sexta-feira, novembro 12, 2004

Cheguei

Cheguei em Toronto. Finalmente.

E cheguei bem, podem ficar tranqüilos todos aqueles que me viram sair de Porto Alegre. Que se despediram de mim, que foram no aeroporto. Cheguei são e salvo.

Como assim? É verdade, saí do Brasil em agosto e só cheguei aqui – de verdade – agora.

Por onde andei?

No limbo.

No meu apartamento, no metrô de casa para o hospital e do hospital para casa. Na minha tese. Num lugar etéreo entre o Brasil e o Canadá, nem num lado nem em outro. Sozinho e perdido. Não vivendo lá e nem aqui. Preso por amarras que me prendiam a um lugar onde não estava mais.

Vivendo esquizofrenicamente comigo mesmo. Estando num lugar e pensando em outro, quando há pouco eu estava no outro e pensava ‘num’…

Mas eu dizia que cheguei, e é verdade. Mas não vim sozinho. Trouxe comigo toda a minha história, todos que fui antes, inteiro ou em partes, até chegar a quem sou hoje, ou era, até sair de casa. Viemos todos, e vamos ficar aqui até completar o ciclo que se iniciou bem antes de agosto, e do qual vir para cá é apenas uma parte.

O que isso tem a ver com o show do R.E.M., me pergunto.

Tudo. Foi ali que senti que havia chegado aqui de verdade. Foi uma catarse, um show tecnicamente perfeito. A banda tem postura de palco, atitude, e músicas de um lirismo tocante. Desde a entrada da banda no palco, na primeira música, sabia que valeria a pena cada centavo gasto na compra do ingresso. O show é baseado no novo CD, ‘Around the sun’, que eu tinha tomado a precaução de comprar e ouvir para conhecer as músicas.

Uma hora e meia de show e mais cinco músicas no bis. O show termina com “Man on the Moon”, numa apoteose, o público vai à loucura. Inesquecível.

O momento mais significativo, no entanto, foi quando tocaram o clássico ‘Losing my Religion’, do disco Out of Time, de 1991. O teatro quase veio abaixo. Naquele momento, voltei no tempo, aos anos 90, e – como num filme – refiz toda a trajetória que percorri desde aquele longínquo início dos anos noventa até estar morando temporariamente em Toronto, longe da família, dos amigos e da Jacque. Revi todas as decisões que tomei e que resultaram no hoje. E gostei do que vi.

Saí do show ainda sob efeito daquele transe, mas a música que eu estava cantarolando não era mais R.E.M. Era Beatles. The Long and Winding Road.

Cheguei. Estou aqui. E bem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Puxa vida!
É maravilhoso saber que tu já te sentes fazendo parte, e gostando muito do Canadá, mas, egoisticamente falando, dá uma sensação angustiante de que corro, de alguma forma, o risco de te perder para o 1º mundo...espero que tu vinda a Porto Alegre reacenda a velha paixão pela nossa terrinha...
Só para constar, tu foste no Show excelente do REM, mas eu acabo de chegar da Feira do Livro, passeio de graça e com aqueles estonteantes jacarandás floridos da praça da alfândega..mora de inveja... Te amo! Jacquinha