Eu sempre tive vontade de passar férias num resort. Ou num cruzeiro.
O que todos diziam era que, para aproveitar melhor a estada num resort, deveria ir com uma turma, e cruzeiro era coisa “de velho”. Tudo bem, cruzeiro ficaria para outra vez, mas ainda sim queria ir a um resort.
A oportunidade surgiu em fevereiro de 2004. Nem íamos – a Jacque e eu – tirar férias, afinal estivéramos na Europa em outubro de 2003, mas o convite partiu de nossos mais antigos parceiros de viagem: o Paulo e a Karina. Os dois, junto com a Beta (nossa afilhada) e o Bibi (nosso sobrinho), iam tirar duas semanas de férias e iriam de carro para o litoral do Rio de Janeiro. Depois de intensas pesquisas e discussões a cerca de roteiro, nos convidaram, então, para nos encontrarmos com eles na sua segunda semana de férias em Mangaratiba, mais especificamente no Club Med Rio das Pedras, onde ficaríamos uma semana juntos lá. Como a Jacque tinha milhas Smiles, pagamos só pela estada de sete dias, tudo incluído. O único gasto que teríamos lá seria se quiséssemos consumir algo no bar entre as refeições.
O pacote era de domingo a domingo. Dessa forma, saímos de Porto Alegre num vôo bem cedo da manhã. Chegamos ao Rio de Janeiro com chuva, e imaginávamos que teríamos que esperar outros passageiros para o translado até o Club Med. Engano, tinha um carro nos esperando e só levou nós dois. Saindo do Rio, é mais cerca de uma hora e meia de carro até o Village (que é como eles chamam as várias unidades do Club Med espalhadas pelo mundo). Viagem tranqüila até lá.
Como chegamos cedo, por volta dez e meia – o check in era a partir das duas da tarde - ficamos um tempo na beira da piscina “matando tempo”, enquanto os nossos companheiros de viagem não chegavam. Ficamos ali observando o movimento, que era tipo um final de festa, afinal no domingo é que “trocam” os hóspedes, quando a maioria dos pacotes termina e novos começam.
A primeira pista de que seria uma grande semana foi quando fomos almoçar. Como estávamos fazendo um “early check in”, pagamos extra pelo almoço. Ao chegar no restaurante, quase não acreditamos. O ambiente era muito agradável, super-tropical, mesas grandes, para oito pessoas (para proporcionar integração entre os hóspedes). Mas o que chamava mais à atenção era a comida. Uma loucura! Várias ilhas com tipos diferentes de comidas, desde pizza até pratos super-elaborados, sobremesas maravilhosas, bebidas (refrigerantes, chope e vinhos). Uma grande tentação, e a associação direta: obesidade. Impossível não engordar muito com tanta comida boa junta. Engano, descobri depois.
Uma das marcas do Club Med, o seu diferencial, são os GOs (Gentis Organizadores). Os hóspedes são os GM (Gentis Membros). Quando compra-se um pacote para o resort Club Med, faz-se junto a inscrição no “clube” Med, daí a designação GM. Bom, os GOs são – digamos assim – os recreacionistas, e a sua função é fazer com que os GMs integrem-se e aproveitem ao máximo a sua estada ali, basicamente através do esporte. As crianças também têm os seus GOs e local específico para elas, o Mini-Club, e os pais podem deixá-las o dia todo no Mini-Club, só as encontrando na hora do banho e na hora de dormir, se quiserem. Férias duplas, para pais e filhos.
E o legal é entrar no espírito. As atividades – organizadas e coordenadas pelos GOs – duram o dia todo, desde tênis, vôlei de quadra e de praia, futebol, ginástica, aeróbica, vela, arco e flecha, esqui aquático, À noite, após a janta, sempre tem um show que acontece num auditório para onde vão todos os hóspedes. Depois do show, para quem quiser, ainda há a opção de ir para o nightclub. Os shows, com exceção de uma das noites, são sempre apresentados pelos GOs. E eles vão para o nightclub. E no outro dia estão cedo de pé para começarem as atividades do dia. Isso que eu nem falei dos “crazy signs”.
Evidentemente eu enlouqueci lá. Participei de todos os esportes que consegui, desde aula de tênis de manhã cedo, vôlei de praia no final da manhã, futebol de campo ou de salão de tarde, vôlei de quadra e, apesar da falta de ventos, vela num dos dias. Desde os meus dezoito anos não fazia tanta atividade física de forma tão intensa e contínua assim. Claro que uma hora ia acontecer alguma coisa. E aconteceu numa hora bem imprópria: fizeram uma competição de duatlon, natação no mar e corrida na areia. Na metade do trajeto de natação no mar (que nem era muito grande) tive cãibra nas duas pernas e não consegui ir adiante. Passei pela constrangedora situação de ser “rebocado” de volta à praia numa prancha de surfe…
Voltando ao Club Med, foi uma semana espetacular, mesmo que o tempo não tenha colaborado. Choveu em boa parte dos dias, mas isso não diminuia o ritmo de atividades nem um pouco. E tudo funcionava como se fosse uma Disneylândia. Além das atividades todas, ainda interagíamos com os GOs nos intervalos, eles almoçavam nas mesas dos hóspedes, contavam histórias. No final da semana (e é assim todos os finais de semana) a despedida sempre é triste, porque acaba parecendo uma grande família, hóspedes e GOs. Nos últimos dias, na hora das refeições, todos já são conhecidos, estamos em casa.
A vida de GO, por outro lado, não é feita só de flores. Eles passam longos períodos sem ver os familiares, só dentro do Village, os salários parecem que não são tão bons assim (claro que eles tem casa, comida e roupa lavada enquanto estão lá). Mas eles estão sempre de alto astral, com um sorriso no rosto. Nem todos são fixos. Alguns trabalham só na alta temporada, e nem sempre ficam sempre no mesmo Village. Quase todos que conhecemos lá já tinham passado por outros Villages, como o de Itaparica (o mais antigo do Brasil, com 25 anos) ou de Trancoso (o mais novo), além é claro dos do exterior.
A possibilidade de ascensão dentro da hierarquia dos GOs existe, e o grau mais alto é tornar-se Chefe de Villlage, que é quem o coordena o mesmo. Quando estávamos lá, o Chefe de Village era um marroquino, de nome Said. Grande figura! Super-simpático, conversava com os hóspedes, contava histórias. E sempre nos pagava caipirinhas, que eram o prêmio para aqueles que ganhavam os jogos que inventavam para aqueles períodos pós-almoço, do happy hour antes da janta. Bom, alguns meses depois que estivemos lá, ele foi promovido a chefe (ou corrdenador) dos dois Villages da Bahia: Itaparica e Trancoso.
Ontem fiquei sabendo que, na madrugada de sábado para domingo, houve um acidente com um táxi aéreo e no acidente morreu o “gerente dos hotéis Club Med da Ilha de Itaparica e Praia de Troncoso em Porto Seguro, Said Benaji, 33 anos”.
Ficamos bem chateados. Como disse o Paulo, “é meu, basta estar vivo…”.
Basta.
Um comentário:
Putz, que história ...
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