sábado, outubro 23, 2004

Sábado (8)

Sábado de manhã, já digo há tempos, é o melhor momento da semana. De sol, então, melhor ainda. Depois de muitos dias que foram insistentemente de cor cinza e muitas nuvens, agora há sol. Vamos para a rua!

Sábado também é dia de poesia...
Drummond, quem mais?


Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?


Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?


Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.


Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.


Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

3 comentários:

Anônimo disse...

Legal ! Sábado,pra mim, tb é o melhor dia. Ainda não é Domingo e ainda é fim-de-semana.
Quanto ao amar...melhor não escrever nada, sob pena de "levar um pau "!
Fica o registro!
Um abraço do Jéferson

Anônimo disse...

Outro dia recebi um email de uma amiga que dizia o seguinte: "Lu, curte a tua paixão, mas em silêncio. Não deixe que ele perceba, não demonstre muito amor. Segundo o "conselho de amiga", o siléncio é o segredo. Nada de gritar para o mundo. Nada de se revelar. É preciso o tal do jogo que eu confesso que não sei jogar.

Quando amo não sei esconder. Se esperam de mim o silêncio já digo que me recuso. O amor em mim precisa de voz e espaço. Não consigo guarda-lo numa gaveta. Não sei ser egoísta e curti-lo solitaria. Que graça teria? Um amor em silêncio é como um passarinho sem asas. Quando amo quero "viver grudada, andando pela rua aos beijos e abraços, para que todo o mundo repare". E mesmo os meus amigos mais canalhas e pessimistas terão que me dar razão. E se um dia eu cair, e se um dia eu chorar, e se um dia eu quebrar a cara... Tarde demais! Já amei, já falei e por isto vivi.

Querida amiga, lamento, mas é tarde demais! Ja falei e aqui publiquei o meu amor para que todos saibam. Para que servem os conselhos mesmo?

Um grande abraço Padrinho! Obrigada por me apresentar o meu grande amor.

Anônimo disse...

Querido e Amado Marcelinho! Esse poema do Drummond é "tudo de bom"...combina muito com a primevera (aqui nos trópicos, apesar do dia muito feioso de hoje) e com o teu sábado de sol...Mas o recado vai prá querida Lucinha: Eu tb, durante algum tempo, pensava como tua amiga e só posso dizer que talvez ela tenha tido alguma(s) desilusão(s)e não acredite no poder do amor e de se entregar...Lú,tu tá 100% certa em ser feliz, aproveitar esses momentos de plena felicidade e querer contar isso pro mundo! Essa sensação que tu estás tendo, só acontece quando tu tens certeza que essa é a pessoa que foi feita prá ficar ao teu lado e, podes ficar tranqüila que tudo vai dar muito certo!!! Só não deixa o "Freddy" resolver se mudar pro Canadá, pois daí dói demais...experiência própria..SEJAM FELIZES, MUITO! Beijos Jacque