miami terça-feira à tarde, cerca de 16 horas antes do voo que nos levaria até Guarulhos e depois Florianópolis, de onde sairíamos na quinta-feira de manhã em um carro alugado rumo ao sul, rumo à Porto Alegre, que vivia situação de calamidade pública devido às inundações decorrentes de uma série de circunstâncias que – como em um acidente aéreo – ocorreram simultaneamente ou em sequência para que o desastre ocorresse. Chuvas MUITO acima da média, elevações dos rios que desaguam no Guaíba, falta de manutenção dos sistemas de prevenção às enchentes ao longo de muitos anos, falhas nas bombas de drenagem pelas cidades, entre outros.

 

Nós, a salvo disso, em outro hemisfério, acompanhávamos angustiados os acontecimentos, com a sensação de impotência de quem está longe dos familiares, das pessoas e dos lugares que nos são caros e que estariam sendo afetados. Uma irracional, mas inevitável, culpa.

 

Retornamos o carro na locadora e voltamos caminhando para o hotel, que ficava realmente ao lado do aeroporto, em Miami. A viagem havia acabado, agora só esperávamos a hora de iniciar a volta. Pedimos uma pizza no quarto mesmo, que comemos com um vinho enquanto arrumávamos nossas coisas e acompanhávamos as notícias pela televisão.

 

O voo Miami – São Paulo, que saiu às 11h da quarta-feira, estava com muitos lugares vagos, e conseguimos ficar em assentos de saída de emergência. Vou diurno tranquilo. Pousamos em GRU com pouco mais de duas horas de tempo de conexão, que deveria ser tempo suficiente, mas não seria tão simples como esperado.

 

Primeiro, o desembarque - remoto, maldição! – demorou bem mais tempo do que o previsto. Segundo, as malas nos atrasaram um pouco mais, aumentando a angústia. Antes, ainda, enquanto estávamos embarcados no ônibus que nos levaria até o desembarque, uma senhora de idade indefinida (para mim, para mim), puxou assunto e, quando soube que iríamos para Florianópolis, pediu para ficar junto conosco para “não se perder”. Tudo certo.

 

Seguimos juntos no desembarque, a esperamos retirar sua bagagem e fomos passar pela alfândega. Nesses trajetos, conversando com a Jacque, ele havia contado que era “terapeuta”, mas não diplomada, que era “sensitiva” e que viajava o mundo para atender pacientes. Eu apenas ouvia a conversa, sem participar. Já com nossas malas, ao passar pelo funcionário da alfândega, fez algum comentário que não ouvi, mas ele na hora pediu para ela passar para a revista de malas e perguntou se estávamos juntos. Ela disse que sim, no que eu disse que NÃO, o que não adiantou, fomos, a Jacque e eu, encaminhados para uma nova fila, para a revista, junto a ela.

 

A minha preocupação não era a revista, era o tempo, que passava rápido e se aproximava a hora do embarque para Florianópolis. Pior foi que, esperado que nossas malas passassem pelo raio-x, a “terapeuta” comentou que estava trazendo de volta ao Brasil vinte e dois mil dólares (!) e chegou a sugerir que a Jacque carregasse parte desse dinheiro (!!). Claro que não aceitamos...

 

Foi corrido, mas conseguimos chegar em tempo e embarcar para Florianópolis. Voo tranquilo, chegamos perto da meia-noite em nosso destino. Ainda tentei retirar o carro reservado naquela hora mesmo, mas não foi possível: teria que voltar de manhã ao aeroporto para buscá-lo. De Uber, fomos até o hotel no centro, onde dormimos.

 

Na manhã seguinte, após o café da manhã, voltei para o aeroporto onde retirei o carro. De volta até o hotel, por volta das 9h30 saímos de Florianópolis rumo ao Rio Grande do Sul. A primeira parada foi em um supermercado para comprar água para levar para casa e para quem precisasse.

 

Ainda pararíamos, no trajeto de volta, para comprar cobertores, travesseiros e outros itens para doar aos abrigos montados pelo RS. Com a sensação de atraso, começávamos na prática a ajudar pelo menos um pouco quem estava em necessidade. Entramos no RS com o carro carregado de donativos.

 

Conseguimos chegar em casa no final da quinta-feira, 09/05, dia que era aniversário do meu pai, que nasceu justamente durante a famosa enchente de 1941, e que não viveu – para o bem e para o mal – para ver Porto Alegre novamente embaixo d’água...

Tudo terminado?

 

Ainda não. Teria que devolver o carro alugado em Gravataí, pois as agências da locadora em Porto Alegre estavam sem funcionar, na manhã seguinte.

 

Começava outra epopeia.

 

Até.


sábado, junho 08, 2024

Sábado (e um momento lindo)’


Quinta-feira passada.
Lançamento do livro “A Sopa no Exílio”.
Meus amores.

Que momento, que momento. 

Até.
 

domingo, junho 02, 2024

A Sopa

Tudo isso (2). 

Saíramos de Nashville e, em um longo dia de estrada com paradas regulares para caminhar um pouco, fazer uns alongamentos, ir ao banheiro, comprar algum lanche ou abastecer, rodáramos cerca de mil de cem quilômetros até Orlando, na Flórida. Já noite, ainda antes de chegarmos, recebêramos uma mensagem da LATAM cancelando nosso voo para Porto Alegre, cujo aeroporto estava – como todos sabem – embaixo d’água. Naquele momento, não havia nada que pudéssemos fazer.

 

Chegamos em Orlando próximo às 23h e fomos direto ao hotel em que desejávamos ficar, por “razões sentimentais”: o Cabana Bay Resort, no complexo da Universal, onde ficáramos em 2017 e 2019. Chegando lá, a decepção: estava lotado. Ficaríamos duas noites, de sábado para domingo e domingo para segunda-feira, quando voltaríamos para Miami para nosso voo agora cancelado. Sem possibilidade de ficar ali, pesquisamos no Booking.com e escolhemos outro hotel, não muito longe dali, de preço em conta, o Best Western Orlando Gateway.

 

Fizemos o checkin e fomos dormir, afinal havíamos jantado uma pizza no caminho, comprada em uma pizzaria no meio do nada em uma parada que fizéramos mais cedo naquela noite. Era de descansar para o dia seguinte, ainda sem saber como voltaríamos para casa na semana que viria.

 

Domingo, em Orlando, sem termos como voltar para casa antes de terça ou quarta-feira, optamos por ir a um parque temático, e o escolhido foi o Magic Kingdom, da Disney. Acordamos relativamente cedo e fomos para o parque, onde tomamos café da manhã. Manhã de primavera, tempo bom e temperatura agradável: muitas pessoas no parque, como esperado. 

 

Sempre é bom visitar os parques da Disney, óbvio, mas essa vez teve um gosto meio amargo, principalmente porque fiquei boa parte do dia trocando mensagens com a LATAM tentando resolver a questão do nosso retorno. Aproveitamos, sim, mas fiquei em boa parte focado em responder e esperar o retorno deles. Chegou um momento em que me disseram que teria que ligar para o atendimento, o que não consegui fazer. Voltei às mensagens e, já no final da tarde, enquanto na fila para uma das atrações (Peter Pan, eu acho), recebi proposta de um voo 24h depois, mas que – ao invés de ir para GRU com conexão em Bogotá – iria direto de Miami para GRU e de lá, para Florianópolis, aonde chegaria na madrugada de quarta para quinta-feira.

 

Topamos.

 

Ao retornar para o hotel, já tarde da noite, consegui reservar um hotel em Florianópolis para quando chegássemos e um carro, que usaríamos para fazer o trecho final entre Florianópolis e Porto Alegre. Tudo resolvido. Foi dormir mais tranquilo.

 

Teríamos um dia a mais nos Estados Unidos, e decidimos ficar em Orlando. Saímos do hotel, carregamos o carro, e fomos passear. Paramos em um outlet, onde tomamos café da manhã, para comprar alguns presentes e verificar se havia alguma coisa que “valesse à pena” comprar. Não me interessei por nada, o que é uma prova de que estava realmente tenso com relação ao que acontecia no RS.

 

Após o almoço, tentamos novamente e conseguimos ficar no Cabana Bay, um lugar familiar e de boas lembranças. À noite, fomos andando até o Universal CityWalk, onde jantamos no Bubba Gump, temático do filme Forest Gump. Voltamos ao hotel porque – no dia seguinte – voltaríamos para Miami para devolver o carro e na quarta-feira pela manhã, iniciar a volta ao Brasil.

 

As coisas já estavam organizadas.

 

Era quase hora de voltar para casa.

 

Até. 

sábado, junho 01, 2024

Sábado (e é amanhã!)

 


A partir das 10h, ao vivo no You Tube e presencialmente na School of Rock Benjamin POA.

Vai ser legal, e pretendemos ajudar quantos for possível.

Abraço!